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27/05/2006 - 09h32

Surpresas em Cannes ameaçam Almodóvar

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SILVANA ARANTES
Enviada especial da Folha de S.Paulo a Cannes

Uma onda de surpresas varreu a reta final do 59º Festival de Cannes, dissipando a certeza de boa parte da crítica de que a Palma de Ouro havia se definido no terceiro dia da mostra (19/5), quando o filme "Volver", de Pedro Almodóvar, teve sua sessão oficial.

A cerimônia de encerramento do festival, com anúncio dos vencedores, ocorre amanhã. Os dois últimos concorrentes entre os 20 que disputam a Palma de Ouro serão apresentados hoje --"El Laberinto del Fauno", do mexicano Guillermo Del Toro, e "Crónica de una Fuga", do argentino Adrián Caetano. Mas foram os candidatos exibidos ontem --o português "Juventude em Marcha", de Pedro Costa, e o francês "Quand J'Étais Chanteur" (quando eu era cantor), de Xavier Giannoli-- que embaralharam as apostas.

Os dois filmes têm em comum o elogio do passado. E apenas isso. O presidente do júri, o cineasta chinês Wong Kar-wai, teria se encantado pelo longa de Costa, diziam ontem jornalistas portugueses.

Reação

O fato é que "Juventude em Marcha", que acompanha o cotidiano de uma comunidade pobre nos arredores de Lisboa, com a câmera praticamente parada e quase nenhuma ação, é o mais singular filme da competição e o que causou a reação mais eloqüente na imprensa. A quase totalidade dos jornalistas presentes à primeira sessão do filme se levantou e foi embora, muito antes que seus 154 minutos terminassem.
Costa disse que seu filme exige da platéia "uma sensibilidade e atenção" que talvez sejam incompatíveis com "o ambiente de tensão" que domina Cannes. Registro da vida real de não-atores, "Juventude em Marcha" "não é uma criação, mas um encontro", diz Costa.

A celebração de um modo de vida em extinção é o substrato de "Quand J'Étais Chanteur", que fez de Gérard Depardieu favorito imediato ao prêmio de ator. Depardieu é Alain Moreau, cantor de bailes remanescente da velha tradição da "chanson française", com seus arranjos orquestrais e seu pendor ao brega.

Por acaso, ele se apaixona pela jovem e linda Marion (Cecile de France) e passa o filme tentando entendê-la e conquistá-la, à moda de uma canção de Christophe --o da jurássica "Aline", a quem o longa homenageia.

A diferença entre Moreau e Marion é notável. Ela é elegante e moderna. Ele usa roupas cafonas e pinta os cabelos, num artifício para rejuvenescer sua platéia e a si mesmo. Mas ele faz questão de ficar à margem de MP3, Ipods e toda novidade tecnológicas na esfera do consumo musical.

Filme-cúmplice de quem se tornou anacrônico ao não embarcar na canoa da música eletrônica, "Quand J'Étais Chanteur" termina com uma mensagem de conformada resistência. Depardieu interpreta (com sua própria voz, como em todo o filme), a música-título, que diz: "Não entendo muito o que está acontecendo agora, mas continuo cantando as minhas músicas e me divertindo com elas".

Além do reconhecimento a Depardieu, "Quand J'Étais Chanteur" não parece se candidatar a mais prêmios. Porém tornou-se clichê neste Festival de Cannes acompanhar toda suposição com a frase: "Kar-wai é imprevisível".

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