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16/03/2004
-
08h16
da Folha de S.Paulo
Se é cultuado de modo informal pela comunidade do Capão Redondo, Ferréz tem lá também seus ídolos. O principal deles é o poeta e músico Arnaldo Antunes, cujos passos Ferréz seguia bem antes de se tornar escritor conhecido. "É loucura total", sintetiza.
No apelidado "espaço Arnaldo Antunes" de sua biblioteca, tem lugar de destaque uma foto antiga em que o fã abraça o ídolo. "Eu ia ao Centro Cultural de 'busão', passava por baixo da catraca."
Mais escondida fica uma pasta cheia de poesias e trabalhos manufaturados por Arnaldo na época de estudante. Ferréz diz que vendeu uma motocicleta para comprar a pasta. Diz que custou uma fortuna, mas não revela o valor por vergonha do que os pais e os amigos podem pensar.
Não pára por aí: um poema concreto do ex-titã está tatuado no braço de Ferréz, que justifica a adoração: "O trampo desse cara me ajudou a não pegar um revólver. Estou vivo por andar correndo atrás dessas coisas".
Sem saber da adoração, Arnaldo virou admirador do autor de "Capão Pecado". "Ficamos amigos, ele disse que queria musicar uma letra minha. Que inversão de valores!", se surpreende.
Outro admirador que Ferréz conquistou foi Chico César. "Ele me ligou, agradeceu pelo livro, disse que tem uma história parecida com a minha e queria me visitar", se espanta.
Visitou mesmo. E, segundo Ferréz, causou furor entre a meninada do Capão. "Os molequinhos começaram a correr atrás dele cantando 'Mama África'. Foi da hora", afirma, expressando a sensação de pertencer a algo que acomete sua comunidade toda vez que um Chico César ou um Ferréz pronuncia "Capão Redondo".
"Chico me surpreendeu, esse maluco é firmeza. Não mete marra, como muito rapper. Ele não é da MPB, ele é nosso, é do bem", descreve, implicitando a noção periférica de que a MPB --o poder-- está do lado do mal.
As admirações mútuas renderam frutos, que fizeram Ferréz transpor muros que o hip hop não costuma permitir pular. Arnaldo Antunes e Chico César participam do disco "Determinação", respectivamente em "29 de Dezembro" e "Seu Pai".
Chico aparece cantando com discrição. Arnaldo faz um rap concretista produzido por Bid, também do "lado de cá", em "29 de Dezembro" --o dia do aniversário do ídolo, e também da namorada de Ferréz.
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Morador do Capão Redondo estréia no rap avesso ao sucesso
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Foto de Arnaldo Antunes tem destaque em biblioteca de Ferréz
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Se é cultuado de modo informal pela comunidade do Capão Redondo, Ferréz tem lá também seus ídolos. O principal deles é o poeta e músico Arnaldo Antunes, cujos passos Ferréz seguia bem antes de se tornar escritor conhecido. "É loucura total", sintetiza.
No apelidado "espaço Arnaldo Antunes" de sua biblioteca, tem lugar de destaque uma foto antiga em que o fã abraça o ídolo. "Eu ia ao Centro Cultural de 'busão', passava por baixo da catraca."
Mais escondida fica uma pasta cheia de poesias e trabalhos manufaturados por Arnaldo na época de estudante. Ferréz diz que vendeu uma motocicleta para comprar a pasta. Diz que custou uma fortuna, mas não revela o valor por vergonha do que os pais e os amigos podem pensar.
Não pára por aí: um poema concreto do ex-titã está tatuado no braço de Ferréz, que justifica a adoração: "O trampo desse cara me ajudou a não pegar um revólver. Estou vivo por andar correndo atrás dessas coisas".
Sem saber da adoração, Arnaldo virou admirador do autor de "Capão Pecado". "Ficamos amigos, ele disse que queria musicar uma letra minha. Que inversão de valores!", se surpreende.
Outro admirador que Ferréz conquistou foi Chico César. "Ele me ligou, agradeceu pelo livro, disse que tem uma história parecida com a minha e queria me visitar", se espanta.
Visitou mesmo. E, segundo Ferréz, causou furor entre a meninada do Capão. "Os molequinhos começaram a correr atrás dele cantando 'Mama África'. Foi da hora", afirma, expressando a sensação de pertencer a algo que acomete sua comunidade toda vez que um Chico César ou um Ferréz pronuncia "Capão Redondo".
"Chico me surpreendeu, esse maluco é firmeza. Não mete marra, como muito rapper. Ele não é da MPB, ele é nosso, é do bem", descreve, implicitando a noção periférica de que a MPB --o poder-- está do lado do mal.
As admirações mútuas renderam frutos, que fizeram Ferréz transpor muros que o hip hop não costuma permitir pular. Arnaldo Antunes e Chico César participam do disco "Determinação", respectivamente em "29 de Dezembro" e "Seu Pai".
Chico aparece cantando com discrição. Arnaldo faz um rap concretista produzido por Bid, também do "lado de cá", em "29 de Dezembro" --o dia do aniversário do ídolo, e também da namorada de Ferréz.
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