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31/10/2006 - 10h12

Jia Zhang-Ke observa a China em mutação em "Still Life"

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INÁCIO ARAUJO
da Folha de S.Paulo

Na saída de "Still Life", o escritor Bernardo Carvalho manifestava seu entusiasmo em relação a "Still Life", com o dedo indicador ostensivamente apontado para cima. Apontei o meu para o lado, em resposta, significando, talvez, minha perplexidade diante da ficção de Jia Zhang-Ke, talvez minhas reticências em relação a parte do cinema oriental, chinês sobretudo.

Reticências que o plano final, com um homem caminhando na corda bamba, reforçaram: esse lado meio Fellini introduzido à força ali não me agradava. Com o tempo, porém, "Still Life" revela-se um desses filmes cujas imagens permanecem no espectador.

Primeiro, as histórias: um homem chega à cidade de Fengjie em busca da filha e da ex-mulher. Em vez delas, encontra inundada a rua onde moravam. A cidade toda está em demolição para a construção de uma barragem gigantesca. Uma mulher chega à cidade em busca do marido, que não vê há dois anos. Ela tem o número do celular dele, mas falta-lhe um número (nesse mundo sem comunicação parece que todo mundo tem um celular). O homem não consegue encontrar a filha e a ex-mulher. A outra mulher usa de mil intermediários, mas o marido escapa-lhe. É um homem que trabalha muito.

No meio disso, há uma cidade que se desmonta, a poder de demolições ou implosões, tudo ordenado por uma grande companhia, dirigida por uma mulher. É o novo capitalismo, embora as ordens sejam do Estado e a ele sejam dirigidas as queixas. De vez em quando, numa TV, desfilam imagens de líderes chineses: Mao, Deng.

Tudo passa, pelo jeito, sem que o sentido se fixe nunca. Sobretudo o sentido da narrativa, que se arma, promete ir para um lado, para depois apagar o traçado, expor a opacidade: mais ou menos como as narrativas de Bernardo Carvalho, justamente. Ou como, em Guimarães Rosa, aquelas pessoas que correm o mundo atrás de outras, tanto que no fim a busca é que importa, mais do que o encontro.

À medida que o tempo passa, após a sessão, o filme de Zhang-Ke deixa ver sua solidez: esses seres desenraizados, esse país onde o gigantesco geográfico parece engolir as pessoas, às voltas com problemas enormes, a mudança permanente (e não raro radical) de opções, o crescimento, o progresso, convivendo com heranças arqueológicas ou culturais que não se apagam: tudo está lá, tudo controlado, submetido a um olhar muito forte.

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