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10/09/2003
-
02h30
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo, no Rio
Segundo o slogan publicitário, ela é "a cantora que todo mundo estava esperando". Mais que retórica, exprime o que a Warner Music do Brasil trata como o maior plano de marketing que já fez para lançar um artista iniciante.
Maria Rita (o sobrenome foi suprimido), 26, filha da cantora Elis Regina (1945-82) e do músico Cesar Camargo Mariano, 59, estréia com uma tiragem, também inédita para um novo artista, de 100 mil CDs. Um DVD ao vivo sai em um mês; dele foi tirado um especial de TV que a Rede Globo exibe no domingo do dia 28 próximo, após o "Fantástico".
O diretor de marketing da Warner, Marcelo Maia, concentra em duas frases a pretensão e a expectativa: "Chega de feijão com arroz; chegou a hora, afinal, de dar uma guinada".
A reviravolta passa pelo formato. Após uma década de investimento pesado da indústria nacional nos formatos populares de axé music, pagode e música sertaneja, Maria Rita chega embalada em MPB e jazz. Um trio de piano, baixo acústico e bateria dá sustentação a "Maria Rita".
Cantora e gravadora afirmam que são só coincidências as semelhanças com o formato que tornou a norte-americana Norah Jones, 24, fenômeno simultâneo de público e crítica.
"Quando comprei o disco dela eu já estava gravando o meu, falei: 'O que essa fedelha pensa que está fazendo? Menina!'", brinca Maria Rita. Mesmo assim ela aceita a comparação, e parte daí para descrever o que poderia haver de novidade em seu som em 2003:
"A gente já consumiu tanto o plástico que pode ser que esteja começando uma procura pelo orgânico". Diz que o CD foi gravado ao vivo no estúdio, outra opção incomum nos tempos atuais.
"Existe essa vontade de voltar ao erro, ao mais normal possível. Não é um disco tecnicamente perfeito, e isso é consciente."
Todo mundo?
Maria Rita diz reagir ao slogan da Warner com "um frio na barriga". "A princípio acho que é mentira, mas, não sei, tenho ouvido isso do público, da mídia, de produtores. Não sei se é tudo isso, mas as pessoas falam nesses termos, 'ai, graças a Deus', 'finalmente'..." Sabe que a expectativa é também pressão e tenta se posicionar diante disso:
"Muito pode acontecer e nada pode acontecer. Essa expectativa dá um pouco de susto porque potencializa a possibilidade de falhar. Mas estou tranquila, não vou perder a noção. A dificuldade maior é administrar a ansiedade alheia, a piração alheia".
Sabe, também, que o nome da "ansiedade alheia" é, muitas vezes, Elis Regina. Atende ao pedido da Folha de falar dela como cantora e influência, não como mãe.
"Gênio. Estava outro dia ouvindo 'Elis & Tom' (74). Comecei ouvindo como filha, mas depois fiquei pensando: 'As pessoas ainda têm a cara de pau de dizer para mim que canto como ela? Vá ouvir 'Elis & Tom', antes de dizer que canto para caralho'."
Elis cantava melhor? "Lógico! Que é isso? Como cantora, acho que dificilmente teremos igual. Não teremos igual. É muito sério o negócio de interpretação ali. É barra pesada. No bom sentido."
Fica sabendo que cantou uma palavra errada em "Agora Só Falta Você" (75), de Rita Lee --outra semelhança com Elis, que, em vários momentos, alterou letras involuntariamente ao interpretar.
Reage brincando, de novo: "Ai, pronto, mais uma. Ô, diacho, que não aguento essa mulher. Ela é que está na minha cola, não sou eu que estou na dela".
Festa
A faixa de abertura e de divulgação de "Maria Rita" é "A Festa", feita especialmente para ela por Milton Nascimento, um dos artistas que foram lançados à fama por Elis Regina.
É, como o nome diz, um tema festivo. Faz contraste com a reação de choro que o canto de Maria Rita tem provocado em seus ouvintes, e que ela confessa que no começo lhe causava irritação.
"Me irritava porque eu achava que todo mundo chorava por causa da minha mãe. Hoje acho que tenho a carga genética, mas também uma sensibilidade com que as pessoas se identificam."
De volta à "Festa": "Apesar da carga emocional, sou fundamentalmente uma pessoa alegre. Escolhi 'A Festa' para iniciar tudo porque é uma música inédita, mas de um autor conhecido. E porque é muito para cima".
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da Folha de S.Paulo, no Rio
Segundo o slogan publicitário, ela é "a cantora que todo mundo estava esperando". Mais que retórica, exprime o que a Warner Music do Brasil trata como o maior plano de marketing que já fez para lançar um artista iniciante.
Maria Rita (o sobrenome foi suprimido), 26, filha da cantora Elis Regina (1945-82) e do músico Cesar Camargo Mariano, 59, estréia com uma tiragem, também inédita para um novo artista, de 100 mil CDs. Um DVD ao vivo sai em um mês; dele foi tirado um especial de TV que a Rede Globo exibe no domingo do dia 28 próximo, após o "Fantástico".
O diretor de marketing da Warner, Marcelo Maia, concentra em duas frases a pretensão e a expectativa: "Chega de feijão com arroz; chegou a hora, afinal, de dar uma guinada".
A reviravolta passa pelo formato. Após uma década de investimento pesado da indústria nacional nos formatos populares de axé music, pagode e música sertaneja, Maria Rita chega embalada em MPB e jazz. Um trio de piano, baixo acústico e bateria dá sustentação a "Maria Rita".
Cantora e gravadora afirmam que são só coincidências as semelhanças com o formato que tornou a norte-americana Norah Jones, 24, fenômeno simultâneo de público e crítica.
"Quando comprei o disco dela eu já estava gravando o meu, falei: 'O que essa fedelha pensa que está fazendo? Menina!'", brinca Maria Rita. Mesmo assim ela aceita a comparação, e parte daí para descrever o que poderia haver de novidade em seu som em 2003:
"A gente já consumiu tanto o plástico que pode ser que esteja começando uma procura pelo orgânico". Diz que o CD foi gravado ao vivo no estúdio, outra opção incomum nos tempos atuais.
"Existe essa vontade de voltar ao erro, ao mais normal possível. Não é um disco tecnicamente perfeito, e isso é consciente."
Todo mundo?
Maria Rita diz reagir ao slogan da Warner com "um frio na barriga". "A princípio acho que é mentira, mas, não sei, tenho ouvido isso do público, da mídia, de produtores. Não sei se é tudo isso, mas as pessoas falam nesses termos, 'ai, graças a Deus', 'finalmente'..." Sabe que a expectativa é também pressão e tenta se posicionar diante disso:
"Muito pode acontecer e nada pode acontecer. Essa expectativa dá um pouco de susto porque potencializa a possibilidade de falhar. Mas estou tranquila, não vou perder a noção. A dificuldade maior é administrar a ansiedade alheia, a piração alheia".
Sabe, também, que o nome da "ansiedade alheia" é, muitas vezes, Elis Regina. Atende ao pedido da Folha de falar dela como cantora e influência, não como mãe.
"Gênio. Estava outro dia ouvindo 'Elis & Tom' (74). Comecei ouvindo como filha, mas depois fiquei pensando: 'As pessoas ainda têm a cara de pau de dizer para mim que canto como ela? Vá ouvir 'Elis & Tom', antes de dizer que canto para caralho'."
Elis cantava melhor? "Lógico! Que é isso? Como cantora, acho que dificilmente teremos igual. Não teremos igual. É muito sério o negócio de interpretação ali. É barra pesada. No bom sentido."
Fica sabendo que cantou uma palavra errada em "Agora Só Falta Você" (75), de Rita Lee --outra semelhança com Elis, que, em vários momentos, alterou letras involuntariamente ao interpretar.
Reage brincando, de novo: "Ai, pronto, mais uma. Ô, diacho, que não aguento essa mulher. Ela é que está na minha cola, não sou eu que estou na dela".
Festa
A faixa de abertura e de divulgação de "Maria Rita" é "A Festa", feita especialmente para ela por Milton Nascimento, um dos artistas que foram lançados à fama por Elis Regina.
É, como o nome diz, um tema festivo. Faz contraste com a reação de choro que o canto de Maria Rita tem provocado em seus ouvintes, e que ela confessa que no começo lhe causava irritação.
"Me irritava porque eu achava que todo mundo chorava por causa da minha mãe. Hoje acho que tenho a carga genética, mas também uma sensibilidade com que as pessoas se identificam."
De volta à "Festa": "Apesar da carga emocional, sou fundamentalmente uma pessoa alegre. Escolhi 'A Festa' para iniciar tudo porque é uma música inédita, mas de um autor conhecido. E porque é muito para cima".
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