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25/11/2003 - 03h21

Comentário: Aqui, a indústria vem depois

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INÁCIO ARAUJO
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Brasília 2003 não é, em definitivo, um festival de veteranos, aos quais se oporia um "novo cinema brasileiro". A oposição que se desenha por aqui é entre indústria cultural e arte industrial.

Qual a diferença? Numa, a indústria vem depois; na outra, vem antes. Numa se fala em arte, na outra em cultura. Numa, o público protagoniza um diálogo às vezes árido com a obra, na outra, oferece-se, quase sempre, um prato pronto.

Essa é a encruzilhada em que o cinema brasileiro foi lançado pela necessidade de reconquistar seu público, a partir dos anos 90, num mercado cinematográfico diverso do que existiu até a década de 80. Aos poucos, foram aparecendo os êxitos da retomada, a crença de que é possível atingir grandes públicos etc.

Do ponto de vista da indústria cultural, esse é o paraíso. Da arte que é o cinema, nem tanto. Brasília, pelo menos, lembra a vários aspirantes ao sucesso que cinema não é contar uma historinha.

Provocações

"O Signo do Caos", "Filme de Amor", "Garotas do ABC", "Lost Zweig" são filmes provocativos (embora muito diferentes entre si), que chamam o espectador a se posicionar diante da própria narratividade (no caso dos três primeiros) ou a questionar a história brasileira ("Zweig").

Existem, é claro, gradações: "O Signo do Caos" gira em torno da impossibilidade da imagem e do cinema. Rogério Sganzerla faz seu filme gravitar em torno de uma frase cheia de sentidos: "Você ainda não viu nada. Nem vai ver".

E é ao "não ver" decorrente de nosso pecado original (a perda dos negativos de "É Tudo Verdade", a censura a Orson Welles, à hipótese de ver o Brasil com olhos livres).

Com "Garotas do ABC", Carlos Reichenbach parece responder com ênfase a esse negativismo. No filme, estão operárias bonitas, sindicalistas sedutores, skinheads boçais, drama, aventuras, chanchada, o trabalho e o lazer vistos com olhos liberados das convenções do filme social e do drama psicológico.

Julio Bressane reafirma seu desejo de uma arte que atravessa o tempo e espaço sem timidez e parece buscar o antigo ideal do cinema como síntese de todas as artes (ou signo de todos os signos?). "Filme de Amor" resgata à mitologia grega a figura das Três Graças (deusas da alegria, do encanto e da beleza) e as transporta ao Rio de Janeiro num filme belíssimo, que corre, no entanto, o risco de intimidar o espectador pela enorme erudição envolvida e pela austeridade com que trata o tema do amor.

Mesmo antes da exibição de "Harmada", de Maurice Capovilla, que aconteceria segunda à noite, o certo é que estamos diante de um conjunto de filmes para quem o cinema só é produto subsidiariamente. E que, em definitivo, não tem a função de adular o espectador ou comerciar nossa miséria (como diz Glauber em "Glauber o Filme").

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