Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
17/09/2003 - 08h11

Rio receberá exposição inédita de obras-primas da África

Publicidade

FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo, em Berlim

Quando Pablo Picasso (1881-1973) utilizou máscaras africanas como inspiração para o cubismo, como em sua obra-prima, "Demoiselles D'Avignon" (1907), costumava dizer que as máscaras, uma arte primitiva, serviam para exorcizar fantasmas e que pretendia com sua nova forma de pintura também exercer uma espécie de exorcismo na arte. Que com o cubismo ele mudou os rumos da arte no século 20, não há dúvida, mas há quem questione a visão do artista sobre as tais máscaras.

"O exorcismo estava na mente dele. Picasso fazia uma projeção positiva nas máscaras de sua visão negativa sobre a Europa. Ele soube aproveitar a força delas, mas não foi capaz de perceber que não eram primitivas", afirma Peter Junge, diretor da seção africana do Museu Etnológico de Berlim.

Para comprovar a autonomia das obras africanas como uma forma de arte, Junge traz ao Brasil, no próximo mês, 300 peças do acervo do museu alemão, realizadas entre os séculos 16 e 20, de 107 culturas diferentes.

O Museu Etnológico possui o conjunto mais representativo da produção africana: são 75 mil peças no total, coleção melhor que a do British Museum, de Londres, segundo Junge. A mostra ocorre primeiro no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio, a partir de 13 de outubro, e divide-se depois em duas partes, no CCBB de São Paulo e de Brasília, ambas em janeiro.

"O CCBB de São Paulo é muito pequeno, devemos levar cem peças para lá", diz Junge, em Berlim. A idéia da exposição é do alemão Alfons Hug, atual diretor do Instituto Goethe do Rio e curador da próxima Bienal de São Paulo, em 2004. "A partir da sugestão do Hug, decidimos apresentar as melhores obras de nosso acervo para mostrar a riqueza da produção artística da África, que não é uniforme, e por isso achamos que o nome mais adequando é "Arte da África'", afirma o diretor.

Das 1.200 peças expostas na coleção permanente do museu, 40 já não se encontram mais lá. Elas embarcam nesta quarta para o Brasil e representam um esforço inédito do museu em dar maior visibilidade ao seu acervo. "Nunca tiramos as obras-primas do museu, mas dada a nova situação de Berlim, que fez com que o número de visitantes caísse [180 mil em 2002], decidimos mudar a política de exibição e levar as obras importantes para o Brasil", conta a diretora do museu, Viola König.

De certa forma, foram os próprios alemães ou outros "predadores" europeus, que coletaram objetos na África, os culpados por considerar a produção africana como primitiva. "A maioria dos arqueólogos que trouxeram peças não se preocupou em saber os nomes dos autores dos objetos, como se só os brancos produzissem arte", afirma König.

A exposição será dividida em três módulos: Esculturas Figurativas, Performance (com máscaras e instrumentos musicais) e Design. Este último, após a mostra brasileira, ganhará espaço no próprio museu alemão.

"O antigo diretor da seção africana não tinha uma visão tão aberta em relação ao design. Creio que não se deve fazer uma distinção entre arte e design. Na mostra iremos apresentar tanto peças muito estilizadas como outras, que de tão simples parecem obras da Bauhaus", conta Junge.

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do Instituto Goethe do Rio de Janeiro.

ARTE DA ÁFRICA - Mostra com 300 peças do Museu de Etnologia de Berlim
Curadoria: Peter Junge
Quando: abertura dia 13/10; de ter. a dom., das 11h às 21h; qui., até 22h; até 4/1/04
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, Centro, Rio, tel. 0/xx/21/3808-2020)
Quanto: entrada franca
Patrocinadores: Brasilcap e Banco do Brasil

Leia mais
  • Peças de arte africana também falam de Berlim
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página