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05/11/2006 - 16h48

Nelson Motta fecha último dia do Fórum das Letras de Ouro Preto

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ANDREA MURTA
da Folha Online, enviada especial a Ouro Preto

O escritor e crítico musical Nelson Motta fecha neste domingo, acompanhado pelos jornalistas José Eustáquio de Souza e Maria Dolores, a edição 2006 do Fórum das Letras de Ouro Preto (Flop).

O evento, que começou no dia 1º de novembro, teve como tema "Memória e Edição", e é segundo os organizadores o único encontro literário do Brasil a englobar todos os aspectos da leitura, desde a escrita e editoração até lançamentos e bate-papos com autores.

Andrea Murta/Folha Online
Visitantes do Fórum das Letras de Ouro Preto olham livros; 12 mil passaram pela feira
Visitantes do Fórum das Letras de Ouro Preto olham livros; 12 mil passaram pela feira
Em seu segundo ano de existência, o Flop atraiu mais de 12 mil pessoas à cidade mineira, um crescimento de 20% em relação a 2005. Segundo o co-organizador do festival, o historiador e pró-reitor de extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Fábio Faversani, o Fórum é diferente de todos os demais eventos de literatura do país. Segundo ele, estes se dividem em dois grandes tipos: ou mais voltados para o panorama industrial, como feiras de livros, ou eventos que dão mais projeção para o autor como artista, como é o caso da Festa Literária Internacional de Parati (Flip).

"A idéia do Fórum das Letras é trazer um perfil ainda inexistente, que se ocupa de todo o circuito que compõe a produção literária", diz Faversani, que organizou o Flop em parceria com a idealizadora, a diretora do Instituto de Artes, Filosofia e Cultura da Ufop, Guiomar de Grammont, com uma verba de R$ 600 mil. "Queremos também proporcionar um diálogo mais intenso, principalmente em relação aos autores."

O formato do fórum favorece a aproximação. Ao invés de palestras e autógrafos, autores, jornalistas e público se encontram diariamente em um café literário, um espaço intimista com mesas e banquinhos no qual a discussão é aberta. Após o debate, os presentes também podem conversar com os autores abertamente, como ocorreu a escritora norueguesa Asne Seierstad e a jornalista brasileira Mônica Waldvogel.

"Novo jornalismo"

Seierstad, Waldvogel e o jornalista português Carlos Fino protagonizaram um dos debates mais intensos do festival na noite da última sexta-feira (3). Presenças ansiosamente aguardadas, os três formaram a mesa "Romance jornalístico: ficção ou reportagem?", na qual o best-seller "O livreiro de Cabul", da norueguesa, foi alvo de intenso debate.

Andrea Murta/Folha Online
Debate reúne Asne Seierstad (à esq.) e os jornalistas Carlos Fino (Portugal) e Mônica
Debate reúne Asne Seierstad (à esq.) e os jornalistas Carlos Fino (Portugal) e Mônica
Seierstad, que viveu durante três meses na casa de uma família afegã após a queda do regime extremista islâmico do Taleban, descreve no livro, sob uma ótica própria, a vida dos moradores do Afeganistão. O debate acerca da obra nasce do questionamento mundial de sua visão ocidental da família e da dúvida sobre o caráter jornalístico da narrativa.

Depois de uma hora e meia de ataques --alguns suaves, outros nem tanto-- por parte do público e até do colega de debates Carlos Fino, Asne quase perdeu a serenidade nórdica. Com a milésima pergunta sobre sua neutralidade e autoridade para escrever sobre a família, ela disse: "Acho que já respondi isso a noite toda... isso é jornalismo? É novo jornalismo?".

"Acredito que é jornalismo porque é tudo baseado em minhas experiências lá. Mas todos os jornais estrangeiros-- 'The Guardian' (Inglaterra), 'Le Monde' (França)-- disseram que é impossível classificá-lo. Eu deveria não tê-lo escrito porque é impossível ser neutra? Acho que não. Bem, leia o livro e tire suas próprias conclusões", acrescentou.

Ficção ou jornalismo, "O Livreiro de Cabul" continua na lista dos mais vendidos do jornal americano "New York Times", e o mais recente livro de Seierstad, "101 dias em Bagdá", sinaliza para o mesmo caminho.

Lançamentos

Além de "101 Dias em Bagdá" --o mais recente livro de Seierstad--, o Flop também lançou a edição comemorativa de "Grande Sertão: Veredas" (Guimarães Rosa), "Ao Som do Mar e à luz do Céu Profundo" (Nelson Motta), "Dr. Roni & Mr. Quito - a vida do amado e temido boêmio de Ipanema" (Scarlet Moon), "69/2 Contos eróticos" (Ronald Claver), "Sobre a Neblina" (Christiane Tassis) e vários outros.

Apesar de acessível, os custos do Fórum ainda assustaram alguns estudantes. As inscrições custaram entre R$ 10 e R$ 50 reais, e os participantes que procuraram convênios para a compra dos livros lançados no Flop se decepcionaram. "Esperava que os livros estivessem mais baratos. A literatura continua muito elitizada", afirma Tiago dos Santos, 21, estudante do curso de letras da Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto).

Cursos e oficinas

Nem a ausência da cantora Adriana Calcanhoto, que foi convidada a abrir o fórum mas não conseguiu chegar a Ouro Preto por causa da greve dos controladores de vôo, desanimou os participantes. Hoje, Nelson Motta é a presença mais aguardada, no debate "A literatura narra a memória da MPB". Mas é interessante notar que, além dos convidados ilustres, os cursos e oficinas do festival também entraram para a lista das atividades mais procuradas nestes cinco dias.

Um foco importante, segundo Faversani, é na área de editoração de livros, pouco abordada em outros festivais literários. "O editor é invisível para o público, mas é fundamental. Percebemos essa demanda e esse é um foco importante do fórum", afirma o historiador.

"O que mais me impactou foi o curso de editoração, onde fiquei sabendo da realidade nua e crua do mercado para escritores novos. É triste", diz Julia Costa Fonseca, 24, estudante de letras da Ufop.

O Fórum das Letrinhas, com atividades voltadas para o público infantil, e as exposições de arte como a "Alg(uma) Poesia", de Guilherme Mansur, finalizam a lista das atrações do Flop. Encerrado para o público externo hoje, no entanto, o festival continua a acontecer para a população local: toda a renda obtida com as inscrições é, de acordo com a organização, revertida para a compra de livros e para a montagem de "caixas-bibliotecas", círculos de livros móveis que vão até as comunidades estimular a leitura.

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