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08/07/2004 - 08h45

Michael Moore elogia países que não apoiaram guerra

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RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo, em Nova York

Michael Moore está satisfeito com o Brasil --ao menos em relação à Guerra do Iraque. E com os espanhóis, é claro. De resto, se o documentarista pudesse, mudaria o mundo inteiro.

"Obrigado ao povo do Brasil por não fazer parte dessa coalizão", disse o cineasta americano anteontem, durante entrevista coletiva para a imprensa não-americana, em Nova York. "Sei que uma grande pressão foi posta sobre o Brasil."

Isso logo no início da conversa, quase sempre descontraída, com repórteres do mundo todo para divulgar seu documentário "Fahrenheit 9/11" --o qual, diz, tem a "missão" imediata de "tirar George W. Bush da Casa Branca".

Na hora e meia que se seguiu, disse esperar que o filme, em que ridiculariza o presidente americano e ataca sua empreitada militar, tenha efeitos semelhantes em outros países --ajudando a tirar do governo líderes que apoiaram Bush--, recomendou aos chineses que lutem pela liberdade de expressão, disse o mesmo para os árabes, demonstrou sua decepção com o Japão --afirmando que seu primeiro-ministro trouxe "vergonha" para o país ao apoiar a invasão do Iraque-- e defendeu mudanças no sistema capitalista.

Segundo o diretor de "Tiros em Columbine", é esse o objetivo "profundo" de todos os seus filmes: mudar um sistema econômico que ele qualifica como "injusto e antidemocrático".

"Precisamos consertar o problema maior. Precisamos de um sistema econômico democrático que dê às pessoas controle e voz sobre as decisões que nos afetam", declarou, para em seguida brincar com a reação que imaginava estar criando entre os repórteres: "Ele começou com um papo comunista. Não sei do que fala".

"Eu me recuso a pensar nessa sociedade como sendo igualitária enquanto os 10% do topo controlam a maioria da riqueza."

Outro desejo de Moore: que o filme mostre ao mundo inteiro que o problema é Bush, e não os americanos. "Quero que as pessoas de outros países saibam que não sou apenas eu. Estou com a maioria dos americanos, que nunca votaram nesse homem", disse. "Sei que vocês gostam da nossa simplicidade [risos entre os repórteres]. É... Nós somos otimistas, falamos alto."

E fez uma sugestão de algo que os EUA poderiam fazer para ajudar outros países. "Não seria ótimo dizermos que fomos o país que trouxe água potável para todas as pessoas do mundo?"

Em respostas a repórteres de países que apoiaram a Guerra do Iraque, disse sempre não compreender o que levava seus líderes a apoiar Bush e recomendou que todos seguissem o exemplo da Espanha, que, nas eleições de março, tirou do poder o primeiro ministro José María Aznar.

"Os espanhóis começaram --tiraram seu primeiro-ministro, que não ouviu os anseios de seu povo--, e é meu desejo sincero que os australianos, os italianos e [os líderes de] outros países que se juntaram a Bush nessa guerra também sejam removidos do poder pelos cidadãos. Espero que esse filme ajude a fazê-lo."

O desejo de conquistar "estrangeiros" para sua causa não impediu Moore de ser irônico. Caiu na gargalhada quando um repórter suíço disse trabalhar para uma revista financiada por bancos chamada "Neutralidade". "Você está usando termos contraditórios, certo?"

Instigado por um jornalista austríaco a mandar um recado para seus compatriotas, afirmou, referindo-se a Arnold Schwarzenegger: "Em nome dos americanos, gostaria de agradecer à Áustria por nos ter dado o governador da Califórnia. Poderemos vir a ter o nosso primeiro presidente austríaco. Os alemães tiveram um presidente austríaco, e agora nós também podemos ter um".

O cineasta também atacou a imprensa americana, afirmando que ela estava "na cama" ("in bed") com Bush, fazendo um trocadilho com a expressão usada em inglês para os jornalistas "encaixados" em tropas da coalizão durante a guerra ("embedded").

"A parte boa da democracia é que você pode fazer qualquer pergunta, qualquer uma, e não ser preso por isso. Por que não perguntaram 'onde estão as armas de destruição em massa'?" O seu filme, disse, representou um constrangimento para a mídia americana, que não mostrou o que ele diz ser a realidade da administração Bush e do conflito no Iraque e, portanto, contribuiu para a guerra. "O sangue desses garotos está nas mãos deles também."

Por fim, um "elogio" para seu inimigo. Questionado sobre o fato de ter aparecido menos diante das câmeras em seu novo filme, respondeu: "Em geral estou lá para ajudar no humor. Mas, quando você tem George W. Bush como personagem principal, isso não é necessário".

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