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28/09/2006 - 16h13

Poesia ultrapassa forma, ganha som e cai na rede

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Colaboração para a Folha

Poesia é risco, e os poetas experimentais querem correr todos. Com ajuda de novas tecnologias, eles imprimem outros significados às palavras e ampliam as possibilidades da expressão poética. Sem tinta ou papel, a poesia pode ter som, vídeo, fotografia e se apresentar em forma de performance, CD, clip-poema, poema-objeto, livro-objeto e e-poema --aproveitando recursos digitais e desenvolvendo novos suportes.

"Existe uma revolução surgindo na poesia, associada aos recursos tecnológicos", afirma o poeta Ricardo Corona, 44. Para o poeta e designer André Vallias, 43, os recursos gráficos, multimídia e interativos devolvem à poesia a amplitude que esteve ofuscada pela hegemonia da literatura impressa: "Estamos recuperando oralidade, performance e interação, tão presentes na época antiga e medieval. A poesia não é e nunca foi somente palavra".

Se a palavra tem som, cor e volume, esses sentidos devem ser potencializados, de acordo com o poeta Ricardo Aleixo, 45. Já Ferreira Gullar, 75, que digitalizou quatro de seus poemas concretos, relativiza o papel dos novos recursos, que, para ele, não prescindem de criatividade. "O meio digital é mais pobre e não vai superar a poesia tradicional, mas pode ser um novo caminho."

Os info-poemas também encontram resistência entre leitores tradicionais e da academia. Entretanto, segundo o professor de teoria literária da Unicamp Paulo Franchetti, a poesia digital permite que a inventividade se estenda e crie novos parâmetros para o texto: "A questão é: qual é a poesia que está surgindo a partir da experiência com o computador e que espaço ela ocupará?".

Sem resposta, poetas arriscam palpites. "Livro é como vinil: vai deixar de existir. O conceito da organização permanecerá, mas teremos telas de cristal líquido, que permitirão baixar textos e serão vendidas em camelôs", afirma Pipol, 44.

Herança concreta

Não dá para pensar em poesia tecnológica e digital antes da era da informática, mas suas bases foram lançadas há 50 anos, com as inovações do movimento concreto (leia texto nesta página). "A poesia mais avançada que se faz no Brasil é herdeira da poesia concreta, que já possuía uma vocação intersemiótica e já se abria às novas tecnologias", explica o professor da Faap, Omar Khouri, doutor em comunicação e semiótica pela PUC-SP.

De fato, o movimento criou uma percepção da concretude da palavra e, a partir de então, ela passou a habitar espaços além dos livros, muitas vezes estando indissociável de seu novo suporte. "O poema concreto revolucionou a maneira de pensar e fazer poesia. É uma matriz que não se esgotou", afirma o poeta Wálter Silveira, 51. Para Aleixo, dos procedimentos concretos, a concisão e o uso criativo do espaço da página são fundamentais hoje.

A partir dos anos 80, tecnologias digitais estiveram disponíveis. A poeta e artista plástica Lenora de Barros, 52, fala do primeiro contato, na exposição "Arte em Video-texto", ocorrida em 1982 e 1983. "Lá caiu a ficha de que podíamos realizar todo o sonho da poesia concreta. Com a multimídia, a fronteira entre poesia e artes plásticas ficou tênue, criando poetas multifacetados e plurais."

LUIZA DE ANDRADE Luiza Andrade participou da 41ª turma de treinamento da Folha, que foi patrocinada pela Philip Morris Brasil

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