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12/01/2004 - 08h28

Fãs aprendem "a bater cabeça" desde o berço

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MARCOS DÁVILA
free-lance para a Folha

"Que barulho é esse? Parece que o cara está vomitando no microfone. Desliga isso menina!", esbraveja o pai da adolescente Thauanna Dutra Teixeira, 16, ao ouvir o canto (grito?) gutural do vocalista da banda de death metal Cannibal Corpse. Depois de abaixar o volume, a estudante pára e pensa: "A culpa é do velho, afinal. Eu cresci ouvindo Deep Purple e Black Sabbath com ele".

A história de Thauanna não é muito diferente da iniciação dos outros jovens que desfilam todos os dias pela Galeria do Rock, no centro de São Paulo, em camisetas pretas com estampas de monstros, demônios e outras aberrações sob o nome de bandas como Iron Maiden, Nightwish, Shaman, Sepultura, Metallica etc. Algum dia, eles ouviram os acordes distorcidos de um certo Ritchie Blackmore ou os gritos ensandecidos de um tal Ozzy Osbourne ali mesmo, no seio do lar, com pai, mãe, irmão ou vizinho. Daí, para a febre do metal se alastrar pelas veias basta um leve chacoalhar de cabeça.

Vestida de preto dos pés à cabeça, Thauanna diz que sua preferência mesmo é o doom metal, "uma mistura de gótico com black metal", explica. Ainda assim, ela já está com ingresso comprado para ver o tradicional Iron Maiden no Pacaembu, ao lado do namorado, o guitarrista e cantor Gabriel Lopes, 18. "É um som que nunca sai de moda e tem um público muito fiel", afirma Lopes, que já tocou na banda Dark Eagle e está começando a formar outra.

A jovem Daniella Aguiar Andrade, 16, outra frequentadora da Galeria do Rock, também toca um instrumento: flauta transversal. Ela é integrante da Banda Sinfônica de Cubatão, mas não esconde sua paixão pelo heavy metal. "Música erudita tem tudo a ver com metal", diz a estudante, que adora o chamado metal melódico e bandas como a italiana Raphsody, que usa elementos sinfônicos nas composições.

Em 2002, Daniella e seus amigos de Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, onde vive, vieram para a capital ver a apresentação da banda finlandesa Nightwish, no Credicard Hall. "Quando terminou o show, pegamos o último ônibus para a praça da Sé. Mas, ao chegar lá, o metrô já tinha fechado e tivemos de dormir ali mesmo", lembra.

Seu amigo Tiago Bosqué Ferreira, 16, que também estava na empreitada, começou a ouvir heavy metal aos quatro anos (!), acompanhado de sua prima, que era "insana por Iron Maiden". "O meu "The Number of the Beast" [disco do Iron] já está quase furado", conta Ferreira, que se sente atraído por temas macabros e esotéricos e curte muito jogar o RPG (Role-Playing Games) "Vampiro - A Máscara".

A paixão por esoterismo, RPG e histórias medievais também é recorrente entre jovens metaleiros, principalmente no meio daqueles que curtem bandas como Blind Guardian, que vira e mexe busca inspiração nos escritos de J.R.R. Tolkien --não é raro ver camisetas com personagens da trilogia "Senhor do Anéis" à venda nas lojas da galeria.

A fanzineira Jimena Gandarillas, 19, afirma que o mangá (quadrinhos japoneses) também tem boa aceitação entre os amantes do metal. Tanto, que acabou criando o personagem metaleiro Guilherme em um de seus fanzines.

A Galeria do Rock serve de cenário para suas HQs, assim como os bares Manifesto - El Templo del Rock, no Itaim Bibi, e o Led Slay, há 30 anos no Tatuapé. Neste último, a geração anterior a toda essa molecada agitava igualmente suas cabeleiras ao som de Led Zeppelin, Black Sabbath e Judas Priest... Hoje, o lugar recebe bandas cover de... Led Zeppelin, Black Sabbath e Judas Priest. Será um déjà vu?

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