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15/11/2003 - 09h13

Caetano Veloso lança livro em que comenta arquitetura de canções

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
enviado especial ao Rio

Em 1986, em seu filme "Cinema Falado", Caetano Veloso punha o filho Moreno, ainda menino, e a mulher de então, Dedé, a proclamar que o Brasil se tornaria o primeiro país do século 21.

Hoje é século 21; o garoto-prodígio da tropicália tem 61 anos, lançará "Cinema Falado" em DVD e volta às livrarias com "Letra Só", um compêndio de suas letras que ele próprio comenta, destrincha, tenta às vezes retocar.

Ri, oscila e afirma que o Brasil não é o primeiro país do século 21. "Não. Mas um pouquinho. Esse desejo nunca esteve tão presente na empreitada política real quanto agora, com a eleição de Lula."

Quem o diz hesitou em votar em Luiz Inácio Lula da Silva até a hora H, dentro da cabine. "Eu tinha medo de eles quererem fazer de eleição revolução. Sou muito ignorante em política, mas tinha medo. Eu era igual à Regina Duarte. Mas votei no Lula. E vi que não. O momento era Lula, o Brasil tinha que dizer isso", narra.

"É um gesto de extrema importância. Eu não tinha sangue de barata para entrar naquela cabinezinha e não votar no Lula", justifica. Mas votou decidido a votar em José Serra no segundo turno. Ia virar de voto, "só para me sentir perfeitamente de acordo comigo mesmo". Viajou --e não votou em ninguém no segundo turno.

Em entrevista ao lado do poeta Eucanaã Ferraz, 42, que organizou "Letra Só" e tomou seus depoimentos, Caetano falou sobre todos os assuntos e o livro.

Lembrou episódios que ali toca de raspão, como divergências com Jards Macalé, depois ex-tropicalista e ex-amigo, e Elis Regina (1945-82), antitropicalista com quem Caetano vivia às turras.

De Elis, chegou à filha de Elis, o advento musical Maria Rita, e à polêmica tropicalista Preta Gil. De Preta, foi ao pai de Preta, o amigo Gilberto Gil, o tropicalismo no poder central do país no século 21. Abaixo, blocos de Caetano.

Jards Macalé - "Fiz a música que ele não quis fazer ["Esse Cara", que, segundo "Letra Só", Macalé não quis musicar porque "podiam achar que aquilo era coisa de veado"] e continuamos em Londres, tocando juntos, nos divertindo, conversando até de madrugada. Ele morava na minha casa. Não houve nenhum momento de animosidade por causa disso, não houve briga".

Elis Regina - "Quando cantou num especial de Gal Costa na Globo, Elis me pareceu muito mais artista que Gal. Em geral as pessoas achavam o contrário, porque Elis não abria o olho, a roupa era estranha. Mas Elis ali me pareceu um músico, um artista com uma tragédia de vida que aparecia na arte, na postura, no estilo. Nunca uma cantora de tão alto talento musical chegou ao estrelato no Brasil. Ela é única, entre as estrelas não há ninguém. Há Jane Duboc, Leny Andrade, mas ao primeiro time de estrelato só Elis chegou".

Maria Rita - "O que mais me impressiona é a alta qualidade musical dela. Nesse ponto ela está no nível de Elis, lá em cima. Mas é é uma menina de 20 e poucos anos que canta ao estilo de uma mulher que aos 20 e poucos anos nem sonhava que chegaria a cantar assim. Maria Rita aprendeu mais justamente com a última fase de Elis. Mas ela começa com uma base de segurança que a mãe não teve. A mãe era um grande talento que foi jogado aos leões".

Preta Gil - "Ela canta muito bem, sem problema. A nudez da fotografia nem precisava mostrar, porque no show mostra que é muito desembaraçada. Preta Gil é o melhor do axé refinado, bem-humorado, um pouco debochado, um pouco autoparódico. É filha de tropicalista, foi educada nesse ambiente. As fotos dela nua, não achei geniais como atitude, mas também não achei detestáveis. Não achei isso um aspecto muito importante. Talvez eu não achasse a foto tão bonita assim para dizer que adorei, mas nem é feia para justificar um problema".

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