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26/02/2004 - 05h42

Ivaldo Bertazzo inova a linguagem da dança com 55 jovens de rua

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KATIA CALSAVARA
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Foram mais de oito meses de ensaio para fazer 110 pares de olhos se movimentarem em sincronia. Mais do que ensaiar o olhar dos jovens que participam de "Samwaad - Rua do Encontro", o coreógrafo Ivaldo Bertazzo, 54, propõe modificar o padrão de gesto, linguagem e informação do elenco de seu novo espetáculo, que estréia em 24 de março no Sesc Belenzinho, em São Paulo.

Concentradíssimos, 55 jovens de sete ONGs paulistanas se reúnem em linhas retas, curvas e círculos como se desenhassem e apagassem figuras no palco.

Cada um dos intérpretes depende do movimento do outro, na chamada dança-coral. Nessa espécie de "dança coletiva", o gesto é uniforme, mas não perde a individualidade.

Em 1976, Bertazzo já propagara o termo cidadão-dançante. "Todo mundo pode dançar, mas quando se fala em performance ou palco, é necessário um investimento estético. Como fazer dançar alguém que não é bailarino, que não tem a qualidade de movimentos construídos em uma escola?" Era preciso criar um método.

Nas palavras do coreógrafo, esse "ambicioso" método foi criado e transformado em livro. Juntamente com a estréia do novo espetáculo, será lançado "Espaço e Corpo - Guia de Reeducação do Movimento", pela editora do Sesc, uma espécie de guia para arte-educadores.

Dividido em três blocos (Espaço, Gesto e Construção), o livro traz as técnicas desenvolvidas por Bertazzo ao longo de sua trajetória na reeducação dos movimentos. A apresentação é da crítica da Folha de S.Paulo Inês Bogéa.

"O livro é um guia para qualquer pessoa que trabalhe com arte-educação. A missão é que também professores do ensino fundamental o utilizem para observar seus alunos e perceber índices de desorganização. De repente, um professor em Juazeiro aprende o que é psicomotricidade, a ensinar música e desenvoltura verbal a seus alunos", afirma.

Também será lançado o CD com a trilha de "Samwaad - Rua do Encontro", gravada ao vivo em novembro de 2003. A convite de Bertazzo, estiveram em São Paulo os músicos do grupo indiano Gandharva Mahavidyalaya, que, juntamente com percussionistas de escolas de samba como Vai Vai e X-9 Paulistana se reuniram para compor a trilha.

Bertazzo diz que o novo espetáculo é uma evolução do trabalho que realizou durante três anos na favela da Maré, no Rio de Janeiro, que resultou em "Dança das Marés" (2002).

"Não uso mais o recurso de trazer artistas convidados, as estrelas são os próprios jovens. Mais ainda, é o gesto, o movimento, essa engenhosidade do corpo humano que não pára de produzir linguagens", diz Bertazzo.

A voz do elenco

Para escolher o elenco de "Rua do Encontro", Bertazzo procurou em ONGs paulistanas jovens que já soubessem se movimentar de alguma forma, que fizessem aulas de capoeira, expressão corporal, teatro, dança.

A maioria dos adolescentes selecionados ganha ajuda de custo de R$ 100 e ensaia diariamente cerca de seis horas, com direito a uma folga na semana.

"Meu corpo e meu raciocínio mudaram. Comunico-me melhor e também me desloco melhor agora", diz Marleide Campos da Silva, 14, da ONG Ação Comunitária Tiradentes.

Sidney Silva, 19, da Gol de Letra, ajuda na monitoria e também participa do espetáculo. "Aprendi a lidar com meu corpo, até aprendi a pisar diferente. O Bertazzo nunca fica na mesma, não quer que nosso cérebro cozinhe, por isso muda muito a coreografia até chegar ao resultado final. Meu desenvolvimento na escola melhorou. Até decidi que vou me profissionalizar na dança e fazer projetos de arte-educação", conta.

Orientalismo

A "rua" em que dançam agora esses jovens é um cenário que mistura elementos africanos e tribos urbanas.

Intervenções de artistas plásticos como Kimiko Kashiwara ajudam a criar o clima oriental do espetáculo. Os figurinos, inspirados nas tradições indianas, são de Chico Spinosa.

O palco foi criado especialmente para o evento no galpão de exposições do Sesc Belenzinho. Como pano de fundo, uma escada tipo arquibancada serve como um recurso na movimentação do elenco.

O sobe-desce acompanha a melodia da música indiana. As cítaras, tablas e tampuras alongam o timbre e abrem espaço para a participação especial dos tambores e pandeiros brasileiros.

SAMWAAD - RUA DO ENCONTRO. Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 915, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 6602-3700 ). Quando: estréia em 24 de março; de qua. a dom., às 21h; até 27 de junho. Quanto: de R$ 7 a R$ 20. Patrocinador: Petrobras.

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