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09/01/2004
-
06h18
SYLVIA COLOMBO
editora-adjunta da Ilustrada
Outro acidente, desta vez com vítimas fatais. A metáfora preferida do mexicano Alejandro Iñárritu --o choque brutal e sangrento entre carros e carnes humanas-- serve de novo para entrelaçar destinos neste "21 Gramas". Desta vez, porém, as histórias não versam sobre amores e cães, mas tangem temas como a culpa, a morte e os limites do livre-arbítrio.
Se no elogiado "Amores Brutos" (2000), o acidente surgia quase como se fizesse parte do cenário da caótica Cidade do México, agora ele irrompe num pacato bairro residencial de uma cidade norte-americana. Se daquela vez cruzavam-se três enredos melodramáticos, agora a história emparelha corações que estão, literalmente, hesitando entre as razões de estar vivo enquanto espreitam a morte de soslaio.
Sean Penn vive um professor de matemática à espera de um transplante de coração. Benício del Toro, um ex-condenado que virou religioso, e Naomi Watts, uma ex-viciada agora feliz e casada.
Para quem não aguenta mais filmes contados de trás para a frente ou de narrativa fragmentada, um aviso. Aqui, o fato de Iñárritu não seguir uma linha cronológica clara não é nada gratuito. Primeiro, porque cada trecho representa um pequeno recomeço, numa história que é sobre o despertar e a superação de culpas. Depois, porque o recurso permite embaralhar a idéia de que o passado necessariamente valida ou possibilita o futuro, numa espécie de investigação sobre os limites do livre-arbítrio.
Iñárritu se irritava quando comparavam seu "Amores Brutos" aos filmes de Quentin Tarantino. Dizia que sua violência não vinha dos quadrinhos, dos clipes. Era real e nascia daquilo que cresceu vendo na Cidade do México. Daí, talvez, se explique ter feito um filme com menos concessões, em que a brutalidade e a desesperança aparecem nuas e o que havia de exagerado ou de novelesco na trama dos cães desaparece.
Por isso também a imagem granulada, os rostos lavados e os lábios sem cor. Não há sinal do que havia em "Amores Brutos" de televisivo, publicitário ou melodramático --ainda que esses elementos não o desmerecessem. "21 Gramas", é, porém, mais cinema.
Avaliação:
21 Gramas (21 Grams)
Produção: EUA
Direção: Alejandro Iñárritu
Com: Sean Penn, Benício del Toro
Quando: a partir de hoje nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex 1, Bristol 6 e circuito
Leia mais
"21 Gramas" mira vácuo entre os que partem e os que ficam
Crítica: Vão-se os cães, ficam os amores
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editora-adjunta da Ilustrada
Outro acidente, desta vez com vítimas fatais. A metáfora preferida do mexicano Alejandro Iñárritu --o choque brutal e sangrento entre carros e carnes humanas-- serve de novo para entrelaçar destinos neste "21 Gramas". Desta vez, porém, as histórias não versam sobre amores e cães, mas tangem temas como a culpa, a morte e os limites do livre-arbítrio.
Se no elogiado "Amores Brutos" (2000), o acidente surgia quase como se fizesse parte do cenário da caótica Cidade do México, agora ele irrompe num pacato bairro residencial de uma cidade norte-americana. Se daquela vez cruzavam-se três enredos melodramáticos, agora a história emparelha corações que estão, literalmente, hesitando entre as razões de estar vivo enquanto espreitam a morte de soslaio.
Sean Penn vive um professor de matemática à espera de um transplante de coração. Benício del Toro, um ex-condenado que virou religioso, e Naomi Watts, uma ex-viciada agora feliz e casada.
Para quem não aguenta mais filmes contados de trás para a frente ou de narrativa fragmentada, um aviso. Aqui, o fato de Iñárritu não seguir uma linha cronológica clara não é nada gratuito. Primeiro, porque cada trecho representa um pequeno recomeço, numa história que é sobre o despertar e a superação de culpas. Depois, porque o recurso permite embaralhar a idéia de que o passado necessariamente valida ou possibilita o futuro, numa espécie de investigação sobre os limites do livre-arbítrio.
Iñárritu se irritava quando comparavam seu "Amores Brutos" aos filmes de Quentin Tarantino. Dizia que sua violência não vinha dos quadrinhos, dos clipes. Era real e nascia daquilo que cresceu vendo na Cidade do México. Daí, talvez, se explique ter feito um filme com menos concessões, em que a brutalidade e a desesperança aparecem nuas e o que havia de exagerado ou de novelesco na trama dos cães desaparece.
Por isso também a imagem granulada, os rostos lavados e os lábios sem cor. Não há sinal do que havia em "Amores Brutos" de televisivo, publicitário ou melodramático --ainda que esses elementos não o desmerecessem. "21 Gramas", é, porém, mais cinema.
Avaliação:
21 Gramas (21 Grams)
Produção: EUA
Direção: Alejandro Iñárritu
Com: Sean Penn, Benício del Toro
Quando: a partir de hoje nos cines Frei Caneca Unibanco Arteplex 1, Bristol 6 e circuito
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