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28/03/2003
-
03h15
colunista da Folha
"Durval Discos" é um filme corajoso e original. A perplexidade que tem causado no público dos festivais e pré-estréias em que foi exibido é fruto de uma dupla ousadia.
Há, primeiro, a ousadia de seu enredo, que transita entre a comédia de costumes, a trama policial, o drama e o horror. Conta-se a história de um quarentão, Durval (Ary França), que mantém quixotescamente uma loja de discos de vinil no bairro paulistano de Pinheiros e mora com a mãe viúva (Etty Fraser) no andar de cima.
Trata-se, já de saída, de um ambiente algo extemporâneo e excêntrico, um pequeno mundo sitiado por uma grande cidade.
Esse microcosmo -em que se cultivam músicas, valores e afetos de um outro tempo- é abalado pela chegada súbita de uma criança, Kiki (Isabela Guasco), deixada na casa por uma suposta doméstica (Letícia Sabatella).
A partir daí o filme entra num registro que mistura suspense policial, drama e humor negro.
A esse entrecho a diretora Anna Muylaert sobrepôs uma segunda ousadia, desta vez formal: a opção pelos planos-sequência, com relativamente poucos cortes e raros closes dos atores. Por conta disso, mesmo os personagens mais cativantes, como Durval, sua mãe e Kiki, são vistos pelo espectador com certo distanciamento.
Na condução desse complexo de operações arriscadas, a diretora pode ter perdido a mão aqui e ali, deixando cair ocasionalmente o ritmo e a tensão.
É possível mesmo detectar o ponto de equilíbrio a partir do qual o filme passa a se mover de um modo errático: é a cena admirável em que Durval e sua mãe vêem num noticiário de TV a verdadeira e terrível identidade de Kiki e de sua suposta mãe. O contraplano dos dois atores depois de ouvir a notícia é antológico.
Outro ponto forte de "Durval Discos" é a trilha sonora, toda composta por música brasileira dos anos 70 e 80, de Jorge Ben a Novos Baianos, de Tim Maia a Sá, Rodrix e Guarabira.
Por fim, como já se falou muito, é um filme radicalmente paulistano e, mais que isso, pinheirense.
Durval Discos
Produção: Brasil, 2002
Direção: Anna Muylaert
Com: Ary França, Etty Fraser, Marisa Orth, Leticia Sabatella
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte 1, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Sala UOL e Villa-Lobos
Avaliação:
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"Durval Discos" é um presente pelos meus 72 anos, diz Etty Fraser
Longa "Durval Discos" arrisca no cruzamento de gêneros
Crítica: Diretora de "Durval Discos" fez opção corajosa e original
JOSÉ GERALDO COUTOcolunista da Folha
"Durval Discos" é um filme corajoso e original. A perplexidade que tem causado no público dos festivais e pré-estréias em que foi exibido é fruto de uma dupla ousadia.
Há, primeiro, a ousadia de seu enredo, que transita entre a comédia de costumes, a trama policial, o drama e o horror. Conta-se a história de um quarentão, Durval (Ary França), que mantém quixotescamente uma loja de discos de vinil no bairro paulistano de Pinheiros e mora com a mãe viúva (Etty Fraser) no andar de cima.
Trata-se, já de saída, de um ambiente algo extemporâneo e excêntrico, um pequeno mundo sitiado por uma grande cidade.
Esse microcosmo -em que se cultivam músicas, valores e afetos de um outro tempo- é abalado pela chegada súbita de uma criança, Kiki (Isabela Guasco), deixada na casa por uma suposta doméstica (Letícia Sabatella).
A partir daí o filme entra num registro que mistura suspense policial, drama e humor negro.
A esse entrecho a diretora Anna Muylaert sobrepôs uma segunda ousadia, desta vez formal: a opção pelos planos-sequência, com relativamente poucos cortes e raros closes dos atores. Por conta disso, mesmo os personagens mais cativantes, como Durval, sua mãe e Kiki, são vistos pelo espectador com certo distanciamento.
Na condução desse complexo de operações arriscadas, a diretora pode ter perdido a mão aqui e ali, deixando cair ocasionalmente o ritmo e a tensão.
É possível mesmo detectar o ponto de equilíbrio a partir do qual o filme passa a se mover de um modo errático: é a cena admirável em que Durval e sua mãe vêem num noticiário de TV a verdadeira e terrível identidade de Kiki e de sua suposta mãe. O contraplano dos dois atores depois de ouvir a notícia é antológico.
Outro ponto forte de "Durval Discos" é a trilha sonora, toda composta por música brasileira dos anos 70 e 80, de Jorge Ben a Novos Baianos, de Tim Maia a Sá, Rodrix e Guarabira.
Por fim, como já se falou muito, é um filme radicalmente paulistano e, mais que isso, pinheirense.
Durval Discos
Produção: Brasil, 2002
Direção: Anna Muylaert
Com: Ary França, Etty Fraser, Marisa Orth, Leticia Sabatella
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte 1, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Sala UOL e Villa-Lobos
Avaliação:
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