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20/07/2004
-
04h46
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo
Na história do cinema brasileiro, "A Gigolette", longa-metragem de ficção dirigido em 1924 por Paolo Benedetti, era um dos desaparecidos. Não mais.
A filmoteca da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) acaba de concluir a restauração de um trecho da obra, encontrado por acaso, quando a instituição realizou uma permuta com um comerciante de material cinematográfico no Rio de Janeiro.
Em troca de cartazes, a Faap recebeu um lote de filmes. Quando examinou o pequeno rolo misturado às latas de títulos conhecidos, o professor e pesquisador da história do cinema brasileiro Máximo Barro, 74, intuiu a descoberta de relevo.
Barro reconheceu nas imagens o ator Jaime Costa, com quem havia trabalhado décadas depois de Benedetti, nos longas "O Pão que o Diabo Amassou" (1957) e "Macumba na Alta" (1958).
Em "A Gigolette", Costa é o vilão que seduz e abandona Liz (Amélia de Oliveira), grávida de um filho seu. Mas Liz encontrará o amor na figura de um médico, disposto a casar-se com ela e criar seu filho. O título do filme é referência à fantasia que o malandro prepara para a mulher, nos dias anteriores ao Carnaval.
O trecho recuperado é "provavelmente a seqüência final do filme", segundo Barro, que o exibiu para a Folha, na sala multimeios da Faap. Toda a cena ocorre num amplo jardim, o que permite ao professor lembrar que, enquanto os europeus preferiam concentrar suas filmagens em estúdios nesse período, em razão da imprevisibilidade do tempo, os brasileiros filmavam também em locações externas, sobretudo no Rio, local da produção de "A Gigolette".
Amélia Oliveira usa "toneladas de rímel", como observa Barro, "numa tentativa de copiar a maquiagem das atrizes italianas". Em seus primórdios, o cinema brasileiro se caracterizou como uma atividade de imigrantes italianos, dos quais Benedetti era um dos representantes.
O que faz Barro supor que os três minutos restaurados correspondam ao desenlace de "A Gigolette" é a ação contida na cena. Sob os olhares da mulher disputada pelo médico e o malandro, os dois se envolvem numa briga corporal. Vencido, o malandro se retira com um andar ladino, acende um cigarro e atira longe o fósforo.
A câmera retorna para o casal, que se beija, enquanto um terceiro homem que observava a briga retira do carrinho o bebê da gigolette, talvez porque ele chorasse. Como era próprio da produção de 1924, "A Gigolette" é mudo.
Nesse ponto, um humor provocante invade o filme. Entre observar o casal se beijando e dar chupeta ao bebê, o homem se confunde e aproxima da boca da criança o cano de um revólver que trazia nas mãos. E assim terminam os únicos três minutos conhecidos no Brasil de "A Gigolette".
Para recuperá-los, Barro e o professor Eliseu Lopes Filho precisaram reproduzir cada quadro do filme, em equipamento cedido pelo empresário Airton Alves.
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Na história do cinema brasileiro, "A Gigolette", longa-metragem de ficção dirigido em 1924 por Paolo Benedetti, era um dos desaparecidos. Não mais.
A filmoteca da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) acaba de concluir a restauração de um trecho da obra, encontrado por acaso, quando a instituição realizou uma permuta com um comerciante de material cinematográfico no Rio de Janeiro.
Em troca de cartazes, a Faap recebeu um lote de filmes. Quando examinou o pequeno rolo misturado às latas de títulos conhecidos, o professor e pesquisador da história do cinema brasileiro Máximo Barro, 74, intuiu a descoberta de relevo.
Barro reconheceu nas imagens o ator Jaime Costa, com quem havia trabalhado décadas depois de Benedetti, nos longas "O Pão que o Diabo Amassou" (1957) e "Macumba na Alta" (1958).
Em "A Gigolette", Costa é o vilão que seduz e abandona Liz (Amélia de Oliveira), grávida de um filho seu. Mas Liz encontrará o amor na figura de um médico, disposto a casar-se com ela e criar seu filho. O título do filme é referência à fantasia que o malandro prepara para a mulher, nos dias anteriores ao Carnaval.
O trecho recuperado é "provavelmente a seqüência final do filme", segundo Barro, que o exibiu para a Folha, na sala multimeios da Faap. Toda a cena ocorre num amplo jardim, o que permite ao professor lembrar que, enquanto os europeus preferiam concentrar suas filmagens em estúdios nesse período, em razão da imprevisibilidade do tempo, os brasileiros filmavam também em locações externas, sobretudo no Rio, local da produção de "A Gigolette".
Amélia Oliveira usa "toneladas de rímel", como observa Barro, "numa tentativa de copiar a maquiagem das atrizes italianas". Em seus primórdios, o cinema brasileiro se caracterizou como uma atividade de imigrantes italianos, dos quais Benedetti era um dos representantes.
O que faz Barro supor que os três minutos restaurados correspondam ao desenlace de "A Gigolette" é a ação contida na cena. Sob os olhares da mulher disputada pelo médico e o malandro, os dois se envolvem numa briga corporal. Vencido, o malandro se retira com um andar ladino, acende um cigarro e atira longe o fósforo.
A câmera retorna para o casal, que se beija, enquanto um terceiro homem que observava a briga retira do carrinho o bebê da gigolette, talvez porque ele chorasse. Como era próprio da produção de 1924, "A Gigolette" é mudo.
Nesse ponto, um humor provocante invade o filme. Entre observar o casal se beijando e dar chupeta ao bebê, o homem se confunde e aproxima da boca da criança o cano de um revólver que trazia nas mãos. E assim terminam os únicos três minutos conhecidos no Brasil de "A Gigolette".
Para recuperá-los, Barro e o professor Eliseu Lopes Filho precisaram reproduzir cada quadro do filme, em equipamento cedido pelo empresário Airton Alves.
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