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21/06/2008 - 10h38

Ingo Schulze leva contos e história alemã à Flip

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EDUARDO SIMÕES
da Folha de S.Paulo

A Festa Literária Internacional de Parati, que acontece entre 2 e 6 de julho, terá em sua sexta edição o primeiro convidado da Alemanha, Ingo Schulze, 45. O alemão nascido em Dresden, na então Alemanha Oriental, participará, ao lado de Modesto Carone e Rodrigo Naves, da mesa "Formas Breves".

O escritor lança em Paraty "Celular - 13 Histórias à Maneira Antiga" (Cosac Naify), uma coletânea de contos, formato com o qual se tornou um expoente da prosa alemã em sua geração. A escolha entre a narrativa de fôlego dos romances --Schulze tem um em sua bibliografia "Neue Leben" (novas vidas)-- e as formas breves, que nomeiam sua mesa na Flip, são uma questão essencial no seu processo criativo.

"Há algumas semanas discuti com alguns amigos quando se deve usar o conto ou o romance. Não chegamos a uma conclusão. Eles descrevem diferentes espécies de experiência, diferentes tempos, distintos reservatórios de material", diz Schulze, em entrevista à Folha.

"Até hoje eu sempre optei pelo conto quando queria reagir de modo imediato ao mundo ao meu redor. O conto, então, era o tempo real, que eu vivenciava com mais proximidade. No romance, atira-se a rede também para o passado e só depois se vê o que se pescou."

Inspirações

Nos livros de Schulze, a decisão de qual formato usar se dá em paralelo à escolha das fontes de inspiração estilística. Para seu primeiro livro, "33 Augenblicke des Glücks" (33 momentos da felicidade), que se passa em São Petersburgo, na Rússia do início dos anos 90, o escritor lançou mão da literatura russa e soviética, desde lendas até os contos de Púchkin e Tchekov, entre outros.

No segundo livro, "Histórias Simples", Schulze conta que encontrou um "parentesco" entre as mudanças sociais, culturais e econômicas vividas pelos Estados Unidos dos anos 50 e pela Alemanha Oriental dos anos 90. Daí sua inspiração em escritores como Raymond Carver e Ernest Hemingway. Já para o romance "Neue Leben", Schulze conta que "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, foi um "grande estímulo".

Em "Celular", explica Schulze, salvo as quatro primeiras histórias, trata-se antes de tudo de tomar empréstimos da tradição oral. As histórias contadas aí foram escritas entre 1996 e 2006, período em que Schulze observa as mudanças na sociedade alemã, como a polarização entre ricos e pobres.

"Eu conheço vários acadêmicos que preferem andar cinco quilômetros e assim economizar dois euros com a passagem. Porque sobram apenas cerca de quatro euros por dia para eles comerem e beberem. As idas ao cinema ou teatro se tornaram um luxo", conta o autor.

Cotidiano

Schulze chegará a Paraty tendo, embaixo do braço, o manuscrito de seu novo livro, que deve entregar à editora alemã até 14 de julho. "Adam und Evelyn", um conto dividido em 55 capítulos, reconta a história de Adão e Eva, no ano de 1989, quando caiu o Muro de Berlim. O autor não vê como separar a história recente de seu país das histórias simples que extrai do cotidiano. "Aprendo mais da história jantando com a família, ou no bonde, do que em jornais. E, como me interessa a clareza das coisas, o cotidiano é meu ponto de partida."

Schulze resume a universalidade de suas histórias na sua tentativa de "mostrar o mundo numa gota d'água".

"Quando uso, por exemplo, a palavra 'fome', tenho de saber o que ela significa fora do meu contexto. Senão meu conto ou romance fica risível. O mundo tem de estar presente. Mesmo se não me movimento todos os dias por Berlim, se estou atento, então capto, na rua onde moro, toda a cidade. E, com ela, influências de todo o mundo."

Com sua prosa voltada para o cotidiano e a história, Schulze defende uma literatura de intensa troca entre leitor e escritor. "Como leitor, fico feliz com um livro quando percebo que não estou sozinho em minhas experiências. Ali está alguém que vivenciou algo parecido, mas que somente conseguiu expressá-lo num conto ou romance, não numa conversa ou carta. Eu não quero ficar sozinho com minhas experiências. Seria um pouco como enviar mensagens numa garrafa. Algumas serão encontradas, até mesmo lidas em voz alta. Outras passam por várias costas e navios e terminam arrebentando contra um iceberg."

 

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