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24/05/2007 - 00h47

Leia entrevista com Gore Verbinski, diretor de "Piratas do Caribe"

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TETÉ RIBEIRO
Especial para a Folha de S.Paulo, em Los Angeles

Amanhã à noite, por volta de 18h, o diretor Gore Verbinski, os roteiristas Ted Elliott e Terry Rosario e seus ajudantes Stuart Beattie e Jay Wolpert têm um encontro marcado no famoso restaurante chinês Mr. Chow, do chef Michael Chow, em Beverly Hills.

Quando acabarem de jantar, devem pedir uma rodada de martínis, fazer um brinde e depois entrar em uma van alugada ("van" é eufemismo para SUVs ou limousines na linguagem politicamente correta de Hollywood) e ir de cinema em cinema conferir a bilheteria e a reação do público. "É uma tradição que nós temos", contou à reportagem da Folha Jerry Bruckheimer, o homem que provavelmente deve pagar a conta do jantar, se é que alguém em Hollywood ainda cobra alguma coisa do überprodutor.

Kiyoshi Ota /Reuters
Gore Verbinski dirigiu os três filmes da franquia "Piratas do Caribe"
Gore Verbinski dirigiu os três filmes da franquia "Piratas do Caribe"
Então, a cada meia hora, uma assistente de Bruckheimer deve ligar para o seu celular dando os números de ingressos vendidos em cada um dos mais de 50 países em que "Piratas do Caribe - No Fim do Mundo" entra em cartaz amanhã. Serão 769 salas só no Brasil, a maior estréia da Disney no país.

Há menos de um ano, em julho de 2006, essa mesma turma estava bem mais nervosa: o segundo filme da série era lançado no meio de uma chuva de críticas negativas e todos eles já tinham se comprometido a trabalhar no terceiro longa.

"No Fim do Mundo" tinha até data de lançamento (25 de maio de 2007) e quase nada mais. No final do filme que o antecede, o capitão Jack Sparrow é engolido pelo mar, sugado pelo navio fantasma do pirata morto-vivo Davy Jones, aquele com cara de polvo e cujo coração é mantido em uma caixa de metal procurada por Deus e todo o mundo. Enquanto Sparrow entra no mundo dos mortos-vivos, outro pirata, o capitão Barbossa (Geoffrey Rush), que havia morrido no primeiro filme, volta para o mundo dos vivos e chega a fim de bagunça. O outro lado do mundo é um tipo de purgatório definitivo, mantido pelo pirata-polvo, e cujos habitantes são conhecidos por terem um destino pior que a morte: eles viram imortais, vivem embaixo d'água e, com o passar do tempo, começam a se transformar em parte do navio de Davy Jones. Antes do capitão Barbossa, ninguém havia voltado desse lugar, que fica depois do fim do mundo (daí o título do filme).

O primeiro filme, "Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra", de 2003, foi um sucesso inesperado e lançou o nome de Johnny Depp, até então mais conhecido como um bom ator com preferência por filmes esquisitos, à constelação de Hollywood. Na época, não era nem uma das maiores apostas dos críticos para aquele verão, mas o boca a boca foi tão forte que meses depois as revistas e os jornais continuavam falando da interpretação icônica de Depp. "Piratas do Caribe 1" rendeu US$ 650 milhões e foi indicado a cinco Oscars, inclusive o de melhor ator para Johnny Depp (que perdeu para Sean Penn por "Sobre Meninos e Lobos").

Divulgação
"Piratas do Caribe - No Fim do Mundo" deve ser sucesso; confira galeria de imagens do filme
"Piratas do Caribe - No Fim do Mundo" deve ser sucesso; confira galeria de imagens do filme
Dois anos depois, o estúdio Disney e Jerry Bruckheimer decidiram que fariam duas, e não só uma, continuações do filme. Mais: fariam os dois longas ao mesmo tempo, já que seria quase impossível juntar aquele elenco duas vezes em dois anos. Mas os roteiristas precisavam criar as duas histórias e decidiram agir como pessoas normais: primeiro escreveram uma, depois a outra. Então, quando "Piratas do Caribe - O Baú da Morte" ficou pronto e começou a ser rodado, eles começaram a escrever "Piratas do Caribe - No Fim do Mundo", sem saber o destino do filme anterior. Mas ousaram mesmo assim, adicionando personagens e criando situações que seriam impossíveis de ser filmadas sem um orçamento monstro como o que foi torrado neste filme.

O final daquele capítulo não podia ser mais feliz: o segundo filme rendeu US$ 1,1 bilhão e quebrou todos os recordes de bilheteria da época (esses mesmos que "Homem-Aranha 3" bateu no começo deste mês). No ano passado, a principal concorrência para "Piratas 2" era "Superman Returns", que decepcionou. Este ano a guerra começou com "Homem-Aranha 3", mas ainda tem "Shrek 3", o quarto filme da série "Duro de Matar", o terceiro "Rush Hour", "Treze Homens e Mais um Segredo"...

O diretor dos três filmes da série "Piratas do Caribe", Gore Verbinski, diz que não se sente ameaçado pela concorrência. "Filmes bons fazem o público se lembrar de como é gostoso ir ao cinema", afirmou em entrevista exclusiva à Folha, em Los Angeles, na semana passada.

Folha - O produtor do filme anunciou que esse é o último "Piratas do Caribe". É verdade mesmo? O final do filme dá a entender que a história continua...

Gore Verbinski - Nós não temos nenhum plano, não tem ninguém trabalhando em um próximo projeto. A possibilidade pode existir na imaginação da audiência, mas a idéia sempre foi fazer esses dois filmes e então encerrar a trilogia.

Folha - Se o filme romper recordes de bilheteria e for irresistível para os produtores a idéia de fazer mais seqüências, você consideraria dirigir o próximo?

Verbinski - Depende, o Jerry Bruckheimer pode ser muito persuasivo quando quer você em um projeto. Mas não será o meu próximo filme, com certeza. E também não vou mergulhar em um próximo projeto tão cedo. Foram cinco anos de "Piratas do Caribe", preciso de férias.

Divulgação
Longa-metragem é protagonizado pelo ator Johnny Depp; ele vive o capitão Jack Sparrow
Longa-metragem é protagonizado pelo ator Johnny Depp; ele vive o capitão Jack Sparrow
Folha - Por falar nele, te incomoda o fato de que o mundo inteiro associa o filme à imagem de Johnny Depp e ao nome de Jerry Bruckheimer e pouca gente lembra que você é o diretor por trás dos três filmes?

Verbinski - Não, o Jerry é tão conhecido porque tem uma obra por trás, é um produtor único em Hollywood hoje em dia, é o tipo de produtor que existia em Hollywood 30 anos atrás. E tem várias séries de TV de sucesso no ar, montes de filmes que quebraram recordes de bilheteria. E gosta muito mais de aparecer do que eu.

Folha - Mas o filme é seu ou dele?

Verbinski - É meu, claro que é meu, mas eu não poderia ter feito sem a ajuda dele. Ele é muito bom para botar as pessoas no mesmo projeto, mas não interfere no trabalho de ninguém.

Folha - Você tem apenas oito filmes no currículo, sendo que três deles fazem parte da trilogia de "Piratas", além da primeira adaptação de "O Chamado", que também foi um grande sucesso mundial. Você diria que tem um faro especial para blockbusters?

Verbinski - Eu? Imagina! Ninguém viu o filme que fiz em 2005, chamado "O Sol de Cada Manhã".

Folha - Eu vi.

Verbinski - Finalmente alguém (risos). Vou ligar para o Nicolas (Cage, protagonista do filme) e contar pra ele.

Folha - Mas por que fez tão poucos filmes?

Verbinski - Acho que eu me envolvo muito em todos os processos de um filme, então nunca conseguiria supervisionar a pré-produção de dois filmes ao mesmo tempo, ou começar uma pré-produção enquanto faço a pós-produção de um outro projeto. E também só me comprometo com um projeto quando acredito nele, não aceito todas as propostas que recebo, não trabalho só para passar o tempo.

Folha - É muito exigente?

Verbinski - Acho que tenho muito medo de ser ordinário, isso sim. Na minha vida pessoal faço questão que seja tudo muito ordinário, levo uma vida pacata e não sou nada excêntrico, mas gosto de pensar que meu trabalho não é ordinário.

Folha - Esse filme tem locações incríveis e parece que em algumas delas a produção sofreu muito, não?

Divulgação
Filme de Gore Verbinski estará nesta sexta-feira nas salas de cinema brasileiras
Filme de Gore Verbinski estará nesta sexta-feira nas salas de cinema brasileiras
Verbinski - Eu gosto de escolher locações, faço muita pesquisa, aí mando uma equipe de produção, que em geral volta com fotos tiradas dos lugares mais óbvios, como da praia olhando em direção ao mar ou de uma estrada olhando em direção a uma montanha. Então vejo as fotos, decido quais os lugares que mais me inspiram e vou até eles sozinho ou com um câmera, só para olhar em volta, ver o que o lugar tem para oferecer. Às vezes alugo um barco, tiro a camisa e mergulho no mar, aí vou nadando até a praia. E no meio do caminho penso numa cena que seria perfeita para aquele lugar, aí volto e tenho que pensar em como levar toda a equipe de filmagem para um lugar que eu vi de dentro da água. Fora que alguns desses lugares não têm quartos de hotel para todo mundo. Em Dominica, por exemplo, tivemos que ficar hospedados na casa dos pescadores. O que foi maravilhoso. No fim do dia eles diziam qual era o melhor peixe que tinham pescado e a gente pedia que eles fizessem um prato típico para toda a produção.

Folha - O Johnny Depp ficou hospedado na casa de um pescador? O Keith Richards também?

Verbinski - Não, não dá para fazer isso com os atores, eles precisam de mais atenção, digamos (risos). Os atores quase nunca aceitam as condições que o resto da equipe aceita, e eu sempre fico junto com a equipe. Acho importante que os câmeras, maquiadores, figurinistas etc. vejam o diretor na mesma situação que eles. Não sou uma estrela de cinema, sou um trabalhador como outro qualquer, só tenho um trabalho com mais exigências.

Folha - E quais foram os momentos mais problemáticos dos bastidores desse filme?

Verbinski - Tivemos vários problemas de logística e outros da natureza. Tivemos que evacuar uma locação nas Bahamas por causa de um furacão que destruiu o cenário, mas isso foi no começo do segundo filme. Nesse, chegamos a uma locação também nas Bahamas e o governo local tinha feito um acordo com a Disney para construir um tanque enorme, onde estariam os dois navios principais, o do capitão Jack Sparrow e o do Davy Jones. Quando a gente chegou, no dia marcado, depois das filmagens em Saint Vincent e Dominica, eles nem tinham começado a construção, que demorou seis semanas. Esses foram os grandes dramas, mas muitos outros menores também aconteceram, como vários dias de chuva seguidos em que a gente tinha se organizado para fazer filmagens a céu aberto. É difícil quando você está em um ritmo alucinado como o desse filme, que tinha data de estréia anunciada antes de ter uma linha no roteiro.

Folha - E o Keith Richards, foi um problema?

Verbinski - Não chegou a ser um problema, mas ele não se comportou nada bem. A gente já esperava por isso e se divertia com tudo, mas eu não esperava que ele fosse tão dispersivo. O maior problema é que ele não fica parado nenhum minuto, então a gente ensaiava a cena, fazia as marcas e, quando eu dizia ação, um segundo depois, ele estava em um lugar completamente diferente, brincando com o macaco, mexendo nos objetos de cena ou cheirando uma planta exótica. Ele é um pirata de verdade, assim que ele chegou à locação, deu pra perceber que o resto dos atores todos estavam fingindo, ele não.

Folha - Como assim, não se comportou nada bem?

Verbinski - Não quero ser específico, mas ele fez jus à imagem que tem. Use sua imaginação (risos).

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