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23/01/2006 - 09h00

Projeto de Lina Bo Bardi sofre com cupins e chuvas

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MARIO GIOIA
da Folha de S.Paulo

"A casa Bardi foi a primeira casa que se construiu no Jardim Morumbi. (...) Era uma grande reserva de mata brasileira, cheia de bichos selvagens: jaguatiricas, tatus, veadinhos, preás, sarigüês, preguiças." Hoje, a fauna original descrita por Lina Bo Bardi deu lugar à praga dos cupins, que é uma das principais ameaças à Casa de Vidro, primeiro projeto da arquiteta ítalo-brasileira.

Não apenas os cupins ameaçam um dos projetos-chave da arquitetura nacional. Em caso de chuva, a impermeabilização do telhado não contém o grande volume de água, que provoca vários pontos de goteira e infiltração nos quartos e na cozinha da residência. "Quando chove forte, já sabemos que temos de espalhar os baldes pela casa", conta Tatiana Russo, 25, uma das funcionárias do Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, responsável pela residência, tombada pelo Condephaat (órgão estadual de patrimônio histórico) e em estágio final de tombamento pelo Iphan (órgão federal de patrimônio).

Já os cupins de madeira --diferentes dos subterrâneos, ausentes da Casa de Vidro, que podem atacar as estruturas de prédios-- colocam em risco a manutenção do rico acervo mantido pelo instituto. "Felizmente, não atingiram nenhuma tela, mas já atacaram molduras e móveis", afirma Russo. Entre as preciosidades que pertenciam ao casal Bardi, destacam-se pinturas flamengas, obras do uruguaio Torres García (1874-1949) e do chileno Roberto Matta (1911-2002), entre muitas outras.

O acervo de arte popular, uma das paixões de Lina (1914-1992) e que se espalha por vários ambientes da residência, também merece mais atenção. Muitas das obras foram realizadas em materiais frágeis, como papel machê, e precisam de restauro.

Há também objetos de valor histórico-artístico, como o vestido que o arquiteto e cenógrafo Flávio Império (1935-1985) desenhou e presenteou Lina, que hoje é guardado em um dos armários da antiga dona.

Peças únicas, como vários modelos de cadeira e mobiliário que Lina desenhou exclusivamente para sua casa, com estrutura em metal azul, também se espalham entre os espaços.

Arquitetura de vidro

A biblioteca restante do casal --boa parte do que Pietro (1900-1999) mantinha foi o embrião da biblioteca do Masp, projeto mais conhecido de Lina-- também guarda volumes raros, que contam muito sobre a vivência do casal. Há desde publicações marxistas, prova do engajamento político de Lina, até variados e numerosos catálogos de exposições ao redor do mundo.

As estantes que acomodam os livros já não são mais as originais de vidro --o casal já as havia trocado--, mas o projeto de recuperação da casa prevê a sua volta. "Elas foram substituídas porque o vidro não suportava muitas oscilações de temperatura e peso, mas hoje já há vidros mais resistentes, que podem dar novamente a transparência idealizada por Lina em seu projeto original", avalia Russo.

O projeto de recuperação da Casa de Vidro está orçado em R$ 1,5 milhão e deve ser inscrito nos próximos dias para tentar captar recursos por meio de leis de incentivo, segundo a presidente do instituto, Graziella Bo Valentinetti, 89, irmã de Lina. "Este [a Casa de Vidro] é o primeiro projeto da minha irmã e é um patrimônio inestimável da arquitetura brasileira e de São Paulo." O arquiteto Marcelo Suzuki, um dos principais assessores de Lina, é quem assina o projeto de restauro.

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