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15/10/2006 - 10h01

Forças Armadas dominam política e economia no Equador

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FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S.Paulo, em Quito

A intervenção política das Forças Armadas do Equador durante a derrocada dos últimos três presidentes eleitos não é a única característica que as diferencia dos demais Exércitos da região: ao longo das últimas décadas, os militares equatorianos construíram um imenso império capitalista, que inclui a principal empresa área do país, uma montadora de veículos da GM, fábricas de vestuário, um banco e até o luxuoso hotel JW Marriott.

A chamada holding Dine (Direção de Indústrias do Exército) foi criada em 1973, como parte de um programa de substituição de importações de materiais utilizados pelas Forças Armadas, como uniformes militares e material bélico.

"Aos poucos, os militares começaram a copiar os grandes grupos econômicos equatorianos, que têm uma carteira de investimentos muito variada", afirma o politólogo Pablo Andrade, da Universidade Andina Simon Bolivar.

Atualmente, a holding administra diretamente 11 empresas e tem cerca de 2.700 empregados, muitos deles militares aposentados. "Aqui se diz que os oficiais mais inteligentes não chegam a general: se aposentam como coronéis, quando ainda são jovens e têm várias opções de carreira no setor privado", afirma Andrade.

O turismo é uma das principais atividades da Dine. Além de possuir ou ser sócia de vários hotéis luxuosos, é a dona da empresa aérea Tame.
Neste ano, as Forças Armadas iniciaram um programa de restruturação da holding, com o objetivo de diminuir o número de empresas, ficando apenas com as mais rentáveis.

O analista afirma que a incursão econômica militar era justificada ainda como uma estratégia militar contra o Peru, considerado a principal ameaça até meados dos anos 1990.

Como exemplo, Andrade cita uma empresa de criação de camarões em lagoas situadas na fronteira com o Peru. A justificativa era que o aparato impediria o avanço de carros anfíbios do Exército inimigo.

No ano passado, a Dine voltou a evocar a segurança nacional quando tentou explorar dois poços de petróleo na região de fronteira com a Colômbia, mas a concessão foi negada pela estatal Petroecuador.

Poder político

De acordo com a socióloga argentina Rut Diamint, da Universidade Torcuato Di Tella, o poderio econômico dos militares equatorianos lhes dá poder para "competir com o Estado" e é injusto do ponto de vista empresarial.

"Ao contrário de países desenvolvidos, onde o setor privado compete na indústria de defesa, provocando maior transparência e exigindo uma supervisão, os militares no Equador organizaram uma holding que tem o monopólio não apenas do poder mas também na economia", escreve Diamint, em artigo. "Como empreendedores, os militares equatorianos estão isentos de impostos e fazem uso das instituições públicas para assegurar isso."

Assim como o poder econômico, o poder político dos militares também não pára de crescer. Os analistas equatorianos concordam que é praticamente impossível se manter no poder sem o apoio das Forças Armadas, que tiveram participação decisiva no afastamento dos últimos três presidentes eleitos e são consideradas os "árbitros" da crise política equatoriana.

Para o analista José Hernández, a política equatoriana vive uma "tutelagem militar", embora ele a veja como fruto da incapacidade dos políticos para governar, "e não uma atitude golpista das Forças Armadas".

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