31/12/2006 - 08h59

Saddam é enterrado e novas imagens mostram confusão na execução

da Folha Online

Saddam Hussein, o líder que comandou o Iraque durante quase três décadas antes de ser derrubado por forças dos Estados Unidos em 2003, foi enterrado na madrugada deste domingo em sua cidade natal, no norte do Iraque. Na internet, novas imagens divulgadas do enforcamento de Saddam alimentam as suspeitas de que sua condenação e execução foram uma "justiça dos vitoriosos", imposta por antigos inimigos do ditador.

Ele recebeu um funeral, e seu corpo foi lavado e coberto de branco de acordo com rituais muçulmanos por um pequeno grupo de homens de sua tribo.

Uma fonte próxima a líderes sunitas locais, que participou do funeral, disse que os procedimentos incluíram uma cerimônia lotada em uma mesquita construída pelo ditador em 1980 em Tikrit.

Cerimônia religiosa

O corpo de Saddam chegou na cidade em um helicóptero do Exército dos Estados Unidos. Depois da cerimônia em Tikrit, o corpo foi levado para a comunidade de Awja, onde foi enterrado depois da cerimônia religiosa por líderes tribais e oficiais locais que participaram ativamente da ascensão do ditador ao poder.

AP

Saddam Hussein é levado para a forca por guardas iraquianos em Bagdá

Saddam foi enterrado em um cemitério de sua família, ao lado dos filhos Uday e Qusay, mortos pelas forças americanas em 2003. Segundo testemunhas, o funeral durou cerca de 25 minutos e começou às 3h05 deste domingo (22h05 de sábado em Brasília)

A TV local do Iraque mostrou imagens do caixão do ditador enrolado em uma bandeira do Iraque e das orações feitas durante a cerimônia.

Um tipo diferente de imagem também foi divulgado hoje, uma nova filmagem mostrando declarações de Saddam antes da execução e a provocação dos guardas ao ditador durante os procedimentos. O novo vídeo apareceu na internet menos de 24 horas depois do enforcamento, que foi realizada às 6h deste sábado em Bagdá (1h pelo horário de Brasília).

Slogans políticos

As novas imagens de vídeo, que aparentemente foram feitas pelo aparelho celular de um dos presentes na execução, mostram que o ditador --que havia aparecido calmo e composto na filmagem oficial divulgada na TV iraquiana --gritou protestos e slogans políticos quando guardas em máscaras de esqui o levavam para a câmara de execução.

Em um momento, sua voz aparece gritando "Moqtada, Moqtada, Moqtada" --uma provável referência ao clérigo radical xiita Moqtada al Sadr, líder do exército Mahdi e um dos mais influentes líderes políticos do Iraque pós-Saddam.

O vídeo foi divulgado também pela rede de TV americana CNN, que editou o momento em que Saddam é enforcado. As cenas mostram os guardas e testemunhas gritando contra o ditador e afirmando a lealdade a Moqtada al Sadr.

Em um momento, um dos oficiais tenta (sem sucesso) calar os carrascos: "Eu imploro, o homem está sendo executado".

Segundo uma testemunha citada pelo jornal americano "The New York Times" (NYT), um dos guardas gritou contra Saddam pouco antes do enforcamento, dizendo "você nos destruiu, nos matou, nos fez viver na pobreza". Saddam, de acordo com a testemunha, respondeu: "Eu salvei vocês da pobreza e da miséria e destruí seus inimigos, os persas e os americanos".

As imagens foram cortadas do vídeo oficial divulgado no Iraque.

Mártir

Neste sábado, uma grande especulação antecedeu a decisão sobre o destino dos restos mortais de Saddam Hussein. Iraque e Estados Unidos mantiveram a decisão em segredo durante do dia,

Os dois países temiam que, uma vez divulgada a localização do corpo de Saddam, ele poderá ser transformado em mártir, cuja morte será cercada não só de homenagens mas também de violência.

Entre as alternativas discutidas, estavam o envio do corpo para a Jordânia, onde vivem duas filhas do ditador; o enterro em um local secreto que jamais seria revelado ao público; o enterro em um local temporariamente secreto e a recuperação, após algum tempo, do corpo para ser enviado à família; ou o envio imediato do corpo para sua cidade natal, Tikrit, para ser enterrado ali. A última opção foi adotada.

Os temores de violência não foram injustificados. Ontem, mais de 70 iraquianos morreram em explosões de carros-bomba em vários pontos do Iraque.

Saddam

Saddam Hussein foi enforcado por volta de 1h deste sábado (horário de Brasília), em Bagdá, em cumprimento à execução imposta pela morte de 148 xiitas em 1982. Ele governou o Iraque de 1979 a 2003, quando caiu após invasão de tropas norte-americanas no país. Conseguiu fugir, mas foi capturado em dezembro daquele ano e, desde então, respondia a processos por genocídio.

Saddam foi acusado por americanos de desenvolver e armazenar armas de destruição em massa, fato que nunca ficou comprovado.

Analistas e autoridades internacionais questionaram a legitimidade e os métodos do julgamento de Saddam. No Brasil, o Itamaraty criticou a pena de morte imposta.

A imprensa internacional dedicou grandes manchetes para a execução do ditador, que despertou críticas tanto ao regime no Iraque quanto à invasão americana que detonou a guerra no país.

A morte de Saddam despertou também reações em líderes de todo o mundo. Enquanto alguns comemoram a execução, outros a condenaram em meio a protestos contra a pena de morte.

Com Reuters

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