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25/10/2005 - 09h54

Em "Manderlay", Von Trier constrói teorema cruel sobre racismo

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JOSÉ GERALDO COUTO
Colunista da Folha de S.Paulo

Uma ousadia formal, quando se repete, deixa de ser ousadia, transformando-se, no melhor dos casos, em estilo, e, no pior, em fórmula. Ainda é cedo para saber qual é o caso do cineasta dinamarquês Lars von Trier, que em "Manderlay", a exemplo do que fizera em "Dogville", rompe com a ambientação realista, encenando sua história num enorme palco vazio, em que os vários ambientes não passam de marcações inscritas no chão.

A esse cenário de teatro moderno corresponde uma abordagem dramática implacavelmente lógica e provocadora, como nas melhores peças de Brecht. Trata-se, de certo modo, de uma fábula sem moral, ou melhor, de um teorema que se dedica a destruir de modo sistemático as várias "morais" pré-fabricadas.

Se em "Dogville" o objeto da reflexão era a violência endêmica da sociedade americana, em "Manderlay" --a segunda parte de sua trilogia sobre os EUA, toda filmada na Europa--, o foco se fecha sobre outro tema espinhoso, a herança escravista e tudo o que ela implica de dificuldade de entendimento entre brancos e negros.

Grace, a bem-intencionada filha de gângster que no primeiro filme era interpretada por Nicole Kidman, reaparece em "Manderlay" na pele da igualmente talentosa Bryce Dallas Howard. Viajando com o pai (desta vez Willem Dafoe, em vez de James Caan) pelo Alabama, ela se depara com uma fazenda que, em pleno ano de 1933, ainda mantém as relações escravistas abolidas 70 anos antes.

Indignada, a moça resolve ficar no local e impor à força a liberdade na fazenda, com a ajuda de um bando de capangas do pai. Seu projeto vai além da abolição do trabalho escravo. Ela quer fazer da propriedade um modelo de democracia e autogestão.

O desastre da empreitada tem a ver, por um lado, com a dificuldade de modificar a mentalidade arraigada entre os próprios ex-escravos, que eram mantidos submissos, nos velhos tempos, por um intrincado sistema que os dividia em tipos que iam do negro bonachão ao rebelde de sangue nobre, passando pelo arruaceiro, pelo apático etc.

Mas os tropeços de Grace estão ali também para afirmar a convicção do diretor de que qualquer idéia de missão, de catequese, está destinada ao fracasso.

Em sua jornada, Grace oscila entre dois pólos: o velho Wilhelm (Danny Glover), que parece ser o ex-escravo mais sensato da comunidade, e o irascível Timothy (Isaach de Bankolé), por quem ela sente uma forte atração.

Ambos se revelarão diferentes do que pareciam, como tudo nesta diabólica sátira feita para desestabilizar qualquer conceito tranqüilizador que possamos ter sobre a questão racial.

Manderlay
Direção: Lars von Trier
Quando: quarta-feira, às 19h, no Frei Caneca Unibanco Arteplex; e dia 31, às 21h30, no Metrô Santa Cruz.


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