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30/11/2003 - 08h27

Para Netinho, Ibope teme as classes C e D

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free-lance para a Folha

O cantor e apresentador Netinho, 33, recebe a reportagem no escritório da rede de cabeleireiros especializados em cabelos crespos que mantém --são cinco hoje, serão quase 50 no ano que vem, segundo ele planeja. Ao vivo, é mais magro e mais baixo do que na TV. Parece desconfiado, mas aos poucos vai revelando sua estratégia.

Quer atingir todos os públicos com seus programas de televisão, não apenas os negros, porque os telespectadores estariam clamando por mais miscigenação na tela. "Turma do Gueto", por exemplo, era um grande anseio da comunidade branca, por isso fez sucesso. Os brancos estão cheios de ver só brancos na televisão."

Netinho não dá muitas pistas sobre o seriado que prepara com roteiristas americanos no Rio. Fala apenas que é inspirado em sua própria vida e que admira como modelo "A Grande Família", a melhor série, em sua opinião, atualmente no ar --uma idéia de 30 anos atrás. Aplaude o fato de a Globo escalar uma protagonista negra, a bela Thaís Araújo, para a próxima novela das sete, "Da Cor do Pecado".

Mas afirma que "Cidade dos Homens" não teria tido espaço na emissora carioca se "Turma do Gueto" não tivesse surgido antes e mostrado que há público para um programa com negros da periferia. Uma audiência que especula ser maior do que se imagina: os índices do Ibope, embora venham se mostrando generosos, são vistos com desconfiança.

"Uma vez um diretor do Ibope me disse que não existe medição de audiência na periferia porque eles têm medo de colocar os aparelhos lá. Por isso acho que é no mínimo classe B a audiência do meu programa. As classes C e D não são pesquisadas", acusa. Procurado pela Folha, o Ibope não se manifestou a respeito.

Falar em armas em excesso na "Turma do Gueto", razão de sua saída, parece contraditório para um fã, mesmo pagodeiro, do rap agressivo feito em São Paulo, personificado nos Racionais MCs e em seu líder Mano Brown, amigo de Netinho. O apresentador de quadros doces na televisão diz, porém, carregar a mesma revolta que move os rappers, com tática distinta. "Quero encontrar adeptos pela minha ideologia. A violência não ajuda a comunidade."

Também acha que os próprios rappers estão encontrando outro caminho, evitando os "exageros" que atingiram as letras das canções. "Ninguém pretende glamurizar a violência. O próprio Brown fala que não quer "viver no país das calças bege" [a prisão]. Foi uma radicalização que o samba também cometeu, ao falar só de amor, mas isso está mudando."

Atribui às circunstâncias sua opção pelo pagode romântico com o grupo Negritude Júnior, no início da carreira, como o que era "permitido" no nível cultural que tinham. Mas não desdenha. Diz que foi o pagode, tão criticado, que tornou possível a expansão que vê da presença do negro na mídia atualmente. "Foi o pagode que tornou possível o Netinho na TV, o Alexandre Pires (ex-Só Pra Contrariar) na Casa Branca."

O que ele achou disso? Foi bajulação do império americano? "O presidente dos EUA manda no mundo e, se um neguinho cantando pagode chegou até ele, deve ser respeitado. Chegar ali não é fácil, criticar é que é."

A pregação de Netinho vai por caminhos que fazem lembrar os da política. E ele fala que pensa em se candidatar algum dia, depois que der sua "contribuição" para a causa da periferia na TV. O partido seria o seu mesmo, o fictício Partido das Pessoas da Periferia.

O apresentador, incorporando a frase clássica de Martin Luther King Jr. (1929-68), diz: "Eu tenho um sonho...". É "melhorar a auto-estima das crianças negras."

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