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20/07/2005 - 09h42

Tizuka Yamasaki expõe intimidade no Festival de Cinema de Brasília

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MARY PERSIA
da Folha Online

Aos 56 anos, a cineasta Tizuka Yamasaki confessa: fazer um filme autoral ainda é sofrido. "É quando você expõe sua intimidade ao público", diz a diretora, em entrevista à Folha Online. Seu filme "Gaijin - Ama-me Como Sou" (já "rebatizado" de "Gaijin 2") abre hoje o Festival Internacional de Cinema de Brasília (FICBrasília).

Saulo Ohara/Divulgação
Cena do filme
Cena do filme "Gaijin - Ama-me Como Sou", de Tizuka
A produção aborda a ida de descendentes de japoneses (os dekasseguis) para o Japão e levou anos para ser finalizada. A respeito das dificuldades na captação de recursos, Tizuka não quis fazer concessões a seu épico, que complementa "Gaijin - Caminhos da Liberdade" (1980), sobre a imigração japonesa para o Brasil.

Na verdade, revela a cineasta, "Gaijin 2" foi pensado antes do primeiro filme. No meio do processo de criação, porém, achou que precisava retomar a história do início. "Fui sentindo necessidade de falar sobre coisas do passado que estavam mal explicadas." Agora, ela diz que já supriu a necessidade de falar dos antepassados --seu próximo projeto falará da Amazônia.

Leia a seguir a entrevista concedida à Folha Online:




09.mar.2005/Folha Imagem
A diretora Tizuka Yamasaki
A diretora Tizuka Yamasaki
Folha Online - O FICBrasília abre com a exibição de "Gaijin 2", que demorou mais do que o previsto para estrear (o que ocorreria inicialmente em 2003). Que expectativa a senhora tem em relação à apresentação desse trabalho?

Tizuka Yamasaki - Não dá para ter idéia do que vai acontecer, pois é um público variado. Vai gente de tudo quanto é tipo no festival.

Folha Online - Mas a expectativa é diferente de outras estréias, por ter sido um processo mais longo para finalizar o filme?

Tizuka - Por ser mais difícil, é mais saboroso. O resultado foi muito bom das pequenas exibições que fizemos. No Japão, foi muito emocionante [houve duas exibições, em Nagóia para dekasseguis e em Tóquio, da qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou].

Folha Online - O que houve de mais complicado para a conclusão de "Gaijin 2"? Houve aspectos técnicos ou a captação foi de fato o principal desafio?

Tizuka - O filme custou mais do que o normal. Foram quase R$ 11 milhões. A captação foi mais difícil, levei três vezes mais tempo do que o normal. O que coloquei de salto alto e saí batendo perna para convencer as empresas de que meu filme valia a pena como investimento.

Folha Online - E não houve concessões a despeito dessa dificuldade...

Tizuka - Pretendemos fazer um filme sem abrir mão da direção de arte, do cuidado técnico etc. É um épico. Então, demorou mais tempo. Paramos, esperamos.

Folha Online - Como a senhora pontua os obstáculos para se conseguir recursos?

Tizuka - Captação depende muito da economia do país. Quando as empresas estão bem, pagando bem imposto de renda, tudo fica mais simples. Quando todos ficam com medo ou o país não vai bem, há menos captação [de impostos] e portanto menos incentivos fiscais. Vamos no ritmo do país.

Folha Online - A senhora acredita que o fim do governo Fernando Henrique Cardoso [1995-2002] foi um período inóspito para buscar verba?

Tizuka - Nessa época, houve eleição presidencial e Olimpíada. O esporte teve mais chance do que a cultura. É normal. E também o dinheiro ficou muito canalizado para as eleições. Acontece sempre: a cultura sai perdendo nesse momento. Engolimos seco e arrumamos paciência para superar a maré baixa.

Folha Online - Em 2001, "Gaijin 2" passou pelo laboratório de roteiros do instituto Sundance [responsável pelo prêmio norte-americano de cinema independente]. Que ganho houve para o seu texto?

Tizuka - Colocar pessoas que não têm nada a ver com a história para discutir o seu roteiro é um exercício fantástico. No ano anterior, fui consultora do laboratório, depois resolvi submeter meu próprio roteiro. Um americano, uma mexicana, um brasileiro e um europeu, ao discutirem um roteiro, abrem nossos olhos. Você não é obrigado a fazer o que eles dizem, mas eles dão uma outra leitura ao texto.

Folha Online - O Sundance também é um selo que agrega valor à produção. A senhora sentiu mais portas abertas por conta disso?

Tizuka - Para captação de recursos, não houve nenhum efeito. Foi bom para mim como autora. Temos muitas dúvidas. Todo processo de realização de um filme de autoral é muito sofrido. É quando você expõe sua intimidade ao público. Um debate como esse serve para orientar.

Folha Online - Entre outros trabalhos, a sra. fez três filmes da Xuxa ["Lua de Cristal" (1990), "Xuxa Requebra" (1999) e "Xuxa Popstar" (2000), este último em substituição ao diretor Paulo Sérgio de Almeida]. Como podemos definir a coerência da sua carreira?

Tizuka - Há os filmes autorais, com preocupação com a identidade cultural, de que gosto muito e desenvolvidos por mim. E há os filmes contratados, em que você é eleito para dirigir um roteiro escolhido pelo produtor. Você faz o melhor possível para que o produtor não fique frustrado com o projeto.

Folha Online - Em "Gaijin - Caminhos da Liberdade" (1980) a sra. aborda a mudança do Japão para o Brasil. Nesse "Gaijin 2", mostra o caminho contrário, com os dekasseguis. Se houver um "Gaijin 3", que aspectos a senhora abordará?

Tizuka - Por enquanto, supri todos os meus desejos em relação ao assunto. Eu ia fazer apenas um filme sobre a ida dos descendentes [dekasseguis] para o Japão. No meio do caminho, fui sentindo necessidade de falar sobre coisas do passado que estavam mal explicadas. Com isso, acabei falando nos 100 anos da da imigração japonesa, com uma família e seus descendentes. Pode ser que, daqui a três anos, eu encontre algo que queira abordar. Nesse momento, estou em paz com meus antepassados.

Folha Online - Já existe um outro projeto em vista?

Tizuka - Por enquanto, estou me dedicando ao lançamento do "Gaijin" no Brasil e fora do país. Depois, vou partir para outro projeto, que já tenho, chamado "Ave Caruana" ["Ilha de Marajó: A Revolta da Ave Caruana", que já tem captação de recursos autorizada pelo Ministério da Cultura e orçamento de R$ 10,7 milhões]. O filme fala sobre a Amazônia, sob a ótica de uma pajé.

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