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08/03/2004 - 09h20

Chinês Guo-Qiang apresenta projeto de explosão para Bienal de SP

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Será explosiva a abertura da 26ª Bienal Internacional de Artes Plásticas de São Paulo, programada para 25 de setembro. Isso graças ao artista chinês Cai Guo-Qiang, convidado para abrir com uma performance a exposição, na qual irá explodir uma torre de nove metros de altura, envolvida em pólvora, e armada dentro do próprio prédio da Bienal, projetado por Oscar Niemeyer, no parque Ibirapuera.

Guo-Qiang, nascido em 1957, é um dos artistas com maior destaque na cena contemporânea. Suas performances explosivas já foram realizadas na Tate Modern, em Londres, no Museu de Arte Moderna de Nova York, e na Bienal de Veneza, onde ganhou o Leão de Ouro, o prêmio mais importante da mostra, em 1999.

Para a Bienal de São Paulo, Guo-Qiang propõe a realização de duas performances --uma delas a explosão da torre--, que estão sendo orçadas pela Fundação Bienal para verificar a sua viabilidade. Na semana passada, o artista chinês esteve acertando os detalhes técnicos de seus projetos em São Paulo. "Em meu trabalho, parto do princípio de que a pólvora constrói desenhos, e não quero me afastar dessa relação. No entanto, desde o 11 de Setembro, tenho consciência da associação que a explosão provoca e não quero fugir dela. Com minha obra, não valorizo o terror, mas busco expressar o lado positivo da violência, de que é possível construir, pela arte, uma energia positiva", conta Guo-Qiang à Folha de S.Paulo. "Cai é um dos mais importantes artistas chineses da atualidade. Convidei-o pois ele amplia a noção da escultura com suas performances", diz Alfons Hug, curador da Bienal.

A torre será montada com varas de bambu e papel, sobre o qual se espalhará pólvora. A performance vai durar apenas alguns minutos e poderá ser vista somente pelos convidados da abertura, mas a gravação de um vídeo irá permitir que os visitantes tenham uma idéia do que gerou a obra final, que ficará exposta, já que a torre não é totalmente destruída com a explosão.

Essa ação concentrada, que dura apenas alguns minutos, é uma estratégia para criar "um caos no tempo e no espaço, uma forma de suspensão para o observador", segundo Guo-Qiang.

Tal método é uma influência direta do período no qual o artista trabalhou como cenógrafo para teatro, na China, nos anos 80: "Com essa experiência, aprendi a lidar com o tempo, com a fluidez do trabalho, a importância da participação do observador e do trabalho em grupo", conta.

"Bum, bum"

Durante a reunião com a equipe que irá se encarregar da preparação das explosões, Guo-Qiang, que tinha sua assistente fazendo a tradução do chinês para o inglês e um outro tradutor para o português, mostrou que, de fato, gosta do trabalho em grupo, atravessando os tradutores e apelando para onomatopéias. "Bum, bum" era o que mais dizia, tentando mostrar como as explosões deveriam ocorrer.

Já o caráter espetacular de seus trabalhos é creditado pelo artista à influência da própria cultura chinesa: "É uma sociedade muito dramática, cheia de milagres, o crescimento atual lá é inacreditável. Se olharmos os anos recentes, da revolução cultural à abertura econômica, é tudo muito teatral".

Além da torre dentro do prédio da Bienal, Guo-Qiang prevê outra performance, a ser realizada no parque, que precisa ser autorizada pela administração do espaço. Ele projetou dez fios de cem metros cada um, que serão percorridos por cem flechas com explosivos, também uma ação de curta duração.

"Nesse trabalho, meu tema é o tempo. Em uma mostra tão grande, há muitos trabalhos sendo apresentados no mesmo espaço, e procuro criar um outro nível, de curta duração, trazendo caos para a exposição", diz Guo-Qiang.

Ao contrário do que se pode pensar sobre o artista, que nasceu e cresceu na cidade de Quanzhou, brincar com fogos de artifício não era um de seus passatempos preferidos quando criança. "Eu tinha medo", conta.

"No entanto", continua, "a pólvora é uma das principais atividades econômicas de minha cidade natal, e, quando comecei meu trabalho artístico, esse era um dos materiais mais disponíveis e seu uso foi natural".

Assim começava a "conspiração da pólvora" na carreira do artista. Coincidentemente esse é o nome de uma das primeiras ações terroristas na história, quando, um grupo de nobres católicos tentou explodir a protestante família real inglesa, no início do século 17.

Agora, no século 21, com suas explosões, a conspiração em Guo-Qiang é fazer "irromper energias positivas", como ele mesmo afirma.

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