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16/05/2003
-
03h33
da Folha de S.Paulo
Nos últimos meses, a onda neoconservadora que havia se instalado nos EUA com a vitória de George W. Bush em 2000 e que ganhara legitimidade depois do 11 de setembro de 2001 tomou de assalto a mídia e a indústria do entretenimento do país.
Atores perderam o emprego por se manifestar contra a invasão do Iraque e a direita dá o tom até em comédias românticas (como "Encontro de Amor") e não-românticas (como "Sou Espião").
Entre os jornais, o que mais cresce é o tablóide "The New York Post", de Rupert Murdoch, dono também da Fox e da Fox News, atuais emissoras campeãs de audiência em suas categorias --o jornalismo praticado pelo trio de empresas é tão imparcial quanto o "Granma" cubano.
Neste universo, o roliço agitador de esquerda Michael Moore, 49, virou herói da resistência. Cada filme, cada livro que lança, cada discurso que faz é um pequeno mas certeiro golpe no pensamento monolítico que ameaça a pátria das liberdades individuais.
É nesse contexto que seu "Tiros em Columbine", que estréia hoje, vira uma obra-prima. O documentário parte do episódio de 1999, em que dois estudantes mataram 12 colegas e um professor e se suicidaram numa escola pública em Columbine (na noite anterior, tinham ido jogar boliche, daí a ironia do título original), para entender o fascínio mórbido que os EUA nutrem pelas armas.
Apesar de esperto e bem-humorado --é impagável a sequência em que Moore invade casas de canadenses, para demonstrar como são menos temerosos que seus vizinhos--, "Tiros" têm defeitos demais. Erra, por exemplo, ao mostrar o assédio de Moore a Charlton Heston, controversa figura que é presidente de honra da associação de defensores do uso de armas, mas que sai do episódio mais simpático e passível de pena do que queria o diretor.
Mas acerta na essência, ao tentar e quase sempre demonstrar que as 11 mil mortes por ano relacionadas a armas no país (contra 165 da Inglaterra) ocorrem por dois motivos: muitos americanos estão armados, e americanos têm muito medo, o que interessa a muitos. (Por exemplo: enquanto os crimes violentos aumentaram 20% na última década nos EUA, a cobertura da mídia ao assunto cresceu 600% naquele período.)
Além disso, merece o nosso respeito qualquer diretor que tenha sido vaiado na entrega do Oscar.
Avaliação:
Tiros em Columbine (Bowling for Columbine)
Direção: Michael Moore
Produção: EUA, 2002
Quando: a partir de hoje, nos cines Cinearte, Espaço Unibanco e circuito
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Textos de Michael Moore atacam brancos e Bush
Em novo filme, Michael Moore liga EUA a Bin Laden
"Tiros em Columbine" é obra-prima contra neoconservadorismo
SÉRGIO DÁVILAda Folha de S.Paulo
Nos últimos meses, a onda neoconservadora que havia se instalado nos EUA com a vitória de George W. Bush em 2000 e que ganhara legitimidade depois do 11 de setembro de 2001 tomou de assalto a mídia e a indústria do entretenimento do país.
Atores perderam o emprego por se manifestar contra a invasão do Iraque e a direita dá o tom até em comédias românticas (como "Encontro de Amor") e não-românticas (como "Sou Espião").
Entre os jornais, o que mais cresce é o tablóide "The New York Post", de Rupert Murdoch, dono também da Fox e da Fox News, atuais emissoras campeãs de audiência em suas categorias --o jornalismo praticado pelo trio de empresas é tão imparcial quanto o "Granma" cubano.
Neste universo, o roliço agitador de esquerda Michael Moore, 49, virou herói da resistência. Cada filme, cada livro que lança, cada discurso que faz é um pequeno mas certeiro golpe no pensamento monolítico que ameaça a pátria das liberdades individuais.
É nesse contexto que seu "Tiros em Columbine", que estréia hoje, vira uma obra-prima. O documentário parte do episódio de 1999, em que dois estudantes mataram 12 colegas e um professor e se suicidaram numa escola pública em Columbine (na noite anterior, tinham ido jogar boliche, daí a ironia do título original), para entender o fascínio mórbido que os EUA nutrem pelas armas.
Apesar de esperto e bem-humorado --é impagável a sequência em que Moore invade casas de canadenses, para demonstrar como são menos temerosos que seus vizinhos--, "Tiros" têm defeitos demais. Erra, por exemplo, ao mostrar o assédio de Moore a Charlton Heston, controversa figura que é presidente de honra da associação de defensores do uso de armas, mas que sai do episódio mais simpático e passível de pena do que queria o diretor.
Mas acerta na essência, ao tentar e quase sempre demonstrar que as 11 mil mortes por ano relacionadas a armas no país (contra 165 da Inglaterra) ocorrem por dois motivos: muitos americanos estão armados, e americanos têm muito medo, o que interessa a muitos. (Por exemplo: enquanto os crimes violentos aumentaram 20% na última década nos EUA, a cobertura da mídia ao assunto cresceu 600% naquele período.)
Além disso, merece o nosso respeito qualquer diretor que tenha sido vaiado na entrega do Oscar.
Avaliação:
Tiros em Columbine (Bowling for Columbine)
Direção: Michael Moore
Produção: EUA, 2002
Quando: a partir de hoje, nos cines Cinearte, Espaço Unibanco e circuito
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