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20/04/2004 - 08h12

Seu Jorge promete mostrar versões de David Bowie em show

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Ele foi Mané, hoje é Pelé. Ex-morador de rua e ex-borracheiro, entre outras profissões, o carioca Seu Jorge, 33, coroa hoje, num hotel paulistano classe A, uma história de Cinderela às avessas. Perto da meia-noite, subirá para cantar samba e black music no palco do hotel Unique, cujas diárias de suíte presidencial custam US$ 2.000.

Está hospedado no hotel high-tech desde quinta-feira, financiado por sua patrocinadora informal, a loja de roupas Mandi, que tem estande na fina Daslu. A MTV gravará o show de hoje, para lançá-lo no formato DVD.

Segundo o "diretor criativo" da Mandi, Marcelo Loureiro, R$ 120 mil foram consumidos para "importar" Seu Jorge de Paris e promover o show de relançamento, pela marca, do álbum "Samba Esporte Fino" (2001).

Dos 2.000 ingressos ao preço oficial de R$ 70, 1.200 foram distribuídos gratuitamente para "amigos da marca". Seu Jorge não tem cachê ("é uma troca, boa para nós e para ele", diz Loureiro).

O artista defende a associação inusitada entre o samba-soul carioca e os playboys paulistas: "Não me comunico muito com a massa através da música. Ela vem chegando aos poucos, não estou empurrando nada goela abaixo".

Vê o lado bom da informalidade: "Trabalhei a vida toda para não ser patrão, não ter patrão e não andar de ônibus. A profissão viabiliza". Mas põe limite: "Só não pode eu viajar de avião e a banda de ônibus. Ou vai todo mundo junto ou não vai ninguém".

Loureiro não é o único "playboy" seduzido por Seu Jorge. Após sua revelação como ator em "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles e Katia Lund, ele aportou em Hollywood. Acaba de filmar, na Itália, "The Life Aquatic", de Wes Anderson ("Os Excêntricos Tenenbaums"), com Bill Murray, Anjelica Huston, Willem Dafoe e Cate Blanchett.

Murray e Dafoe fazem pontas em seu novo clipe, "Tive Razão", do CD ainda inédito "Cru", bancado pelo selo Naïve, do bar "brasileirófilo" parisiense Favela Chic.

Em "Cidade de Deus", era um dos protagonistas, o bandido Mané Galinha. Em "The Life Aquatic", começou numa ponta, como Pelé dos Santos, mergulhador profissional que canta e toca violão nas horas vagas. O papel cresceu e, segundo ele, o diretor incluiu na montagem final do filme 11 das 13 versões em português que ele fez para clássicos rock de David Bowie.

"Não tinha nenhuma afinidade com o som dele antes, nem ouvia. Não é minha cultura, venho do samba", diz. Agora admira o glam rock branco de Bowie e acalenta o recado da aprovação das versões pelo dono e a possibilidade de um encontro no palco, no lançamento do filme, em setembro.

Reconhece as versões de Bowie como "toscas", assim como o personagem. Seria mero exotismo tropical a sedução dos gringos? "Willem Dafoe me disse: 'Pô, vocês brasileiros são felizes'. Passamos uma coisa rara para os humanos de lá. São mundos diferentes, nossa cultura é mais maleável, tem mais resignação", mistura.

No Brasil resignado, ele não toca há mais de um ano. Lá fora, tem tocado ao lado de Trio Mocotó, Lenine, DJ Dolores e o funkeiro carioca Mr. Catra. Daqui, deve voltar para a rotina de shows mambembes pelo planeta Terra. "Sou o bobo da corte", brinca.

Depois organiza: "O mais bacana é poder passar uma imagem digna do Brasil. É muito difícil ser artista no país de Sandy e Junior. Só eles cantam no Maracanã".

E reorganiza: "Não deixo ninguém rebaixar nosso nome, o trabalho que faço lá é limpo. A gente tem de começar a crescer de alguma maneira. Temos de ser audaciosos, humildes e ousados".

Algo negativo no conto de fadas de Cinderelo? "Para mim é horrível lá fora. Eu queria estar aqui o tempo todo, no plano Caymmi."

Seu Jorge não pensa pequeno ao ser questionado sobre se dará conta de carreiras simultâneas de ator e cantor. "Frank Sinatra fez isso, por que a gente não pode fazer do lado de cá?", responde-pergunta. Era mané, quer ser pelé.

SAMBA ESPORTE FINO - Show de Seu Jorge e festa com DJs de black music
Onde: hotel Unique (av. Brigadeiro Luís Antônio, 4.700, SP)
Quando: hoje, às 23h
Quanto: R$ 70

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