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18/10/2005 - 20h32

Nélida Piñon diz que "as palavras erotizam a realidade"

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CARMEN SIGÜENZA
da Efe

A escritora brasileira Nélida Piñon, que na sexta-feira receberá o Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras, vive um grande momento porque, além desta homenagem, também recebeu o Prêmio Jabuti 2005 por seu romance "Vozes do deserto".

Prêmios e reconhecimentos para uma mulher que, além de escritora e acadêmica, é uma defensora da imaginação e da sedução com a palavra. "Seduzir é uma fatalidade humana. Quem não seduz está negando seu ofício humano. As palavras erotizam a realidade e, à medida que você seduz, você está legitimando o outro; portanto, tem até uma dimensão moral", explicou a escritora.

Nélida Piñon, que nasceu em 1937 no Rio de Janeiro, em uma viagem a Madri visitou as instalações da Agencia Efe. De muito bom humor, ela disse que o Prêmio Príncipe de Astúrias a enche de "honra" porque, "além de ser um prêmio de grande prestígio internacional, vem da Espanha", terra de seus ancestrais.

"Sou de família galega, e este prêmio é uma homenagem a meus ancestrais, ao lugar de onde saí, a essa aventura que meu avô começou me dando o idioma espanhol. Amo o espanhol e o português e espero que no dia 21, quando tenha que ler o discurso de agradecimento em nome de todos, consiga me contralar", afirmou Piñon, a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, entre 1996 e 1997.

Aclamada pela crítica como a voz mais destacada da literatura brasileira, Piñon recebeu dois prêmios no Brasil por "Vozes do deserto": o de melhor romance do ano e o Jabuti.

Nélida Piñon, apaixonada pelo Oriente Médio e por história em geral, dedicou muitos anos a esse livro, que ela mesma apresentará em Madri após receber o Prêmio Príncipe de Asturias, em Oviedo (norte da Espanha).

"Trata-se de um tributo à oralidade humana, poderia dizer que é uma releitura de 'As mil e uma noites', mas em nenhum momento Sherazade fala para seduzir o califa. Eu queria fazer um romance sobre a arte de fabular e sobre a imaginação como exercício do engenho humano, que de fato é o protagonista do romance".

Narradora e intelectual ativa, Nélida Piñon, defensora da arte de contar, pensou que Sherazade era a criatura mais emblemática neste assunto e que o Oriente Médio era o enclave perfeito para soltar a imaginação humana.

"Eles têm um único Deus. É um lugar no qual se reúnem três religiões monoteístas que abraçam um Deus invisível, e isso também é pura imaginação, porque é algo não tangível, não palpável; é tão sutil que seus efeitos provocam versões distintas", assinalou a escritora de "A república dos sonhos".

Sedução, sonhos, imaginação, erotismo, beleza e mestiçagem percorrem as páginas deste livro, em que as mulheres têm claro protagonismo.

"Como escritora tenho o grande prazer de observar e, embora acredite que também faço personagens masculinos completos, aqui favoreço as mulheres. Quero ser uma escritora protéica e assimilar muitas formas humanas e poder me tornar criança, homem, vegetal ou animal. Ser polissêmica e camaleônica".

E para conseguir este propósito, Nélida Piñon, cuja obra foi traduzida para vários idiomas, assegurou que seu projeto de vida tem que ser "a carnalidade humana".

"Se Flaubert teve a pretensão deslumbrante de dizer que Madame Bovary era ele, eu também posso ser tudo. Para mim, a melhor maneira de dirigir um projeto de criação é sendo capaz de se colocar nas veias alheias", disse a escritora.

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