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22/04/2004
-
07h18
LISETTE LAGNADO
especial para a Folha
Eles criam fontes tipográficas e inventam alfabetos. Eles enxergam o espaço por meio de pontos, linhas. Eles esquadrinham as cidades horizontal e verticalmente. Eles alteram as distâncias, os ritmos, as proporções. Eles comprimem e expandem ondas sonoras. Nada fixo, nem sequer uma matriz. Pixel por pixel, eles dilatam a paisagem até as margens do monitor. Eles subvertem os objetivos bélicos do videogame. Eles têm o poder de realinhar o mapa geopolítico em um minuto. Chegaram os hackers que atuam dentro da legalidade da arte.
Angela Detanico e Rafael Lain questionam os signos como sistema apto a representar a realidade. Uma prática que remonta à filosofia platonicista. E, no entanto, é como se cada novo trabalho dessa dupla de artistas viesse dizer que há muito ainda a ser dito sobre linguagem, ciência e cidade. Se, por um lado, o problema da representação permaneceu ao longo da história, por outro, é preciso reconhecer que o tempo modificou sua modulação.
Escrever em fonte "Utopia" (2001) gera cruzamentos inéditos, porém virtualmente reais, entre os projetos de Niemeyer e o caos metropolitano: nem o modernismo sucumbe às cercas e guaritas, nem essas excrescências ignoram seus alicerces. (...) O mundo é apresentado como um grande texto em decifração permanente. (...)
Usando a tecnologia do digital e a indústria de entretenimento, Angela e Lain inserem a instância da simulação entre as tradicionais categorias de fenômeno e cópia. Em "Seoul/Killing Time" (2003), chamado por eles de "vídeo de uma deserção", nossa expectativa de assistir a cenas de combate foi substituída por um vôo inofensivo sobre uma cidade-fantasma, traduzida depois em maquete. Desobedecer aos comandos está subitamente ao alcance da mão; e se a multidão soubesse dessa abertura acidental que o jogo proporciona? E se "se..." existisse?
Texto elaborado para o catálogo da 26ª Bienal Internacional de São Paulo, a ser lançado em setembro
Lisette Lagnado é crítica de arte
Leia mais
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especial para a Folha
Eles criam fontes tipográficas e inventam alfabetos. Eles enxergam o espaço por meio de pontos, linhas. Eles esquadrinham as cidades horizontal e verticalmente. Eles alteram as distâncias, os ritmos, as proporções. Eles comprimem e expandem ondas sonoras. Nada fixo, nem sequer uma matriz. Pixel por pixel, eles dilatam a paisagem até as margens do monitor. Eles subvertem os objetivos bélicos do videogame. Eles têm o poder de realinhar o mapa geopolítico em um minuto. Chegaram os hackers que atuam dentro da legalidade da arte.
Angela Detanico e Rafael Lain questionam os signos como sistema apto a representar a realidade. Uma prática que remonta à filosofia platonicista. E, no entanto, é como se cada novo trabalho dessa dupla de artistas viesse dizer que há muito ainda a ser dito sobre linguagem, ciência e cidade. Se, por um lado, o problema da representação permaneceu ao longo da história, por outro, é preciso reconhecer que o tempo modificou sua modulação.
Escrever em fonte "Utopia" (2001) gera cruzamentos inéditos, porém virtualmente reais, entre os projetos de Niemeyer e o caos metropolitano: nem o modernismo sucumbe às cercas e guaritas, nem essas excrescências ignoram seus alicerces. (...) O mundo é apresentado como um grande texto em decifração permanente. (...)
Usando a tecnologia do digital e a indústria de entretenimento, Angela e Lain inserem a instância da simulação entre as tradicionais categorias de fenômeno e cópia. Em "Seoul/Killing Time" (2003), chamado por eles de "vídeo de uma deserção", nossa expectativa de assistir a cenas de combate foi substituída por um vôo inofensivo sobre uma cidade-fantasma, traduzida depois em maquete. Desobedecer aos comandos está subitamente ao alcance da mão; e se a multidão soubesse dessa abertura acidental que o jogo proporciona? E se "se..." existisse?
Texto elaborado para o catálogo da 26ª Bienal Internacional de São Paulo, a ser lançado em setembro
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