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13/12/2006 - 09h24

Ex-parceira de Aïnouz quer crédito em "O Céu de Suely"

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MÁRIO MAGALHÃES
da Folha de S.Paulo, no Rio

Os mais de 28 mil espectadores que já assistiram a "O Céu de Suely" --sem contar as platéias de festivais no Brasil e no exterior-- conhecem a história da moça do Ceará que volta para sua cidade sertaneja com o filho pequeno e sem o companheiro.

No filme de Karim Aïnouz, a protagonista rifa seu corpo para uma noite de prazeres, a fim de pagar a passagem de ônibus e ir de novo embora. Junta o dinheiro, deixa o menino aos cuidados da família e, na derradeira seqüência, o espectador sabe se ela parte ou não.

Sem tirar nem pôr, a mesma sinopse serve a um outro filme (de 2000) dirigido pelo cearense Aïnouz, o quase desconhecido curta "Rifa-me", de 27 min ("O Céu..." tem 86 min).

Descobridora do caso real da mulher que se rifou, co-autora do roteiro de "Rifa-me" com Aïnouz, autora em 1993 de um roteiro original já então intitulado "Rifa-me" e produtora do curta, a socióloga Simone Oliveira Lima não teve o nome incluído entre os autores do argumento de "O Céu de Suely".

Ela reivindica esse crédito. O mesmo que o conterrâneo e antigo amigo de duas décadas não quer lhe dar.

"A premissa dramática dos dois filmes é diferente, apesar de a rifa estar presente nos dois", afirma Aïnouz. "No curta ela é o tema central do filme, [...] e no longa ela é uma virada na trama." "O Céu..." foi produzido e filmado como "Rifa-me". Pouco antes de finalizado, ganhou o título definitivo.

"Imagine "O Céu de Suely" sem o argumento da rifa: sobra o quê?", indaga Simone. "A fotografia, a direção de atores, a trilha sonora, a luz do sertão profundo... esse filme é essencialmente [...] um olhar sobre a miséria existencial [...]. Em ambos os filmes --no curta e no longa-- a rifa conduz esse olhar."

Rifa no enredo

A síntese da divergência é se a rifa tem ou não relevância em "O Céu..." --no qual é citada aos 42 minutos de projeção, quando a moça ("Hermila", rebatizada como "Suely" ao se vender) fala em rifar uma "noite no paraíso". O que acontece antes explica a "promoção" desesperada; o depois se desenrola em torno dela.

Há outras semelhanças entre as duas obras, da chegada da moça à cidade, filmada de modo quase idêntico, ao tempo que parece não passar no sertão --afinal, o diretor e co-roteirista é o mesmo.

Simone Lima soube do episódio da rifa em 1992. O fato ocorreu em Juazeiro do Norte (CE), foi divulgado em um jornal local e virou cordel.

"O primeiro tratamento de "Rifa-me" foi desenvolvido em 1993 num curso de roteiro dado pelo cineasta Orlando Senna", conta. Hoje secretário do Audiovisual, Senna confirma.

Aïnouz reconhece que foi Simone quem lhe falou sobre a rifa. Os dois escreveram juntos o roteiro de "Rifa-me", do qual Maurício Zacharias foi "colaborador do roteiro".

Em "O Céu..." Aïnouz e Zacharias assinam o argumento ("história especialmente preparada para o cinema", segundo o "Aurélio"). É deles o roteiro, com Felipe Bragança.

"O Céu..." foi considerado pelo júri oficial o melhor filme no Festival do Rio de 2006 e conquistou outros prêmios no exterior, como o Prêmio da Crítica no Festival Internacional de Cinema de Salônica, na Grécia.

Créditos

Do curta para o longa, Simone permaneceu nos créditos somente como uma das quatro pessoas a quem Aïnouz dedica o filme e com um "agradecimento especial".

Eles conversaram durante a produção de "O Céu...". Aïnouz a informou sobre a "inclusão da rifa como um dos elementos do longa". "Simone deixou a meu critério a decisão sobre o seu crédito." Ela diz o contrário: reivindicou o nome no argumento ou roteiro original. Afirma não ter intenção de recorrer à Justiça.

De acordo com o diretor, "Rifa-me" praticamente não foi exibido por falta de financiamento para passar o vídeo para película. Tanto o curta como o longa receberam aportes de empresas ou órgãos públicos.

"O tempo foi passando e mergulhei no projeto de "Madame Satã" [2002], meu primeiro longa."

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