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30/11/2003 - 08h25

Netinho de Paula defende cotas para negros "até em telejornais"

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CYNARA MENEZES
free-lance para a Folha

Pagodeiro romântico, apresentador de um programa dominical de televisão com alguns quadros bem bobinhos, Netinho de Paula, 33 anos, 100% Cohab como na camiseta (cresceu em um prédio desse projeto habitacional de São Paulo), de bobo não tem nada. Ambicioso, planeja ser ninguém menos que "o representante do povo da periferia". E não descarta entrar para a política.

Seu veículo por enquanto é a TV, ainda que afirme ser sua prioridade cantar. "Foi cantando que as portas se abriram", diz. O programa que apresenta há dois anos na Record, "Domingo da Gente", empatou em audiência no último domingo com o "Show do Milhão", de Silvio Santos, e chegou a ultrapassar o SBT no horário de pico com o quadro "A Princesa e o Plebeu".

Nele, o apresentador vai até a casa de uma fã e a transforma em estrela por um dia, coisa parecida ao que o homem-sorriso já fazia na década de 1970, com o lacrimoso "Boa Noite, Cinderela". O próprio programa não foge do formato tradicional das atrações domingueiras, com um toque "social". Mas o que distingue mesmo o show e lhe dá audiência, diz acreditar Netinho, é ser apresentado por um homem negro.

Se foi a música que deu o empurrãozinho para conseguir o programa, o show, por sua vez, alicerçou caminhos para outros projetos. Como o "Turma do Gueto", o primeiro seriado com protagonistas negros da TV brasileira, que ele idealizou.

Agora está promovendo um workshop de roteiristas no Rio, em parceria com a produtora Picante Pictures, de Los Angeles, que banca o projeto, para a criação de uma nova série. No cinema, quer estrear em abril do ano que vem "A TV do Ano", roteiro seu com direção de Jefferson De, o cabeça do "Dogma Feijoada", movimento que propõe, entre outras idéias, banir das telas a presença ostensiva de negros com armas na mão. Foi por achar que a série tinha ficado violenta demais que Netinho saiu da "Turma do Gueto". "Faltava poesia", diz.

Ele conta que deu trabalho para convencer a Record a exibir a série, produzida pela Casablanca e já em sua terceira temporada. "Eles reagiram como se já tivessem cumprido sua cota de negros na TV com o Netinho no domingo", ironiza, apesar de a emissora ter sua preferência para a exibição do novo sitcom. Aliás, ele aprova as cotas para negros em tudo, "até nos telejornais".

Com 14 pontos no Ibope conquistados em São Paulo (cada ponto equivale a 48,5 mil domicílios na Grande São Paulo), em seu último episódio, exibido às segundas-feiras, o "Turma do Gueto" tem no personagem Jamanta, interpretado por Nil Marcondes, seu campeão de cartas, embora seja um traficante.

Para Netinho, nada de mais verdadeiro --mesmo com críticas ao rumo tomado pelo programa que deixou. "Isso é a única coisa que é realidade no programa. O bandido é a referência de sucesso mais próxima que se tem na periferia", diz. "O professor chega de ônibus, enquanto o traficante chega num carrão, é popular entre as mulheres. Além disso, é bom ter um ator como Nil sendo chamado de gostoso. Isso aconteceu direto com branco bandido na novela das oito da Globo."

Netinho afirma que quem vê "Turma do Gueto", ao contrário do que diz o Ibope, não são as classes C e D, mas adolescentes de classe média, brancos inclusive, que assistem ao programa porque se identificam com o jeito hip hop do negro, um fenômeno já observado nos EUA. "Os caras querem falar na gíria do negro, se vestir igual. Todo mundo morre de vergonha de ser playboy."

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