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12/04/2006
-
14h46
MARY PERSIA
da Folha Online
A estréia já estava marcada há meses, mas não poderia haver data melhor para levar aos palcos "Cidade Vampira", texto de Fausto Fawcett e Henrique Tavares (também diretor) que foca em Suzane Richthofen para esmiuçar o caos urbano. A peça estreou no último fim de semana no Rio, e --intencionalmente ou não-- pega onda no caso da garota acusada de assassinar os pais em um bairro nobre da zona sul de São Paulo.
O projeto teve início um ano atrás, em conversas de bar entre Fawcett e Tavares. O músico e escritor, ainda hoje lembrado pela música "Kátia Flávia" e por sua fixação por loiras, mostrou um texto que havia composto para um trabalho de Fernanda Abreu, "uma geral filosófica na nossa urbanóia", que serviu de contexto para a história. Tavares sugeriu a personagem Suzane, com "um encanto sinistramente radical". "Há a força trágica, de tradição urbana antiqüíssima, com elementos de urbanopatia, com uma sociopata superstar", analisa Fawcett. Ele avisa que, com o drama, vem um humor "violentamente negro".
A peça se inicia com a reconstituição do crime. Um jornalista (Isaac Bernat), então, resolve fazer uma odisséia pelo submundo urbano para encontrar Suzane (Carla Faour), já na cadeia. Ele propõe que ela faça fotos eróticas para uma revista.
Também estão no elenco Glaucio Gomes (delegado), Éber Inácio, Alfredo Boneff (irmãos Cravinhos), Debora Azevedo (psicóloga), Bruno Resende (guitarrista) e o próprio Fawcett, que habita o Olimpo do Sarcasmo com duas louras, as Valquírias (Renata Davies e Cecília Hoeltz).
A personagem recebeu o nome, mas não o sobrenome alemão de Suzane. "Havia uma certa incerteza jurídica", explica o autor. "Mas veja você que o 'santo temático' é forte. A garota-propaganda está demais."
Juízo de valor
A composição dos diálogos foi dividida entre os dois autores. "Henrique deu ênfase a esse lado farsesco --ela tentando mostrar uma vitimização-- e ao mesmo tempo, no final da peça, mostramos seu lado agressivo e sociopata", descreve Fawcett, para quem não houve juízo de valor em relação à Suzane real na peça. "O que nos interessou foi focar num tipo de personagem humano, que obviamente tem essa característica sinistra, e atrai a atenção das pessoas pelo tipo de crime e por quem ela é."
O texto aborda, ainda, a Justiça do Brasil ("uma piada, mas uma piada mórbida") e o caso do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, que em agosto de 2000 matou a também jornalista Sandra Gomide e atualmente aguarda julgamento em liberdade.
"Hoje em dia, no contexto brasileiro, você consegue colocar ambigüidades jurídicas em algo nítido", diz, referindo-se às características do assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen ocorrido em outubro de 2002 (duplo homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima). Cristian e Daniel Cravinhos --à época namorado de Suzane-- respondem às mesmas acusações. Os três são acusados também de fraude processual, por terem alterado a cena do crime para forjar um latrocínio.
Para Fawcett, a ambigüidade que se verifica no contexto jurídico pode ser vista também no povo. "O nosso sentimento 'coliseu' está cada vez mais refinado e ampliado, por internet, videogames etc. Por outro lado, a mídia tem aquela velha máxima: um cão mordendo um homem não é nada, mas um homem mordendo um cão é 'a' notícia. É a boa e velha natureza humana, que continua a mesma coisa. Só mudou o fato de estarmos cercados de gags, próteses e máquinas tentando disfarçar a nossa eterna tentativa de fuga da insignificância da morte", avalia. "Todo Jetson tem um Flintstone dentro de si."
A peça fica em cartaz no teatro Planetário até maio. Os produtores negociam uma temporada em São Paulo.
Cidade Vampira
Quando: sexta e sábado, às 21h, domingo às 20h
Onde: teatro Planetário (r. Padre Leonel Franca, 240, Gávea, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21 2274-7722)
Quanto: R$ 20
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da Folha Online
A estréia já estava marcada há meses, mas não poderia haver data melhor para levar aos palcos "Cidade Vampira", texto de Fausto Fawcett e Henrique Tavares (também diretor) que foca em Suzane Richthofen para esmiuçar o caos urbano. A peça estreou no último fim de semana no Rio, e --intencionalmente ou não-- pega onda no caso da garota acusada de assassinar os pais em um bairro nobre da zona sul de São Paulo.
Divulgação |
Fawcett está também no palco |
A peça se inicia com a reconstituição do crime. Um jornalista (Isaac Bernat), então, resolve fazer uma odisséia pelo submundo urbano para encontrar Suzane (Carla Faour), já na cadeia. Ele propõe que ela faça fotos eróticas para uma revista.
Divulgação |
Peça está em cartaz no Rio |
A personagem recebeu o nome, mas não o sobrenome alemão de Suzane. "Havia uma certa incerteza jurídica", explica o autor. "Mas veja você que o 'santo temático' é forte. A garota-propaganda está demais."
Juízo de valor
A composição dos diálogos foi dividida entre os dois autores. "Henrique deu ênfase a esse lado farsesco --ela tentando mostrar uma vitimização-- e ao mesmo tempo, no final da peça, mostramos seu lado agressivo e sociopata", descreve Fawcett, para quem não houve juízo de valor em relação à Suzane real na peça. "O que nos interessou foi focar num tipo de personagem humano, que obviamente tem essa característica sinistra, e atrai a atenção das pessoas pelo tipo de crime e por quem ela é."
O texto aborda, ainda, a Justiça do Brasil ("uma piada, mas uma piada mórbida") e o caso do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, que em agosto de 2000 matou a também jornalista Sandra Gomide e atualmente aguarda julgamento em liberdade.
Tuca Vieira/Folha Imagem |
Suzane voltou à prisão |
Para Fawcett, a ambigüidade que se verifica no contexto jurídico pode ser vista também no povo. "O nosso sentimento 'coliseu' está cada vez mais refinado e ampliado, por internet, videogames etc. Por outro lado, a mídia tem aquela velha máxima: um cão mordendo um homem não é nada, mas um homem mordendo um cão é 'a' notícia. É a boa e velha natureza humana, que continua a mesma coisa. Só mudou o fato de estarmos cercados de gags, próteses e máquinas tentando disfarçar a nossa eterna tentativa de fuga da insignificância da morte", avalia. "Todo Jetson tem um Flintstone dentro de si."
A peça fica em cartaz no teatro Planetário até maio. Os produtores negociam uma temporada em São Paulo.
Cidade Vampira
Quando: sexta e sábado, às 21h, domingo às 20h
Onde: teatro Planetário (r. Padre Leonel Franca, 240, Gávea, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21 2274-7722)
Quanto: R$ 20
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