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12/10/2006 - 20h46

Comentário: "O Proxeneta" expõe esgotamento de "Hermes & Renato"

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SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Parodiar os clichês das telenovelas é o caminho que a trupe debochada de "Hermes & Renato" tenta seguir desde a última terça-feira, quando a novelinha trash "O Proxeneta" estreou na MTV. O problema é que essa fórmula de humor, em voga desde a "TV Pirata" nos anos 80, se desgastou bastante com o "Casseta & Planeta" nos últimos anos na Globo.

Divulgação
Em "O Proxeneta", Franco Faraco, dono da empresa "Barro na Louça", sofre atentado
Em "O Proxeneta", Franco Faraco, dono da empresa "Barro na Louça", sofre atentado
A trupe bizarra da MTV se esforça para fazer graça e tirar sarro da teledramaturgia tupiniquim. Mas falta o clique. As piadas não funcionam. Os palavrões, as gírias, as situações absurdas, os closes espalhafatosos, a celebração do discurso proibido e transgressor soam falsos, vazios de sentido. Não dá vontade de acompanhar a colagem folhetinesca.

Em tese, a liberdade de criação da turma do "Hermes & Renato" é inversamente proporcional à verba disponível de produção, comparando as condições de seus colegas do "Casseta" e do "Pânico". Por isso, é dispensável criticar a cenografia caseira. Mas na MTV, eles estão livres da obrigação de fazer "paródia por encomenda", como ocorre na Globo, onde a intenção final é promover as novelas, principal produto da emissora.

No Brasil, a telenovela é uma espécie de "PF" (prato feito) da indústria do entretenimento, alvo do escárnio de certas vozes intelectuais, eruditas, politizadas e elitistas, que picham o hábito de ver TV como vício alienante, nocivo à saúde mental, mancha no currículo de quem pretende exibir "cultura".

Para compor o cenário da breguice típica das novelas e os núcleos de pobres e ricos, "O Proxeneta" recorre ao repertório kitsch, com destaque para a estética cafajeste: carrão vermelho conversível, cabeleira de galã, blazers, relojão e óculos escuros, cigarro apagado no copo de uísque, merchandising disfarçado em cenas, diálogos em tom teatral.

Divulgação
Novelinha da MTV satiriza clichês da teledramaturgia, como galãs e vilões
Novelinha da MTV satiriza clichês da teledramaturgia, como galãs e vilões
Reproduções burlescas de cenas "clássicas" de filmes cultuados também pipocam em "O Proxeneta", como a luta entre Darth Vader e Luke Skywalker em "Guerra nas Estrelas", dando pistas da fonte de inspiração de "Hermes & Renato", como Mel Brooks ("Tem um Louco Solto no Espaço", 1987) e Quentin Tarantino ("Kill Bill", 2003).

Mesmo sem a cobrança de "dar ibope" no horário nobre, "O Proxeneta" chove no molhado. Homem vestido de mulher não é bem uma novidade na TV. O extinto "Sexo Frágil" (Globo) foi mais feliz ao explorar esse recurso de riso. "O Proxeneta" também apresenta a personagem Bichinha de Souza. Nada demais. "Zorra Total" (Globo) e "A Praça É Nossa" (SBT) já são referências infames no truque de ridicularizar a cultura gay. "Olha a faca", gritaria Patrick, hétero suspeito de "Zorra".

Quando deslanchou o projeto Massacration, que satiriza os vícios de bandas de heavy metal, o quinteto "Hermes & Renato" marcou um tento na carreira, proporcionando sucesso financeiro com CD e shows da banda. Por outro lado, "O Proxeneta" representa um passo atrás e sinaliza uma crise de criatividade do grupo, um esgotamento de suas fontes de criação. Que não descanse em paz nem entre em coma, destino de Franco Faraco, magnata de uma indústria de vasos sanitários e personagem principal do folhetim.

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