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01/04/2004 - 05h07

Documentário "Fala Tu" pretende dar voz aos rappers

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Uma cadeira de plástico na calçada e uma cestinha de papéis dependurada no poste compõem o "escritório" de Alexandre Magalhães, 35, o Macarrão.

Para não incomodar os clientes nem atrapalhar o movimento, o cineasta Guilherme Coelho, 24, tomou o cuidado de instalar sua câmera no outro lado da rua todas as vezes em que registrou Macarrão trabalhando. Ele é apontador do jogo do bicho, e as imagens de sua rotina no batente estão no documentário "Fala Tu", que estréia amanhã.

"Já estive mais de 20 vezes na frente do juiz e disse a ele que não me envergonho de ser contraventor. Prefiro ganhar R$ 900 no bicho do que R$ 200 como empregado de uma padaria. Tenho três filhos para criar", diz Macarrão à Folha de S.Paulo, explicando sua sem-cerimônia de ser filmado na contravenção.

Mais do que o trabalho que garante a sobrevivência de Macarrão e sua família, "Fala Tu" se interessa em desvendar a atração do bicheiro pelo rap e suas tentativas de conquistar um lugar definitivo no movimento hip hop. Não apenas as dele. O vendedor ambulante Sérgio Teixeira Filho, 32, o Thogun, e a operadora de telemarketing Combatente, 21, completam a trinca de personagens do documentário, que compartilham o cotidiano de habitantes da periferia carioca e o gosto pelo rap.

Combatente é algumas vezes chamada no filme por seu nome de batismo, Mônica. Na conversa com a Folha de S.Paulo, ela não quis revelar seu sobrenome. "Quero trabalhar agora só meu nome artístico", diz.

Depois de contar no documentário diversas passagens de sua vida, inclusive as mais sofridas, Thogun estranha que alguém possa se referir a ele como um personagem do filme.

"'Fala Tu' me deu a oportunidade de mostrar para as pessoas do que sou feito e fazê-las aprender um pouco do que eu aprendo todo dia. O meu sofrimento me fez colocar à prova toda a minha formação", afirma.

Fazer uma "crônica carioca" e entender como o rap traduz em arte uma condição adversa era o ímpeto inicial do diretor Coelho e de seu co-roteirista Nathaniel Lecrery. Coelho afirma que, no convívio com rappers, se estabeleceu "uma relação muito próxima". "Eles toparam participar do filme porque têm algo a comunicar. Creio que usaram 'Fala Tu' mais para passar uma mensagem do que para adiantar a vida profissional. Estava claro que o filme não ia mudar a vida deles."

Se o filme em si não é capaz de transformar a vida de seus personagens reais, alguns contatos estabelecidos a partir dele têm aberto portas para Macarrão.

Atualmente, ele participa de uma equipe de roteiristas selecionados pela agência de produção norte-americana Picante Pictures, para produzir sinopses de "sitcoms" que tenham a realidade da periferia brasileira como pano de fundo. Macarrão diz que a atriz e diretora de seriados de TV Debby Allen ("Fame", "The Twilight Zone") está na coordenação do projeto. "Tive uma chance em 1 milhão. Vou agarrar essa treta."

Thogun, que está desempregado e trancou a matrícula na faculdade de jornalismo, conta que ouviu do coordenador do curso de comunicação da PUC-RJ a notícia de que poderá ganhar uma bolsa. Combatente diz que se inscreveu para o programa "Fama", da TV Globo, porque considera "as aulas muito boas".

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