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12/09/2004 - 08h11

Religião guiou relação de Negra Li com música

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da Folha de S.Paulo

Negra Li não usa a retórica do dom, tão comum entre artistas, ao descrever sua aproximação com a música. "Não tenho muito conhecimento de música, meu pai não tinha vários discos. Minha família é evangélica e não tinha som nem TV em casa. Meu pai tocava saxofone na igreja, eu freqüentava e gostava da hora de cantar os hinos, fui vendo que cantava afinado", recapitula.

As relações com a religião foram orientando também o modo de receber música: "Minha mãe até hoje é da mesma igreja, mas hoje já tem TV, rádio".

A música de rádio que a despertou foi o rhythm'n'blues norte-americano, antes mesmo de qualquer contato com o hip hop. "Não sou conhecedora da música brasileira antiga, mas ouvia rádio, Whitney Houston. Imitava mesmo sem saber inglês, aprendi "Killing Me Softly" tudo errado, mas cantava mesmo assim", diz.

Os irmãos mais velhos se ligaram em hip hop graças aos Racionais MC's; a ligação começava a se estabelecer. "Aos 16 anos entrei num grupo, foi só veneno. Não ganhava um real sequer, saía a pé para cantar em quermesse, dez pessoas assistiam."

As religiões atravessam também a trajetória de Helião, de modo mais tumultuado. "Comecei mesmo foi no candomblé. Minha mãe era filha de santo, toquei atabaque por oito anos, até que virei adventista e desandei de novo, fui tocar com uma banda de rock que tocava Uriah Heep, AC/DC, Iron Maiden...", ele conta.

Helião explica o que significa "desandar", na época desses Prisioneiros do Apocalipse: "Eu estava dando problema em casa, andando com uma rapaziada desandada, que se drogava para caramba, ia para o crime".

A virada seguinte foi mais musical que religiosa: Helião se integrou ao grupo de samba da favela da Mandioca, e os covers de heavy metal foram trocados por outros de Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, Art Popular.

"Eu batucava na mesa, enquanto minha mãe fazia almoço e cantava Jair Rodrigues, Almir Guineto, Os Originais do Samba. Me apaixonei pela música brasileira, passei a ouvir Nando Reis, Marisa Monte, Djavan, Tom Jobim, Cartola", relata as liturgias.

"Foi Sabotage quem ensinou para nós isso de se relacionar com outras tendências e paradas", homenageia, referindo-se ao rapper que também chegou a integrar a "família" RZO e foi assassinado em 2003, aos 29 anos.

"Aí me desiludi com o samba, é difícil formar uma banda, um esquema. Para fazer rap era só descolar um parceiro, um DJ, comprar umas bases de vinil e sair cantando no baile."

Apesar de tanto passeio que fez pelos estilos, Helião relativiza, como faz a parceira, o discurso sobre o dom da música: "A gente sempre foi ignorante, não tinha conhecimento técnico". Mas o rap havia chegado, a música mudava sob seus olhares atentos.

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