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12/06/2005 - 08h15

Bienal das mulheres escandaliza Veneza

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KELLY VELÁSQUES
da France Presse

De Francis Bacon a Antonio Tápies, passando por absorventes higiênicos internos, vídeos masoquistas e "performances" delirantes, a 51ª edição da Bienal de Veneza, que abrirá suas portas ao público neste domingo, explora as inquietações passadas e presentes da arte contemporânea com um olhar feminino.

Pela primeira vez desde sua primeira edição em 1895, a mais prestigiada mostra de arte internacional da Europa é dirigida por duas mulheres, as espanholas María Corral e Rosa Martínez, que decidiram contar o passado recente e o presente em constante transformação da arte.

As duas curadoras, de formação e caráter muito diferentes, reuniram na tradicional sede dos Jardins e no espaço do Arsenal 91 artistas de 71 países, dos quais 12 são latino-americanos.

Há muitas artistas mulheres nessa Bienal e suas obras são tão impactantes em termos de forma e conteúdo que acabam lançando um dardo no coração do mundo da arte.

A portuguesa Joana Vasconcelos, 34, por exemplo, criou uma gigantesca lâmpada com 14.000 absorventes higiênicos internos, que fica na entrada da mostra do Arsenal, intitulada "Sempre um pouco mais longe'. Segundo a curadora, Rosa Martínez, a exposição do Arsenal propõe uma reflexão sobre o papel da arte e da própria Bienal como espaço para debate.

Os enormes cartazes subversivos do grupo artístico americano "Las Guerrillas Girls", criado em 1985, condenam com humor pop e ironia a pequena presença de mulheres em exposições e museus e marcam com um caráter feminista e político a mostra veneziana.

Por cinco meses, o público poderá contemplar, aceitar e até rechaçar a seleção feita por Martínez, que traz obras de 49 artistas, sendo nove latino-americanos. Desses nove, cinco são mulheres.

Ao percorrer os 9.000 metros quadrados do Arsenal, entre vídeos, instalações, fotografias e esculturas, com artistas plásticos transformados em atores de "performances", percebe-se uma espécie de globalização da arte, com métodos e uma busca de linguagens similares em quase todos os lugares do planeta, da Palestina às Filipinas, passando pela inovadora China.

A artista guatemalteca Regina José Galindo, de 31 anos, usa seu corpo como objeto de arte. Um vídeo mostra a artista fechada numa caixa, na qual flagela-se 300 vezes em homenagem às 300 mulheres de seu país assassinadas em um ano.

Já a colombiana María Teresa Hincapié de Zuluaga, de 51 anos, apresenta movimentos lentos numa instalação e numa performance chamada "O espaço se move devagar". Os visitantes caminham entre velas, montículos de terra e ovvem uma música fascinante. A obra parece um pedido, feito através do corpo, de "silêncio para voltar a ouvir, de silêncio para voltar a ver", explicou a artista.

Como um chamado para descobrir a outra cara da arte, a brasileira Rivane Neuenschwander, 38, modifica sete velhas máquinas de escrever colocando pontos no lugar de letras, para que o visitante não escreva nada. A obra pretende ser uma mensagem contra a escritura, enquanto "Centro de atenção" convida o visitante a colocar-se num cadafalso para simular o próprio funeral.

A enorme nave espacial dos sentimentos da conhecida japonesa Mariko Mori oferece um instrumento para cruzar ondas cerebrais entre visitantes, um jogo seguramente muito feminino.

"O labirinto que proponho está mais próximo de um centro de experimentação do que de um acúmulo de certezas", disse María Corral ao apresentar nos Jardins venezianos a mostra "A experiência da arte" com obras de 42 artistas de todo o mundo, sendo quatro latino-americanos.

A leitura dos últimos 50 anos da arte proposta por Corral, controvertida ex-diretora do Centro de Arte Reina Sofia de Madri (1991-1994), reúne grandes nomes da arte contemporânea, como Francis Bacon, cujos cinco óleos e trípticos alaranjados e lilases, realizados entre 1979 e 1991, foram definidos como "sublimes" por sua radical distorsão da figura humana.

Junto com Bacon, instalado no Pavilhão da Itália, que este ano não apresenta artistas nacionais, estão as obras de outros ícones da arte moderna, entre eles as telas do espanhol Antonio Tápies, a obra conceitual de Bruce Nauman, seguido pelas elegantes colunas de papel do brasileiro José Damasceno, as geometrias arquitetônicas do mexicano Gabriel Orozco, os corredores de esteira da cubana Tania Bruguera e as complexas redes do argentino Jorge Macchi.

A busca de novas linguagens está representada pela "escada infinita" da inglesa Rachel Whiteread, que abre emblematicamente a exposição com seus sete metros de degraus brancos que não conduzem a parte alguma.

Nos pavilhões dedicados às nações, estão representados Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela. Nessa área da Bienal, também está o Instituto Ítalo-latino-americano, que apresenta sob uma só bandeira 16 artistas de todo o continente.

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