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31/08/2004 - 09h34

Crítica: Arnaldo Baptista canta maravilhado pelo piano lancinante

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Enviado especial a Belo Horizonte

A balada do louco ganha nova configuração a partir desta semana, quando "Let It Bed" enche de música criativa brasileira as bancas de jornal.

Arnaldo Baptista consagrou-se como o maior patinho feio da tropicália, movimento de altos teores de inventividade e profusão de patinhos feios, cisnes, princesas, reis renunciados. Consumou o próprio mito, que já prenunciava na "Balada do Louco" de 1972, composta com sua alma gêmea musical, Rita Lee. Hoje, supera sofrimentos, traumas e os preconceitos que teimam em circundar a "loucura". "Let It Bed" zomba do mito, com muito amor.

O mote da zombaria é "Everybody Thinks I'm Crazy", cançoneta de 1941, recolhida de um desenho animado do Pica-Pau: "Todo mundo pensa que sou louco/ (...) sou louco, o que posso fazer?". Rita Lee atestara o mesmo em seu "Acústico MTV" (98), encerrando uma releitura de "Balada do Louco" com o bordão do Pica-Pau. A "loucura" de duas almas que ainda vibram numa mesma freqüência era filha de um cartum, cândida delícia, doce deleite.

"Let It Bed" será assimilado com dificuldade por quem exija convenções musicais caretas. Seu autor é um homem que cindiu sua vida em duas, com uma morte entre elas. A sabedoria e a generosidade de John Ulhoa e Rubinho Troll nascem da plena consciência disso. Seu intuito intuitivo era dissolver o preconceito vigente do casamento entre loucura e inatividade, perda e incapacidade.

"Let It Bed" é pleno em sua heterodoxia. Distancia-se da dor sufocante de "Disco Voador" (87), tentativa heróica do quixote Luiz Calanca (Baratos Afins) em dar apoio a um Arnaldo bem mais instável que o de 2004.

"Deve Ser Amor" é o ponto de gravidade do novo instante, fusão perfeita entre passado e futuro, pão e circo, John e Arnaldo --aqui, a essência tropicalista resta resguardada, revigorada. "Tenho certeza que é amor o que estou sentindo/ aqui, agora/ cantando e tocando pra você", canta um Arnaldo maravilhado pelo piano lancinante de sempre e pela nova e macia sensação de estar de novo reunido a seus súditos, numa pessoa só. Malucos somos nós.

Let It Bed
Avaliação:
Artista: Arnaldo Baptista
Lançamento: independente
Quanto: R$ 12,90, nas bancas de jornal (chega às lojas de discos dentro de 50 dias, pela distribuidora Tratore)

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