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04/01/2007
-
09h11
CÁSSIO STARLING CARLOS
Crítico da Folha de S.Paulo
As imagens do capítulo de estréia da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes" na noite de anteontem vieram devidamente justificar os números titânicos do investimento de cerca de R$ 20 milhões da Globo na produção, mas não só.
A primeira impressão de superespetáculo também saiu da inspiração no filme "Titanic", subitamente transferido para as águas do Norte brasileiro.
Cenas aéreas do barco que atravessa os grandes rios da região rumo ao Acre reproduziram o teor grandioso da tragédia transatlântica reencenada por James Cameron em Hollywood, enquanto só faltou o Coronel Firmino (José de Abreu) gritar "eu sou o rei do mundo". Sob os ares de epopéia, a dramaturgia elementar de Glória Perez pouco deu o ar de sua graça. Pois o monumental ameaçou a todo tempo engolir o melodrama sob as camadas da boa reconstituição de época.
Trata-se claro, de uma impressão de primeiro capítulo, pois o que se espera da autora é que transfira ao drama a função principal de manter o público entretido nas dezenas de episódios que tem pela frente.
Tarefa que Perez apenas esboçou na estréia, desenhando personagens já predeterminados a sofrerem nas mãos do destino ou do amor. Os primeiros foram representados no grupo de retirantes nordestinos que partiram rumo à idéia de paraíso e encontraram na extração da borracha no fim do século 19, no Acre, mais um inferno nas mãos de coronéis exploradores.
O segundo se configurou na figura de Beatriz (Debora Bloch), amante traída por Galvez (José Wilker), que parte do Rio para Manaus e lá o revê nos braços de outra.
Outra subtrama foi conduzida por Delzuite (Giovanna Antonelli), filha do retirante Bastião (Jackson Antunes) e cobiçada por patrões e capatazes e, em breve, pelo filho mais velho do coronel dono do seringal.
A teia do melodrama, que fará a estrutura de núcleos se misturar e sobrepor por meio dos relacionamentos, se desenrolou no esquema previsível do confronto entre ricos ambiciosos e cínicos e pobres ingênuos e entregues à própria sorte. Nessa luta de classes imaginada por Perez, a história fez o que pôde para ajudá-la.
Sob a forma de cartões-postais, a narrativa introduziu os locais centrais da ação (a Manaus e o Rio de Janeiro da época) e transformou o período em não mais que um cenário, no qual se reconstruíram com fausto no "Projacre" o esplendor da vida das madames e a miséria dos explorados, uma encenação de "A Flauta Mágica" no Teatro Amazonas e a luta pela sobrevivência no meio da selva.
Não faltou também o toque paradisíaco de Brasil para acentuar o efeito de espetáculo, com imagens da selva em tomadas que repetem a estética de Jayme Monjardim em "Pantanal". Resta saber se no tom dos próximos capítulos dominará a epopéia com ares políticos sobre a injustiça social ou os romances em ritmo de folhetim.
Ou seja, se Glória Perez desta vez vai se safar da empreitada como um clone de Dias Gomes ou de Janete Clair.
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Crítico da Folha de S.Paulo
As imagens do capítulo de estréia da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes" na noite de anteontem vieram devidamente justificar os números titânicos do investimento de cerca de R$ 20 milhões da Globo na produção, mas não só.
A primeira impressão de superespetáculo também saiu da inspiração no filme "Titanic", subitamente transferido para as águas do Norte brasileiro.
Cenas aéreas do barco que atravessa os grandes rios da região rumo ao Acre reproduziram o teor grandioso da tragédia transatlântica reencenada por James Cameron em Hollywood, enquanto só faltou o Coronel Firmino (José de Abreu) gritar "eu sou o rei do mundo". Sob os ares de epopéia, a dramaturgia elementar de Glória Perez pouco deu o ar de sua graça. Pois o monumental ameaçou a todo tempo engolir o melodrama sob as camadas da boa reconstituição de época.
Trata-se claro, de uma impressão de primeiro capítulo, pois o que se espera da autora é que transfira ao drama a função principal de manter o público entretido nas dezenas de episódios que tem pela frente.
Tarefa que Perez apenas esboçou na estréia, desenhando personagens já predeterminados a sofrerem nas mãos do destino ou do amor. Os primeiros foram representados no grupo de retirantes nordestinos que partiram rumo à idéia de paraíso e encontraram na extração da borracha no fim do século 19, no Acre, mais um inferno nas mãos de coronéis exploradores.
O segundo se configurou na figura de Beatriz (Debora Bloch), amante traída por Galvez (José Wilker), que parte do Rio para Manaus e lá o revê nos braços de outra.
Outra subtrama foi conduzida por Delzuite (Giovanna Antonelli), filha do retirante Bastião (Jackson Antunes) e cobiçada por patrões e capatazes e, em breve, pelo filho mais velho do coronel dono do seringal.
A teia do melodrama, que fará a estrutura de núcleos se misturar e sobrepor por meio dos relacionamentos, se desenrolou no esquema previsível do confronto entre ricos ambiciosos e cínicos e pobres ingênuos e entregues à própria sorte. Nessa luta de classes imaginada por Perez, a história fez o que pôde para ajudá-la.
Sob a forma de cartões-postais, a narrativa introduziu os locais centrais da ação (a Manaus e o Rio de Janeiro da época) e transformou o período em não mais que um cenário, no qual se reconstruíram com fausto no "Projacre" o esplendor da vida das madames e a miséria dos explorados, uma encenação de "A Flauta Mágica" no Teatro Amazonas e a luta pela sobrevivência no meio da selva.
Não faltou também o toque paradisíaco de Brasil para acentuar o efeito de espetáculo, com imagens da selva em tomadas que repetem a estética de Jayme Monjardim em "Pantanal". Resta saber se no tom dos próximos capítulos dominará a epopéia com ares políticos sobre a injustiça social ou os romances em ritmo de folhetim.
Ou seja, se Glória Perez desta vez vai se safar da empreitada como um clone de Dias Gomes ou de Janete Clair.
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