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08/11/2005 - 09h23

Gagliasso reclama de censura à arte

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LAURA MATTOS
da Folha de S.Paulo

Quem estava ao lado de Bruno Gagliasso, o Júnior de "América", enquanto o último capítulo da novela ia ao ar, na sexta, conta que ele chorou ao ver que o beijo entre seu personagem e o de Erom Cordeiro (Zeca) havia sido cortado.

Em entrevista exclusiva, o ator revela como foi a gravação do beijo gay e diz ver "com indignação" qualquer tipo de censura à arte (leia sobre o corte). Leia abaixo as declarações de Gagliasso.

Folha - O beijo entre Júnior e Zeca foi gravado? Como era a cena?

Bruno Gagliasso - Foi gravado. Era uma cena que me dava conforto em realizar. Havia consenso entre os responsáveis pela novela de que a cena deveria ser de bom gosto, centrada no amor. O beijo teria a mesma sensibilidade com a qual o tema foi conduzido.

Folha - Havia no roteiro várias possibilidades de beijos, mais ou menos íntimos, ou só uma versão?

Gagliasso - Várias maneiras foram estudadas do ponto de vista técnico, de enquadramento, luz, movimento de câmera. Em todas, o beijo se manteve exatamente o mesmo, sem mudança na intensidade. A beleza emocional estava achada, buscava-se, na repetição, a beleza plástica para que o clima fosse de amor e elegância.

Folha - Você sabia que o beijo não iria ao ar? Quando soube do corte?

Gagliasso - Não sabia de nada, foi uma surpresa. Só percebi durante a exibição do capítulo.

Folha - O que achou do corte?

Gagliasso - A cena tal como foi ao ar frustrou muita gente, mas não posso deixar de reconhecer que o bom gosto se conservou, que os olhares amorosos estavam presentes, que a beleza plástica era incontestável. Se não foi ao ar o beijo em si, isso está além da responsabilidade da equipe da novela, assim como da minha.

Folha - Como a comunidade gay reagia à sua personagem?

Gagliasso - Eles entenderam a abordagem da Glória. Ela retratava com refinamento inédito na TV o momento que a esmagadora maioria dos homossexuais vive: a dificuldade de assumir para si e para a família sua orientação sexual. O apoio foi total. Houve dois movimentos fortes: no primeiro, vários gays se aproximaram de mim, ou escreveram, dizendo que viveram exatamente aquele drama. O segundo foi a aproximação de heteros que me relataram conhecer inúmeros casos idênticos ao do Júnior. Experimentei imenso carinho do público, de artistas e da crítica. Após o último capítulo, constatei, pela imprensa, que havia grande onda de frustração. Sendo absolutamente sincero, digo que preciso me recolher para descansar. Estou exausto. As últimas cenas exigiram emocionalmente tudo o que tinha para dar. Só aos poucos começo a tomar fôlego para pensar no que houve. Mas gosto de pensar.

Folha - O que achou da decisão?

Gagliasso - Creio que muitos fatores devem ter interferido nessa decisão. Não tive acesso aos processos que levaram ao corte. Da mesma forma que tentei compreender as situações da vida do Júnior, utilizo o mesmo procedimento agora. Prefiro falar quando tiver compreendido de forma mais consistente o que aconteceu.

Folha - Acredita que tenha havido muita pressão contra o beijo?

Gagliasso - Claro! E não vejo nada de errado, adoro o jogo democrático. Quem se sente incomodado tem o direito de se manifestar. Mas justamente por amar a democracia, vejo com indignação qualquer censura à arte, e a novela brasileira já tem esse status. Quem não quer ver muda de canal. O controle remoto é um grande instrumento democrático.

Folha - Lamenta o fato de que não será lembrado por ter interpretado o primeiro beijo gay em novelas?

Gagliasso - Não me preocupo com isso, sou jovem, quero ser lembrado pelo conjunto da minha carreira. Se algum dia entrar para a história da TV, como teria sido supostamente o caso, em "América", não gostaria que fosse só por um beijo, apesar de ter total compreensão da importância que isso poderia ter. Gostaria que o beijo tivesse ido ao ar, não por vaidade boba de entrar ou não para a história da TV, mas por imaginar que poderia ajudar as pessoas que bombardearam meu celular, na última semana, chorando e dizendo que estavam abraçados às suas mães diante da TV e da verdade.

Folha - Participou de reunião para definir a exibição do beijo?

Gagliasso - Nunca, sou peixe pequeno. O que defendi foi a sinceridade dos meus sentimentos na construção do Júnior. Mesmo sem o beijo, espero que o esforço não tenha sido em vão.

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