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15/08/2003 - 03h48

Sem Chico Buarque, "Ópera do Malandro" ganha nova montagem

LUIZ CAVERSAN
da Folha de S.Paulo, no Rio

Chico Buarque de Hollanda é a presença mais ausente na remontagem da "Ópera do Malandro", uma de suas principais realizações dramatúrgicas, que ganha nova versão no Rio de Janeiro, 25 anos após sua estréia nos palcos, naquela cidade.

Explica-se: apesar de ser um marco na carreira de Chico (venceu o prêmio Molière de texto em 1978), de ter projetado pelo menos uma dezena de seus sucessos musicais, de ter sido um ato de ousadia num momento delicado da transição do regime militar em direção à abertura democrática, de ter tido sua então mulher, Marieta Severo, no principal papel feminino e de ser, portanto, a "cara" do autor, ele está praticamente alheio à presente montagem, que tem pré-estréia hoje no Teatro Carlos Gomes.

Alheio até no bom sentido: se não participa da atual produção do musical, também não fez nenhuma restrição, exigência ou determinação expressa para que a "nata da malandragem" representada por Duran (Mauro Mendonça), Max Overseas (Alexandre Schumacher), Terezinha (Soraya Ravenle), Vitória (Lucinha Lins) e a mais-que-famosa Geni (Telmo Fernandes) retornassem à cena, segundo informam os responsáveis pelo espetáculo, Charles Möeller (direção de texto) e Cláudio Botelho (direção musical).

A "Ópera do Malandro" de Chico leva para a Lapa dos anos 40 uma tradição de marginalidade, deformação social, corrupção e amoralidade que remonta à "Ópera dos Mendigos", de John Gay (1728), e passa por Bertolt Brecht e sua "Ópera dos Três Vinténs", de 1928.

Quando chegou ao bairro boêmio da Lapa, na versão setentista de Chico, era final dos anos 1940, época em que a figura glamourizada do malandro se mantinha em meio à prostituição, ao contrabando, a contravenção e à promiscuidade com a polícia. Mas também tinha a intenção de se inserir num contexto sócio-político mais contemporâneo.

Em entrevista a este repórter em outubro de 1979, quando da estréia da versão paulista da "Ópera", Chico teceu comentários sobre o ambiente que a peça retratava, em contraponto ao que o país vivia naquele final de década: em comum, o processo de redemocratização, o fim da censura, mais a extinção de um "inimigo" localizado como alvo para a arte de cunho político, abrindo espaço ao exercício pleno da criatividade. Enfim, novos horizontes.

Portanto, seria oportuno, 25 anos depois (ainda mais agora que um ex-operário chegou à Presidência...) uma nova avaliação por parte de um dos mais engajados autores brasileiros, certo?

Não. Convidado para uma conversa com a Folha em que esse lapso de tempo seria abordado, para fazer quem sabe uma análise da trajetória da arte em paralelo à da política, Chico não topou. Ele está se dedicando exclusivamente ao novo livro, informam assessores. Tem trabalhado na sua revisão; lamenta, mas não vai falar nada sobre a remontagem do musical --eis aí a ausência a que se refere o início deste texto--, teve apenas uma reunião com os diretores, assistiu a um ensaio há duas semanas e nem sequer deverá ser esperado na estréia do espetáculo.

O livro? Bem, aí já é outro mistério. Sabe-se que é um romance. Informa-se que o nome é "Budapeste". Afirma-se aqui e ali que é "bem-humorado". Garante-se que sai em setembro, sem entrevistas com o autor. Nada mais.

De qualquer maneira, assim como se fazia um "link" entre os 40 e os 70 na montagem anterior, agora volta-se para os dias de hoje.

"A peça não tem mais o caráter contestatório dos anos 70, contra a ditadura, quando até palavrão era um sinal de protesto", diz Möeller 35, um jovem veterano em musicais ao lado do parceiro Botelho, ambos fãs confessos de Chico Buarque.

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