Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
09/08/2003 - 04h32

Escritor desafia as fronteiras do soneto

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
da Folha de S.Paulo

A experiência acumulada da vivência nas fronteiras pelo poeta Douglas Diegues, 38, está concentrada em sua literatura reunida em "Dá Gusto Andar Desnudo por Estas Selvas - Sonetos Salvajes". A forma rígida dos sonetos, que serviam às construções poéticas clássicas, parece insuficiente para conter a explosão de coisas que precisam ser expressas.

Por isso, os versos dos "Sonetos Salvajes" mantêm a rima e o número como manda a regra, mas estão esgarçados no tamanho.

Como escreveu o poeta Glauco Mattoso na orelha do livro, é uma "transgressão dentro da tradição". Explica-se Diegues: "A poesia é uma invenção. Não há um protótipo único de poesia de qualidade. Cada poeta tem um modo de dizer-se, de se escrever, seja com uma Bic ou um canhão de raio laser. Mas não bastam leituras, conhecimento".

Numa espécie de implosão interna, os textos do autor vão traduzindo um país pouco conhecido, o do vasto oeste fronteiriço, onde a presença indígena é fundamental. "As culturas indígenas do Paraguai me fascinam desde que me dei conta de que neste país ainda sobrevivem quatro famílias linguísticas que se subdividem em 16 etnias. Culturas de uma riqueza sem preço. Cada índio é um dicionário de palavras, de mitologia e de botânica a um só tempo."

O caminho que Diegues assim empreende com sua literatura é o do despojamento, que invade seu próprio estilo de vida, ou vice-versa. "Vendo orquídeas para sobreviver. Um taiwanês que mora aqui, amigo generoso, tem um orquidário e me dá essa oportunidade de ganhar algum dinheiro com ele para passar por este mundo sem muita angústia econômica. Vendo orquídeas nas ruas, na feira. Às vezes não vendo nada. Enquanto espero compradores, leio, escrevo, traduzo, penso, deliro."

Essa experiência de viver fronteiras, seja a geográfica, a econômica, a cultural ou a linguística, sempre acompanhou o autor.

"Meu pai era jornalista e conheceu minha mãe durante uma reportagem sobre contrabando de café na fronteira com o Paraguai. Então minha mãe fugiu com ele para o Rio. Lá nasci e morei até a separação deles, quando eu não tinha ainda dois anos. Minha mãe voltou então a morar com o pai dela na fronteira, o meu avô espanhol. De modo que fui criado aqui nesse entre-línguas e não me sinto nem um pouco carioca."

Diegues acaba de receber R$ 20 mil do Fundo de Investimentos Culturais do Governo de Mato Grosso do Sul para organizar o livro-CD "Cosmofonia Mbyá Guarani". A idéia é lançar no Brasil o disco do paraguaio Guilhermo Sequera, "Paraguay: Música Mbyá Guarani".

"Sequera coletou durante mais de dez anos algumas peças pelas aldeias Mbyá que se escondem entre as fronteiras do Brasil, do Paraguai e da Argentina. Apresentei o projeto de uma edição com a transcrição dos cantos originais e sua tradução."

O volume deve ser editado em parceria com a curitibana Travessa dos Editores, a mesma que lançou "Dá Gusto Andar Desnudo por Estas Selvas". "Agora os sonetos já podem circular desnudos decentemente pelas selvas deste mundo, urbanas, secretas, pré-urbanas, selvas de massa encefálica e outras, deste e do outro lado da fronteira."

DÁ GUSTO ANDAR DESNUDO POR ESTAS SELVAS - SONETOS SALVAJES
De:
Douglas Diegues
Editora: Travessa dos Editores (tel. 0/xx/41/264-9463)
Quanto: R$ 8 (43 págs.)

Leia mais
  • Escritor desafia as fronteiras do soneto
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página