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12/09/2004
-
08h05
da Folha de S.Paulo
Não são poucas as façanhas contidas em "Helião & Negra Li", que vão além de nova capitulação de uma grande gravadora ao hip hop, ao léxico da periferia paulistana, ao rap adocicado e acidificado por hormônios femininos.
A mais visível das façanhas é a habilidade de promover a convivência entre dois microcosmos em geral ariscos um ao outro. De São Paulo vem Mano Brown, debutando na Universal via "Periferia"; do Rio, onde o disco foi gravado, chega o samba-rapper Marcelo D2, em "O Rap Não Tem pra Ninguém" --os dois cabem na mesma festa, surpresa.
Sim, o termo "festa" cabe, e essa é outra façanha. A dureza do rap paulista está pautada no disco (sobretudo em "Periferia" e "Guerreiro & Guerreira"), mas não exclui a alegria, nem a vocação para a música e a dança.
Ainda em formação, o canto de Negra Li estende as fronteiras do hip hop e rende, nos extremos, peças dançantes como "A Noite", o funk "Muito Bom Estar com Você", a faixa com D2, "Exército do Rap", "Fase de Febre".
Essa última, em particular, concentra outro trunfo do CD: o padrão de produção, que deixa distantes os tempos toscos que o rap nacional bem conhece. É mérito em parte da gravadora ainda poderosa, mas deve ser atribuído antes aos produtores do álbum.
Eles são David Corcos (ligado a D2) e Daniel Ganjaman (do núcleo Instituto) e têm larga atuação em hip hop. Emolduram com presteza a conciliação de saberes cariocas e paulistas, underground e mainstream, rap e canção.
Por último, mas não menos importante, há a vocação desenvolvida acima de muitas adversidades por Helião, nas rimas e no rap, e por Negra Li, no canto e na composição. São polpudos e promissores, principalmente se adquirirem consciência crescente sobre o que representam.
É que, por enquanto, causa estranheza o baixo teor de protesto político e social no CD --uma marca constante do rap. Pode ser porque a própria dupla quis diminuir esse referencial, como afirma Helião. Mas as histórias que eles têm para contar e as experiências com racismo descritas por Negra Li sugerem que talvez não seja bem assim. Tempo não faltará para que feridas ancestrais (e presentes) voltem a ser coçadas, mesmo que sob ritmo de festa.
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Não são poucas as façanhas contidas em "Helião & Negra Li", que vão além de nova capitulação de uma grande gravadora ao hip hop, ao léxico da periferia paulistana, ao rap adocicado e acidificado por hormônios femininos.
A mais visível das façanhas é a habilidade de promover a convivência entre dois microcosmos em geral ariscos um ao outro. De São Paulo vem Mano Brown, debutando na Universal via "Periferia"; do Rio, onde o disco foi gravado, chega o samba-rapper Marcelo D2, em "O Rap Não Tem pra Ninguém" --os dois cabem na mesma festa, surpresa.
Sim, o termo "festa" cabe, e essa é outra façanha. A dureza do rap paulista está pautada no disco (sobretudo em "Periferia" e "Guerreiro & Guerreira"), mas não exclui a alegria, nem a vocação para a música e a dança.
Ainda em formação, o canto de Negra Li estende as fronteiras do hip hop e rende, nos extremos, peças dançantes como "A Noite", o funk "Muito Bom Estar com Você", a faixa com D2, "Exército do Rap", "Fase de Febre".
Essa última, em particular, concentra outro trunfo do CD: o padrão de produção, que deixa distantes os tempos toscos que o rap nacional bem conhece. É mérito em parte da gravadora ainda poderosa, mas deve ser atribuído antes aos produtores do álbum.
Eles são David Corcos (ligado a D2) e Daniel Ganjaman (do núcleo Instituto) e têm larga atuação em hip hop. Emolduram com presteza a conciliação de saberes cariocas e paulistas, underground e mainstream, rap e canção.
Por último, mas não menos importante, há a vocação desenvolvida acima de muitas adversidades por Helião, nas rimas e no rap, e por Negra Li, no canto e na composição. São polpudos e promissores, principalmente se adquirirem consciência crescente sobre o que representam.
É que, por enquanto, causa estranheza o baixo teor de protesto político e social no CD --uma marca constante do rap. Pode ser porque a própria dupla quis diminuir esse referencial, como afirma Helião. Mas as histórias que eles têm para contar e as experiências com racismo descritas por Negra Li sugerem que talvez não seja bem assim. Tempo não faltará para que feridas ancestrais (e presentes) voltem a ser coçadas, mesmo que sob ritmo de festa.
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