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16/03/2004
-
08h03
da Folha de S.Paulo
Sedento de veículos de expressão, Ferréz visita agora um clichê da periferia paulistana: o hip hop.
Deve causar desconfiança, até porque recusa vários dos cânones duros do movimento. Para começar, incorpora a um gênero musical segregado e segregador dois ícones da MPB "cabeça".
Produz nas faixas com Arnaldo Antunes e Chico César dois dos melhores momentos de "Determinação", não só pela qualidade das músicas mas também pela quebra de preconceitos que elas representam.
Samplers de Renato Russo, Cazuza e Adriana Calcanhotto povoam "29 de Dezembro", e Ferréz sabe que pode ser proscrito por isso, do lado de lá como do de cá.
Tentando ser literário, confina os momentos de rap tradicional às faixas "Capão Pecado" e "Judas". Nas demais, pratica variedade, seja fazendo rhythm'n'blues (em "Frio por Dentro") ou funk à moda de Isaac Hayes ("Determinação"), seja cumprindo crítica ácida às religiões ("Ouça Minha Voz"). "Morra em nome de Deus", finca, após lamentar carnificinas de católicos, protestantes, judeus e palestinos.
Outro paradigma vencido é o da dureza violenta do rap. Ferréz quer trazer ternura ao Capão Redondo ("o fundo do mundo", segundo ele), quer levar ternura do Capão Redondo para o outro lado da redoma invisível.
O lado terno aparece na voz de garoto de três anos ("não é meu parente, odeio nepotismo"), em "29 de Dezembro". "Eu moro no Capão Redondo, amo o meu pai, amo a minha mãe", ele balbucia, transpirando orgulho ainda não profanado.
A ternura --e não a violência-- vai explodir na última faixa, "Eu Queria Ter e Ser", em que o menino crescido Ferréz faz um inventário de seus desejos. E libera o rap para expressar amor, solidão, sonho, fantasia.
Avaliação:![](http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/images/3_estrelas.gif)
Determinação
Artista: Ferréz
Lançamento: Caravelas
Quanto: R$ 30, em média
Leia mais
Morador do Capão Redondo estréia no rap avesso ao sucesso
Foto de Arnaldo Antunes tem destaque em biblioteca de Ferréz
Crítica: Ternura vai além da dureza do hip hop
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Sedento de veículos de expressão, Ferréz visita agora um clichê da periferia paulistana: o hip hop.
Deve causar desconfiança, até porque recusa vários dos cânones duros do movimento. Para começar, incorpora a um gênero musical segregado e segregador dois ícones da MPB "cabeça".
Produz nas faixas com Arnaldo Antunes e Chico César dois dos melhores momentos de "Determinação", não só pela qualidade das músicas mas também pela quebra de preconceitos que elas representam.
Samplers de Renato Russo, Cazuza e Adriana Calcanhotto povoam "29 de Dezembro", e Ferréz sabe que pode ser proscrito por isso, do lado de lá como do de cá.
Tentando ser literário, confina os momentos de rap tradicional às faixas "Capão Pecado" e "Judas". Nas demais, pratica variedade, seja fazendo rhythm'n'blues (em "Frio por Dentro") ou funk à moda de Isaac Hayes ("Determinação"), seja cumprindo crítica ácida às religiões ("Ouça Minha Voz"). "Morra em nome de Deus", finca, após lamentar carnificinas de católicos, protestantes, judeus e palestinos.
Outro paradigma vencido é o da dureza violenta do rap. Ferréz quer trazer ternura ao Capão Redondo ("o fundo do mundo", segundo ele), quer levar ternura do Capão Redondo para o outro lado da redoma invisível.
O lado terno aparece na voz de garoto de três anos ("não é meu parente, odeio nepotismo"), em "29 de Dezembro". "Eu moro no Capão Redondo, amo o meu pai, amo a minha mãe", ele balbucia, transpirando orgulho ainda não profanado.
A ternura --e não a violência-- vai explodir na última faixa, "Eu Queria Ter e Ser", em que o menino crescido Ferréz faz um inventário de seus desejos. E libera o rap para expressar amor, solidão, sonho, fantasia.
Avaliação:
![](http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/images/3_estrelas.gif)
Determinação
Artista: Ferréz
Lançamento: Caravelas
Quanto: R$ 30, em média
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