Publicidade
Publicidade
19/09/2003
-
04h02
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo
O trunfo inicial de "Raimundo Fagner & Zeca Baleiro" é a dificuldade de decifrá-lo. Não soa óbvio, parece inusitado, envolve riscos de parte a parte.
O trunfo central é o esmero com que foi concebido e produzido. Melancólico quase de ponta a ponta, o disco rejeita a cada sulco a banalidade e os hábitos arraigados da música popular recente.
Fagner vinha de alguns anos tentando reerguer o preciosismo musical de seu início, mas poucos pareciam dispostos a ouvi-lo. Zeca pode lhe trazer de volta o público universitário que o abandonara desde os 80. Zeca Baleiro carrega a bandeira de poesia e melodia rigorosas, mas o Brasil romântico e popular que almeja ainda se mantém à distância, lá num ponto onde Fagner o abandonou.
Pois juntos desfolham o mal-me-quer de uma coleção de baladas agrestes, despojadas, cearenses como na obra rica de Fagner-Belchior-Ednardo --e bem parecidas, nisso, com a produção individual do discípulo Zeca Baleiro.
Já cobiçam o relicário da canção popular brasileira "Balada de Agosto", o samba maranhense "Um Real de Amor", a cavalgada cearense "Dezembro", "Hotel à Beira-Mar", o poema tropicalista-piauiense de Torquato Neto "Daqui pra Lá de Lá pra Cá", a belezura de "Azulejo" (dos dois com o mediador Sérgio Natureza).
O êxtase se dá em "Três Irmãos", canção tradicional francesa do século 16 vertida por Fausto Nilo ao linguajar trágico de periferia das metrópoles brasileiras. Por ela, duas vozes díspares vertem lágrimas e sublinham que o pessoal do Ceará e o pessoal do Maranhão sangrou para o Sudeste e hoje pertence ao Brasil inteiro. Disco urbano em essência, alegoriza aí o trajeto Garanhuns-Brasília.
O último trunfo se encontra em "Cantor de Bolero", cafona e nordestina ao cúmulo. Ali se guarda a maior proposta do disco, de demolição de preconceitos e reconciliação dos "brasis", das classes sociais, dos avessos. No Brasil.
Avaliação:
Fagner & Zeca Baleiro
Lançamento: Indie Records
Quanto: R$ 30, em média
Leia mais
Fagner e Zeca Baleiro promovem encontro de gerações
Fagner e Zeca Baleiro reaproximam o "Nordeste de cima"
Crítica: Reconciliação nacional é a proposta central do encontro
Publicidade
da Folha de S.Paulo
O trunfo inicial de "Raimundo Fagner & Zeca Baleiro" é a dificuldade de decifrá-lo. Não soa óbvio, parece inusitado, envolve riscos de parte a parte.
O trunfo central é o esmero com que foi concebido e produzido. Melancólico quase de ponta a ponta, o disco rejeita a cada sulco a banalidade e os hábitos arraigados da música popular recente.
Fagner vinha de alguns anos tentando reerguer o preciosismo musical de seu início, mas poucos pareciam dispostos a ouvi-lo. Zeca pode lhe trazer de volta o público universitário que o abandonara desde os 80. Zeca Baleiro carrega a bandeira de poesia e melodia rigorosas, mas o Brasil romântico e popular que almeja ainda se mantém à distância, lá num ponto onde Fagner o abandonou.
Pois juntos desfolham o mal-me-quer de uma coleção de baladas agrestes, despojadas, cearenses como na obra rica de Fagner-Belchior-Ednardo --e bem parecidas, nisso, com a produção individual do discípulo Zeca Baleiro.
Já cobiçam o relicário da canção popular brasileira "Balada de Agosto", o samba maranhense "Um Real de Amor", a cavalgada cearense "Dezembro", "Hotel à Beira-Mar", o poema tropicalista-piauiense de Torquato Neto "Daqui pra Lá de Lá pra Cá", a belezura de "Azulejo" (dos dois com o mediador Sérgio Natureza).
O êxtase se dá em "Três Irmãos", canção tradicional francesa do século 16 vertida por Fausto Nilo ao linguajar trágico de periferia das metrópoles brasileiras. Por ela, duas vozes díspares vertem lágrimas e sublinham que o pessoal do Ceará e o pessoal do Maranhão sangrou para o Sudeste e hoje pertence ao Brasil inteiro. Disco urbano em essência, alegoriza aí o trajeto Garanhuns-Brasília.
O último trunfo se encontra em "Cantor de Bolero", cafona e nordestina ao cúmulo. Ali se guarda a maior proposta do disco, de demolição de preconceitos e reconciliação dos "brasis", das classes sociais, dos avessos. No Brasil.
Avaliação:
Fagner & Zeca Baleiro
Lançamento: Indie Records
Quanto: R$ 30, em média
Leia mais
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice