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20/02/2004
-
08h26
PAOULA ABOU-JAOUDE
free-lance para a Folha, de Los Angeles
Ao assumir o lugar de Steven Spielberg no filme "Peixe Grande", o diretor americano Tim Burton, 45, fez de sua direção uma experiência catártica, aproveitando o tema de uma relação entre pai e filho fraturada.
Segundo Burton, a morte de seu pai, um ano antes, o motivou a levantar questões pessoais sobre sua relação com ele. Uma circunstância semelhante à do argumento de "Peixe Grande", em que um jornalista (Billy Crudup) visita o pai (Albert Finney) agonizante com pendências a resolver.
No filme, indicado apenas ao Oscar de trilha sonora (feita por Danny Elfman, de "Gênio Indomável"), Crudup não consegue acreditar nas histórias fantásticas com que o pai relembra a própria juventude. Só que, ao chegar à casa do pai, o filho é atacado pelas memórias dessas histórias, com Ewan McGregor interpretando a versão jovem do pai.
Uma situação delicada que permitiu ao cineasta trazer histórias de sua própria distância na relação paterna. Além disso, há um outro pequeno detalhe a ser acrescentado: com o nascimento de seu primeiro filho, Burton agora experimenta o outro lado dessa relação, ao lado da mulher, a atriz Helena Bonham-Carter. Situação que o cineasta classifica como "a mais estranha" de sua vida.
"Peixe Grande" acabou resultando também numa experiência diferente para o diretor, que tem no currículo "Os Fantasmas se Divertem", "Batman", "Ed Wood" e "Edward Mãos de Tesoura". "Pela primeira vez, lidei de frente com uma história emotiva", disse o cineasta à Folha.
Na entrevista, Burton explica por que, dessa vez, preferiu pôr o ator inglês Ewan McGregor como protagonista do filme, em vez de recorrer a sua consagrada parceria com o ator Johnny Depp.
Mas que não se pense em ruptura. Depp já está escalado por Burton para seu próximo projeto, um remake de "A Fantástica Fábrica de Chocolates" (1971). O filme de Mel Stuart marcou a infância de grande parte dos trintões atuais e conta a história de um garoto pobre que tem a chance de conhecer a maior fábrica de doces do planeta, propriedade de Willy Wonka, interpretado por Gene Wilder.
Folha - "Peixe Grande" é o seu filme mais maduro. Por que decidiu arriscar um tema diferente?
Tim Burton - Meu pai tinha morrido no ano anterior. E a morte dele certamente foi impactante, pois me colocou para refletir sobre como, às vezes, é difícil um relacionamento.
Nunca fui particularmente próximo a ele. Meu pai não era mau, mas saí de casa muito cedo e nunca mais nos demos. Quando recebi o roteiro de "Peixe Grande", senti que ele abordava as mesmas coisas nas quais vinha pensando e achei que poderia ser uma experiência interessante explorar ambos os lados da relação pai-filho.
Folha - Como não se trata de um projeto que você desenvolveu desde o início, foi difícil impor o lado Tim Burton na história?
Burton - Um diretor sempre tenta fazer seu filme o mais pessoal possível. Fui feliz com esse projeto, pois não tive que me forçar para conectar-me com ele. Tudo já estava lá. Mas é claro que acrescentei meu imaginário, como a cena do nascimento do bebê, a do banho do gigante. A cena de Albert e Jessica Lange na banheira também foi uma adição que fiz de última hora.
Folha - No passado você teria contratado Johnny Depp, mas agora escolheu Ewan McGregor. Por quê?
Burton - Foi olhando uma foto do jovem Albert Finney em "As Aventuras de Tom Jones" (1963) e depois comparando-a com uma de Ewan, que notei uma assustadora semelhança entre eles. Adoro atores que possam fazer uma performance espalhafatosa.
E Ewan é maravilhoso nesse aspecto, pois ele pode ser muito engraçado e dramático ao mesmo tempo, mas sem perder a humanidade que o personagem precisava. Torturei-o muito fazendo com que ele rodasse cenas limpando bosta de elefantes, ou lutando com lobos. E em todos os casos ele foi ótimo (risos).
Folha - A cena do nascimento do bebê é muito engraçada. A propósito, como foi acompanhar o parto da atriz Helena Bonham-Carter, que recentemente lhe deu seu primeiro filho?
Burton - Foi como ter tido uma sessão particular de "Alien, o Oitavo Passageiro" (risos). Você atravessa a vida escutando as pessoas dizerem: "Isso é estranho, isso é maluco". Mas quando vi meu filho nascendo, aquilo sim foi a coisa mais estranha que presenciei em minha vida.
Folha - Você vai mesmo fazer o remake de "A Fantástica Fábrica de Chocolates"?
Burton - Sim, no momento finalizo o roteiro e Johnny [Depp] vai interpretar o Willy Wonka. Também estou fazendo um desenho chamado "The Corpse Bride".
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free-lance para a Folha, de Los Angeles
Ao assumir o lugar de Steven Spielberg no filme "Peixe Grande", o diretor americano Tim Burton, 45, fez de sua direção uma experiência catártica, aproveitando o tema de uma relação entre pai e filho fraturada.
Segundo Burton, a morte de seu pai, um ano antes, o motivou a levantar questões pessoais sobre sua relação com ele. Uma circunstância semelhante à do argumento de "Peixe Grande", em que um jornalista (Billy Crudup) visita o pai (Albert Finney) agonizante com pendências a resolver.
No filme, indicado apenas ao Oscar de trilha sonora (feita por Danny Elfman, de "Gênio Indomável"), Crudup não consegue acreditar nas histórias fantásticas com que o pai relembra a própria juventude. Só que, ao chegar à casa do pai, o filho é atacado pelas memórias dessas histórias, com Ewan McGregor interpretando a versão jovem do pai.
Uma situação delicada que permitiu ao cineasta trazer histórias de sua própria distância na relação paterna. Além disso, há um outro pequeno detalhe a ser acrescentado: com o nascimento de seu primeiro filho, Burton agora experimenta o outro lado dessa relação, ao lado da mulher, a atriz Helena Bonham-Carter. Situação que o cineasta classifica como "a mais estranha" de sua vida.
"Peixe Grande" acabou resultando também numa experiência diferente para o diretor, que tem no currículo "Os Fantasmas se Divertem", "Batman", "Ed Wood" e "Edward Mãos de Tesoura". "Pela primeira vez, lidei de frente com uma história emotiva", disse o cineasta à Folha.
Na entrevista, Burton explica por que, dessa vez, preferiu pôr o ator inglês Ewan McGregor como protagonista do filme, em vez de recorrer a sua consagrada parceria com o ator Johnny Depp.
Mas que não se pense em ruptura. Depp já está escalado por Burton para seu próximo projeto, um remake de "A Fantástica Fábrica de Chocolates" (1971). O filme de Mel Stuart marcou a infância de grande parte dos trintões atuais e conta a história de um garoto pobre que tem a chance de conhecer a maior fábrica de doces do planeta, propriedade de Willy Wonka, interpretado por Gene Wilder.
Folha - "Peixe Grande" é o seu filme mais maduro. Por que decidiu arriscar um tema diferente?
Tim Burton - Meu pai tinha morrido no ano anterior. E a morte dele certamente foi impactante, pois me colocou para refletir sobre como, às vezes, é difícil um relacionamento.
Nunca fui particularmente próximo a ele. Meu pai não era mau, mas saí de casa muito cedo e nunca mais nos demos. Quando recebi o roteiro de "Peixe Grande", senti que ele abordava as mesmas coisas nas quais vinha pensando e achei que poderia ser uma experiência interessante explorar ambos os lados da relação pai-filho.
Folha - Como não se trata de um projeto que você desenvolveu desde o início, foi difícil impor o lado Tim Burton na história?
Burton - Um diretor sempre tenta fazer seu filme o mais pessoal possível. Fui feliz com esse projeto, pois não tive que me forçar para conectar-me com ele. Tudo já estava lá. Mas é claro que acrescentei meu imaginário, como a cena do nascimento do bebê, a do banho do gigante. A cena de Albert e Jessica Lange na banheira também foi uma adição que fiz de última hora.
Folha - No passado você teria contratado Johnny Depp, mas agora escolheu Ewan McGregor. Por quê?
Burton - Foi olhando uma foto do jovem Albert Finney em "As Aventuras de Tom Jones" (1963) e depois comparando-a com uma de Ewan, que notei uma assustadora semelhança entre eles. Adoro atores que possam fazer uma performance espalhafatosa.
E Ewan é maravilhoso nesse aspecto, pois ele pode ser muito engraçado e dramático ao mesmo tempo, mas sem perder a humanidade que o personagem precisava. Torturei-o muito fazendo com que ele rodasse cenas limpando bosta de elefantes, ou lutando com lobos. E em todos os casos ele foi ótimo (risos).
Folha - A cena do nascimento do bebê é muito engraçada. A propósito, como foi acompanhar o parto da atriz Helena Bonham-Carter, que recentemente lhe deu seu primeiro filho?
Burton - Foi como ter tido uma sessão particular de "Alien, o Oitavo Passageiro" (risos). Você atravessa a vida escutando as pessoas dizerem: "Isso é estranho, isso é maluco". Mas quando vi meu filho nascendo, aquilo sim foi a coisa mais estranha que presenciei em minha vida.
Folha - Você vai mesmo fazer o remake de "A Fantástica Fábrica de Chocolates"?
Burton - Sim, no momento finalizo o roteiro e Johnny [Depp] vai interpretar o Willy Wonka. Também estou fazendo um desenho chamado "The Corpse Bride".
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