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19/09/2003
-
03h50
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo
Fagner e Zeca Baleiro afirmam que não têm como meta intencional promover uma reaproximação do "Nordeste de cima", que ficou ofuscado, nos 90, pela hegemonia baiana da axé music. Mas não se furtam de discutir o tema.
"A Bahia não é o Nordeste, nem o axé é um tipo de música associado ao Nordeste", começa Zeca. "A música baiana é ensaiada no Nordeste e se apresenta no Sul. Os baianos estão muito mais virados para o sul", provoca Fagner.
Aí se localiza outra peculiaridade do disco da dupla, que foi gravado no Ceará, no estúdio de Fagner, de forma totalmente independente de gravadoras --só ao final do processo a gravadora Indie Records encampou o trabalho. O selo de Zeca, o também independente MZA, cedeu o artista para o projeto.
Zeca conta ter escrito letras tendo à janela a praia do Mucuripe, tema de "Mucuripe" (72), melancólica canção que lançou os compositores Fagner e Belchior quando Elis Regina a transformou em sucesso, em 72.
Isso daria ao disco uma brisa experimental à moda do Pessoal do Ceará (movimento do início dos anos 70 de que emergiram Fagner, Belchior, Ednardo, Fausto Nilo, Amelinha e vários outros)?
Eles acham que o CD não possui esse aroma em predomínio, mas Zeca concorda quanto a um dom mais compacto da música cearense em relação à maranhense.
"O Maranhão sempre esteve apartado, nunca teve representantes nacionais. Tivemos nomes isolados, como João do Vale, Chico Maranhão, Nonato Buzar, Alcione. O Nordeste sofre de seca, eu sofri foi com enchente."
Fagner diz considerar ilusória a aparente afinidade entre os músicos nordestinos de Ceará, Paraíba (Zé Ramalho, Elba Ramalho) e Pernambuco (Alceu Valença, Geraldo Azevedo).
"Fomos desagregados sempre. Fui um pouco aglutinador, virei executivo da CBS e levei grandes porradas por isso", relembra Fagner. "Fiquei um pouco traumatizado, nego achava que eu mandava na gravadora, mas o que eu fazia era gravar os discos."
Não esconde uma ponta de melancolia pela desagregação do "pessoal do Ceará". "Meu melhor parceiro foi Belchior, e a última música que fizemos juntos foi no Ceará. Corri atrás de nos reunirmos nos últimos anos, mas nunca deu certo", lamenta.
Enquanto o "pessoal do Ceará" se reuniu num disco de 2002 de Ednardo, Belchior e Amelinha, Fagner achou Zeca Baleiro. E celebra o encontro: "A gente tem que ser cavalo-de-batalha da renovação. Não vamos nos furtar de sair por aí mostrando o trabalho".
Zeca vai além: "Ninguém aqui é ingênuo. Nós sabemos do potencial comercial desse encontro, que pode agregar o público dele ao meu, o meu público ao dele. Não temo o sucesso popular".
Artesão experiente de sucesso popular, Fagner relativiza fora do alcance dos ouvidos de Zeca Baleiro o discurso que aparentemente parece desvalorizar o parceiro mais jovem, em detrimento da nostalgia cearense: "Ele é bicudo também. Tenho que segurar, dar umas broncas de vez em quando".
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Fagner e Zeca Baleiro reaproximam o "Nordeste de cima"
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da Folha de S.Paulo
Fagner e Zeca Baleiro afirmam que não têm como meta intencional promover uma reaproximação do "Nordeste de cima", que ficou ofuscado, nos 90, pela hegemonia baiana da axé music. Mas não se furtam de discutir o tema.
"A Bahia não é o Nordeste, nem o axé é um tipo de música associado ao Nordeste", começa Zeca. "A música baiana é ensaiada no Nordeste e se apresenta no Sul. Os baianos estão muito mais virados para o sul", provoca Fagner.
Aí se localiza outra peculiaridade do disco da dupla, que foi gravado no Ceará, no estúdio de Fagner, de forma totalmente independente de gravadoras --só ao final do processo a gravadora Indie Records encampou o trabalho. O selo de Zeca, o também independente MZA, cedeu o artista para o projeto.
Zeca conta ter escrito letras tendo à janela a praia do Mucuripe, tema de "Mucuripe" (72), melancólica canção que lançou os compositores Fagner e Belchior quando Elis Regina a transformou em sucesso, em 72.
Isso daria ao disco uma brisa experimental à moda do Pessoal do Ceará (movimento do início dos anos 70 de que emergiram Fagner, Belchior, Ednardo, Fausto Nilo, Amelinha e vários outros)?
Eles acham que o CD não possui esse aroma em predomínio, mas Zeca concorda quanto a um dom mais compacto da música cearense em relação à maranhense.
"O Maranhão sempre esteve apartado, nunca teve representantes nacionais. Tivemos nomes isolados, como João do Vale, Chico Maranhão, Nonato Buzar, Alcione. O Nordeste sofre de seca, eu sofri foi com enchente."
Fagner diz considerar ilusória a aparente afinidade entre os músicos nordestinos de Ceará, Paraíba (Zé Ramalho, Elba Ramalho) e Pernambuco (Alceu Valença, Geraldo Azevedo).
"Fomos desagregados sempre. Fui um pouco aglutinador, virei executivo da CBS e levei grandes porradas por isso", relembra Fagner. "Fiquei um pouco traumatizado, nego achava que eu mandava na gravadora, mas o que eu fazia era gravar os discos."
Não esconde uma ponta de melancolia pela desagregação do "pessoal do Ceará". "Meu melhor parceiro foi Belchior, e a última música que fizemos juntos foi no Ceará. Corri atrás de nos reunirmos nos últimos anos, mas nunca deu certo", lamenta.
Enquanto o "pessoal do Ceará" se reuniu num disco de 2002 de Ednardo, Belchior e Amelinha, Fagner achou Zeca Baleiro. E celebra o encontro: "A gente tem que ser cavalo-de-batalha da renovação. Não vamos nos furtar de sair por aí mostrando o trabalho".
Zeca vai além: "Ninguém aqui é ingênuo. Nós sabemos do potencial comercial desse encontro, que pode agregar o público dele ao meu, o meu público ao dele. Não temo o sucesso popular".
Artesão experiente de sucesso popular, Fagner relativiza fora do alcance dos ouvidos de Zeca Baleiro o discurso que aparentemente parece desvalorizar o parceiro mais jovem, em detrimento da nostalgia cearense: "Ele é bicudo também. Tenho que segurar, dar umas broncas de vez em quando".
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