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13/12/2003
-
06h43
crítico da Folha
Primeiro foram os criadores; depois, as criaturas. Antes, J.M. Coetzee, 63, se valia de escritores como Dostoiévski para montar sua ficção, mas, pelo menos desde "A Vida dos Animais", são os personagens que vêm à cena discursar, como pessoas de carne e osso.
Na conferência que fez no último domingo (denominada "Ele e Seu Homem"), em função do Nobel de literatura que ganhou neste ano, foram as palavras de um certo Robinson Crusoé (personagem de Daniel Defoe; 1660-1731) que ele apresentou para as cerca de 500 pessoas que se reuniram no teatro Dramaten, de Estocolmo.
Trata-se de um Robinson envelhecido, que vive na zona portuária de Bristol, Inglaterra. Não o acompanham mais seu papagaio nem Sexta-Feira. Da ilha que o abrigou por quase trinta anos, restam-lhe apenas o guarda-sol e as lembranças. Recebe notícias de "seu homem", ou seja, de Daniel Defoe, que percorre o país recolhendo notícias, como a invenção da guilhotina, e um estratagema para caçar patos.
Outro assunto é a peste que assolou Londres em 1665: "Alguns londrinos continuam a tocar sua vida (...). Mas secretamente têm a praga no sangue: quando a infecção alcança-lhes o coração, caem mortos na hora. (...) E esta é a representação da vida em si, a vida inteira. Preparação adequada. Precisamos nos preparar adequadamente para a morte".
Coetzee diz que primeiro leu "Robinson Crusoé" aos nove anos. Após deleitar-se com o relato escrito em primeira pessoa, perguntou-se quem seria Daniel Defoe: "Qual era seu papel? Seria um pseudônimo de Robinson Crusoé?"
Já na conferência, Robinson/Coetzee indaga: "Como podem ser compreendidos, ele e seu homem? (...) Que nome ele deveria dar a esse sujeito sem-nome, com quem partilha suas tardes e às vezes as noites também (...)?". Figura materializada na noite hibernal de Estocolmo, Robinson ilumina Defoe, seu criador, assim como das sombras Coetzee dá vida a ambos, feito espectro transfigurado por outro.
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Nobel J.M. Coetzee veste sua narrativa com Dostoiévski
Na Suécia, Coetzee "encarna" Robinson Crusoé
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Primeiro foram os criadores; depois, as criaturas. Antes, J.M. Coetzee, 63, se valia de escritores como Dostoiévski para montar sua ficção, mas, pelo menos desde "A Vida dos Animais", são os personagens que vêm à cena discursar, como pessoas de carne e osso.
Na conferência que fez no último domingo (denominada "Ele e Seu Homem"), em função do Nobel de literatura que ganhou neste ano, foram as palavras de um certo Robinson Crusoé (personagem de Daniel Defoe; 1660-1731) que ele apresentou para as cerca de 500 pessoas que se reuniram no teatro Dramaten, de Estocolmo.
Trata-se de um Robinson envelhecido, que vive na zona portuária de Bristol, Inglaterra. Não o acompanham mais seu papagaio nem Sexta-Feira. Da ilha que o abrigou por quase trinta anos, restam-lhe apenas o guarda-sol e as lembranças. Recebe notícias de "seu homem", ou seja, de Daniel Defoe, que percorre o país recolhendo notícias, como a invenção da guilhotina, e um estratagema para caçar patos.
Outro assunto é a peste que assolou Londres em 1665: "Alguns londrinos continuam a tocar sua vida (...). Mas secretamente têm a praga no sangue: quando a infecção alcança-lhes o coração, caem mortos na hora. (...) E esta é a representação da vida em si, a vida inteira. Preparação adequada. Precisamos nos preparar adequadamente para a morte".
Coetzee diz que primeiro leu "Robinson Crusoé" aos nove anos. Após deleitar-se com o relato escrito em primeira pessoa, perguntou-se quem seria Daniel Defoe: "Qual era seu papel? Seria um pseudônimo de Robinson Crusoé?"
Já na conferência, Robinson/Coetzee indaga: "Como podem ser compreendidos, ele e seu homem? (...) Que nome ele deveria dar a esse sujeito sem-nome, com quem partilha suas tardes e às vezes as noites também (...)?". Figura materializada na noite hibernal de Estocolmo, Robinson ilumina Defoe, seu criador, assim como das sombras Coetzee dá vida a ambos, feito espectro transfigurado por outro.
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