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10/10/2006 - 10h14

Bomba muda o mapa estratégico da Ásia

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JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Um jornal australiano partiu para o humor negro e saiu hoje com o seguinte título de editorial: "Se a Coréia do Norte explodiu sua primeira bomba atômica, por que não poderíamos agora fazer o mesmo?"

A proposta é absurda. Mas reflete a reviravolta diplomática e militar entre os países do Pacífico depois do primeiro teste nuclear de Pyongyang.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, declarou ontem em Seul, depois de audiência com o presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun, que a má notícia "transformará de modo evidente as questões de segurança ao norte da Ásia".

A vulnerabilidade japonesa é singular. Em 1998 o país se assustou com um míssil norte-coreano Taepodong-2 que sobrevoou seu território.

Especialista da Agência Internacional de Energia Atômica disse à Associated Press que a nova potência nuclear não tem como miniaturizar o artefato explosivo para colocá-lo na ponta de um foguete. Mas é uma questão de tempo.

O premiê Shinzo Abe quer reformar a Constituição do pós-Guerra para dotar o Japão de Forças Armadas de verdade. A ameaça norte-coreana deverá ajudá-lo. Mas prevalece no Japão um consenso antibélico, diz o "New York Times". A bomba atômica japonesa só é defendida pela extrema-direita, numericamente marginal. A memória nacional traz o peso de Hiroxima e Nagasaki.

Tóquio e Washington já têm um acordo pelo qual os americanos protegeriam o aliado asiático com uma virtual cortina de mísseis. Foi pensando nela e em outras iniciativas que o premiê Abe e o presidente George W. Bush, em telefonema, evocaram o fortalecimento da aliança bilateral.

Nesse tablado, no entanto, não interessa à Coréia do Sul o fortalecimento militar do Japão. Com a Coréia do Norte na vizinhança, os sul-coreanos tendem a se remilitarizar, como o fizeram, com ajuda americana, nos primeiros anos da Guerra Fria.

Há 24 bases americanas na Coréia do Sul, com 29 mil homens. Eles eram até agora uma força auxiliar de segurança. Passam a ser "reféns" em caso de agressão nuclear norte-coreana. Se atingir essas bases, Pyongyang estará atingindo os Estados Unidos. Seria um ato tresloucado de suicídio.

Quanto à China, ela é a única fornecedora de alimentos e petróleo a uma Coréia do Norte em que a fome já matou milhões e que ainda atravessa uma série crise energética. A diplomacia chinesa qualificou a nova bomba de "atrevida".

Pequim lançou seguidos apelos a Pyongyang para que não fizesse o teste nuclear. Com a explosão "ocorreu o nosso maior fracasso diplomático desde 1949", ano de criação da República Popular da China. Foi o que disse ao "Financial Times" Zhang Liankui, professor, em Pequim, da Escola Central do Partido Comunista.

Os chineses estão possessos, mas presos a uma lógica pela qual não interessa o colapso do regime norte-coreano (com ou sem bomba) e a subseqüente reunificação da península sob controle do Sul pró-ocidental.

A China se aliou ontem aos Estados Unidos no Conselho de Segurança para ensaiar uma reação diplomaticamente enérgica. Mas não quer que o pequeno aliado seja empurrado a um isolamento maior, com, por exemplo, o embargo sobre suas importações de petróleo e fertilizantes. O isolamento, acredita, o tornaria mais imprevisível e perigoso.

A Rússia, com amplo litoral no Pacífico, também reagiu. E reagiu mal. Tem um temor: o de que, prensada por um novo embargo, a Coréia do Norte procure recursos no mercado negro de componentes nucleares, concorrendo com os paquistaneses que certamente a ajudaram a chegar à bomba.

Diante de tudo isso, "o teste nuclear norte-coreano modifica o equilíbrio de poder na Ásia", disse à Associated Press Mark Fitzpatrick, ex-subsecretário de Estado para a não-proliferação e hoje pesquisador, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

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