Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/07/2009 - 17h56

Fase objetiva de Manuel Bandeira mostra mundo exterior e tom erótico; leia poemas

Publicidade

da Folha Online

As obras poéticas de Manuel Bandeira (1886-1968) fizeram com que ele se tornasse um dos autores mais importantes do modernismo brasileiro. Os estudiosos costumam ressaltar uma mudança significativa de conteúdo a partir do livro "Libertinagem", de 1930, que transparece a busca pela objetividade e por assuntos relacionados ao mundo exterior. Já em "Estrela da Manhã", lançado seis anos depois, o escritor utiliza um tom erótico e denso para falar sobre a mulher difícil e inatingível.

Fotomontagem Folha Online
Livro escrito por Manuel Bandeira faz parte da "Coleção Folha: Grandes Escritores Brasileiros"
Livro escrito por Manuel Bandeira faz parte da "Coleção Folha: Grandes Escritores Brasileiros"

Com a intenção de reunir em um mesmo volume esses dois clássicos de Manuel Bandeira, a "Coleção Folha: Grandes Escritores Brasileiros" publicou "Libertinagem & Estrela de Manhã" (Folha de S.Paulo, 2008). Com ele, o leitor tem à disposição alguns dos mais significativos poemas do escritor, incluindo "Vou-me Embora para Pasárgada", "Pneumotórax" e "Não Sei Dançar".

Leia abaixo os poemas "A Virgem Maria" e "Na Boca", presentes em "Libertinagem", e "Jacqueline" e "A Filha do Rei", de "Estrela da Manhã".

Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".

*

A Virgem Maria

O oficial do registro civil, o coletor de impostos, o mordomo da
[Santa Casa e o administrador do cemitério de S. João Batista
Cavaram com enxadas
Com pás
Com as unhas
Com os dentes
Cavaram uma cova mais funda que o meu suspiro de renúncia
Depois me botaram lá dentro
E puseram por cima
As Tábuas da Lei
Mas de lá de dentro do fundo da treva do chão da cova
Eu ouvia a vozinha da Virgem Maria
Dizer que fazia sol lá fora
Dizer i n s i s t e n t e m e n t e
Que fazia sol lá fora.

Na boca

Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer
Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
- Na boca! Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.
Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos
[viciados
Dorinha meu amor...
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
- Na boca! Na boca!

Jacqueline

Jacqueline morreu menina.
Jacqueline morta era mais bonita do que os anjos.
Os anjos!... Bem sei que não os há em parte alguma.
Há é mulheres extraordinariamente belas que
[morrem ainda meninas.
Houve tempo em que olhei para os teus retratos de
[menina como olho agora para a pequena
[imagem de Jacqueline morta.
Eras tão bonita!
Eras tão bonita, que merecerias ter morrido na idade de
[Jacqueline
- Pura como Jacqueline.

A filha do rei

Aquela cor de cabelos
que eu vi na filha do rei
- Mas vi tão subitamente -
Será a mesma cor da axila,
Do maravilhoso pente?
Como agora o saberei?
Vi-a tão subitamente!
Ela passou como um raio:
Só vi a cor dos cabelos.
Mas o corpo, a luz do corpo?...
Como seria o seu corpo?...
Jamais o conhecerei!

*

"Libertinagem & Estrela de Manhã"
Autor: Manuel Bandeira
Editora: Folha de S.Paulo
Páginas: 104
Quanto: R$ 14,90
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página