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04/12/2006 - 09h30

Exército se mobiliza em Beirute após conflitos com manifestantes

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da Folha Online

O Exército libanês estava fortemente mobilizado em Beirute na manhã desta segunda-feira, sobretudo no bairro de Kaskas, um dia depois dos enfrentamentos entre partidários da oposição e do governo que deixaram um morto e 12 feridos, segundo o balanço de um hospital local.

Cerca de 30 veículos blindados controlavam o acesso ao bairro de Kaskas, situado no sul de Beirute, a três km do centro, onde seguem acampados pelo quarto dia consecutivo os partidários da oposição dirigidos pelo Hizbollah xiita. Eles estão a 150 metros da sede do governo, na qual o primeiro-ministro Fouad Siniora e vários ministros permanecem.

Segundo a polícia, os enfrentamentos foram provocados por um ataque a pedradas contra um comboio do Hizbollah que voltava de um comício organizado pela oposição no centro da cidade.

A TV Al Mostaqbal, órgão da Corrente do Futuro, o partido do chefe da maioria parlamentar, Saad Hariri, informou que o Exército deteve três "provocadores" sírios que lançavam pedras contra o comboio do Hizbollah de uma ponte sobre uma estrada que leva ao aeroporto.

Foram ouvidos vários disparos e um jovem libanês de 20 anos, Ali Ahmed Mahmud, que voltava de uma manifestação no centro da cidade, foi morto. Trata-se da primeira vítima desde o início do movimento de protesto na sexta-feira.

Após a morte

O Hizbollah não reagiu e Saad Hariri usou a televisão para pedir moderação e calma a seus partidários. Hariri pediu que eles "não respondam às provocações" e colaborem com o Exército.
Desde sexta-feira, cerca de 20 mil homens do Exército e da polícia, segundo números do Ministério do Interior, estão mobilizados para manter a ordem em Beirute.

No centro da cidade, o movimento de protesto foi mais intenso, e o número de barracas levantadas pelo Hizbollah e seus aliados quase triplicou --foram de uma centena a quase 300 em 48 horas. Cerca de 100.000 pessoas se uniram no domingo aos que acampam para protestar contra o governo.

Os manifestantes controlam um dos acessos à colina do Grand Serail, sede do governo onde estão o chefe do governo, Fouad Siniora, e um bom número de seus ministros.

Os outros acessos são controlados pelo Exército, permitindo uma livre atividade na sede de governo, cenário de uma intensa atividade diplomática com as visitas nas últimas horas dos chefes da diplomacia britânica e alemã e do secretário-geral da Liga Árabe.

Crise no Líbano

A oposição libanesa --liderada pelo Hizbollah-- é apoiada pela Síria e também pelo Irã, enquanto o governo de Siniora, de maioria anti-síria e que está no poder desde 2005, é considerado pró-ocidental. Recentemente, após o assassinato do ministro da Indústria Pierre Gemayel (que apoiava Siniora), o presidente dos EUA, George W. Bush, declarou seu apoio público ao governo do premiê.

Os partidários do líder da oposição cristã, Michel Aoun, aliado do Hizbollah, também participam das manifestações. Os protestos contra o governo já são esperados há semanas, mas a morte de Gemayel e o conseqüente luto do país adiaram o início do movimento pela queda do premiê.

Na última quinta-feira (30), Siniora afirmou que o governo não cederá às tentativas de restabelecer a "tutela" estrangeira sobre o Líbano. Ele afirmou que só saíra se assim for decidido em uma votação do Parlamento.

Espiral de conflitos

Pierre Gemayel sofreu um atentado quando um grupo de homens armados abriu fogo contra o comboio que o levava no bairro cristão de Sin el Fil. Ele foi levado às pressas para um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 21 de novembro.

O ministro é o sexto político anti-Síria assassinado nos últimos dois anos. A morte, que foi condenada pela comunidade internacional, acirrou ainda mais a tensão entre a maioria anti-Síria e a oposição que apóia Damasco. Após o anúncio do assassinato, Siniora foi à TV libanesa para afirmar que seu governo não seria abalado pela violência.

No entanto, o governo de Siniora já enfrenta uma grave crise. Além dos protestos nas ruas, a morte do ministro deixa o gabinete de governo à beira do abismo. Como um ministro sunita já havia renunciado em fevereiro e outros seis ministros xiitas pró-Síria renunciaram no último mês, sem Gemayel, Siniora sobrevive a apenas um ministro de "distância" de uma queda automática --no Líbano, a saída de nove ministros derruba o governo.

Xiitas

Os ministros xiitas renunciaram após o fracasso de negociações nas quais pediam maior poder político ao grupo. Atualmente, apesar da enorme população xiita do país (que é a maior comunidade religiosa do Líbano), este grupo não está representado no governo, e o Hizbollah afirma que Siniora não tem mais legitimidade para governar.

Enquanto o governo luta contra a crise interna, externamente as relações libanesas também se tornam cada vez mais tensas. Os aliados políticos do primeiro-ministro --a chamada coalizão do 14 de março-- culpou a Síria pelo assassinato de Gemayel. A coalizão é formada por políticos pró-ocidentais sunitas, drusos e cristãos.

Os EUA sugeriram, em um comunicado, que o assassinato foi planejado pela Síria, em um plano com o Irã para desestabilizar o Líbano. A Síria nega.

A Casa Branca investiu pesadamente na sobrevivência do governo de Siniora, em uma tentativa de minar a influência iraniana na região.

Além disso, a aprovação pela ONU de um tribunal internacional para julgar os acusados pelo assassinato do ex-premiê libanês Rafik al Hariri, morto em um atentado em 2005, gera protestos no país. O Hizbollah e os xiitas se recusam a aceitar o tribunal, que acusam de ser um instrumento de pressão contra eles e seu principal aliado --a Síria.

Especialistas afirmam que é hoje real o risco de uma nova guerra civil no Líbano. Segundo o doutor em direito internacional pela USP (Universidade de São Paulo) Salem Nasser, 37, uma eventual queda de Siniora não deverá ser decisiva para o destino da frágil paz do país. "A ocorrência de uma guerra civil é possível, com ou sem a queda do governo".

Nasser cita, no entanto, que ainda é possível ter algum "otimismo" a respeito do risco de um novo conflito porque os libaneses "estão cansados de guerra."

Com agências internacionais

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