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11/01/2007 - 08h44

Iraquianos reagem com ceticismo a nova estratégia de Bush

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da Folha Online

O governo iraquiano aprovou a nova estratégia para o conflito no país, anunciada na noite desta quarta-feira pelo presidente americano George W. Bush, e prometeu se comprometer para que ela seja bem-sucedida.

No entanto, muitos iraquianos expressaram ceticismo em relação ao plano, que prevê aumento das tropas para conter a violência sectária no país.

Um legislador sunita também rejeitou a proposta de Bush de enviar mais soldados ao Iraque, em vez de estabelecer um cronograma para a retirada das tropas e a negociação direta com os insurgentes.

"O plano de Bush pode ser a última tentativa para resolver o caos após a invasão. No entanto, enviar mais tropas não dará fim ao problema", disse o legislador sunita Hussein al Falluji.

AP
O presidente americano, George W. Bush, anunciou ontem sua nova estratégia para o Iraque
O presidente americano, George W. Bush, que anunciou ontem nova estratégia para o Iraque
Em um pronunciamento de 20 minutos na noite desta quarta-feira na Casa Branca, Bush afirmou que o fracasso no Iraque terá "conseqüências desastrosas para os Estados Unidos", e que para evitá-lo será necessário enviar 20 mil soldados adicionais ao país árabe.

Dos 21.500 soldados que serão enviados ao Iraque, 17.500 irão para Bagdá e 4.000 para a Província de Al Anbar. O envio das tropas será gradual. Três brigadas adicionais de soldados iraquianos também serão enviadas a Bagdá, e o comando militar na capital será revisado. A força extra no Iraque custará mais US$ 5,6 bilhões para os EUA.

Além do envio de soldados, o plano também fixa um prazo até novembro deste ano para que os iraquianos assumam o controle da segurança das suas 18 Províncias.

No momento, os EUA mantêm 132 mil soldados no Iraque. As forças iraquianas só controlam três Províncias.

O governo iraquiano defendeu a nova estratégia. "O fracasso no Iraque não afetará apenas nosso país, como também toda a região e o mundo, incluindo os Estados Unidos", afirmou Sadiq al Rikabi, assessor do premiê iraquiano, Nouri al Maliki.

"A atual situação não é aceitável, não apenas para os EUA como também para os iraquianos e para seu governo. Como iraquianos, e como um governo democraticamente eleito, nós aprovamos o plano americano e estamos comprometidos com seu sucesso", acrescentou.

Al Rikabi ressaltou ainda a importância de que o Iraque assuma a liderança em ações militares.

"O plano americano não terá sucesso sem nós [iraquianos], porque trabalhamos lado a lado para conter a violência, derrotar o terrorismo e manter um sistema democrático", afirmou.

Ceticismo

No entanto, iraquianos que vivem em Bagdá de ambas as facções --sunita e xiita-- demonstraram ceticismo em relação à nova estratégia.

O sunita Osama Ahmed, 50, que trabalha no Ministério de Educação, afirmou que acordou cedo para assistir ao pronunciamento de Bush --que foi veiculado na TV às 5h (0h de Brasília).

"Mais tropas significarão mais sangue e mais pessoas mortas. A violência continuará se os EUA não detiverem a ação das milícias xiitas, que são acobertadas pelo governo", acusou.

Já o comerciante xiita Abdel Karim Jassim, 44, disse esperar que Bush faça algo além de enviar mais soldados. "Simplesmente enviar mais homens não resolverá o problema", disse ele.

Segundo o professor universitário Hafidh Issam, 49, os EUA cometeram "muitos erros" no Iraque e contribuíram para o caos para defender "seus próprios interesses no Oriente Médio".

"Eles construíram uma base fixa no Iraque para ameaçar países vizinhos, principalmente o Irã e países da região do golfo Pérsico", diz Issam.

O técnico Awad Mukhtar, 35, diz acreditar que a proposta de Bush pode ser a "última chance" para a paz no Iraque. "A situação da segurança é muito grave, há um grande número de mortes todos os dias", afirmou. "Vejo essa estratégia como a última chance para os iraquianos salvarem suas próprias vidas. Não temos outra opção, vamos esperar o resultado do plano".

Discurso

Em seu discurso, Bush apresentou o conflito no Iraque como "a luta ideológica definitiva de nossa época". "A longo prazo, a forma mais realista de proteger os americanos é prover uma alternativa para a ideologia do ódio do inimigo, por meio do avanço da liberdade em uma região problemática. Nossa luta no Iraque é nobre e necessária."

"As forças dos EUA estão engajadas em uma luta contra o terror para levar segurança para a América", disse Bush na abertura do discurso de hoje. Com o aumento das tropas, disse Bush, "teremos o pessoal necessário para alcançar a segurança no país". "Eles [os terroristas] querem destruir nosso estilo de vida", completou.

O presidente lembrou o público da violência do último ano no Iraque, assim como também do ataque contra as torres gêmeas em 11 de setembro de 2001. "O atentado [do 11/9] nos mostrou o que pode acontecer quando o ódio de pessoas do outro lado do mundo se volta contra nós".

Bush afirmou ainda que a implementação da nova estratégia permitirá a transferência do controle de todas as Províncias do Iraque para os iraquianos até novembro de 2007. "Podemos e vamos vencer".

O pronunciamento foi feito de Washington às 21h locais (24h de Brasília).

Oposição democrata

Os novos líderes democratas do Congresso se encontraram com Bush antes de seu discurso de ontem e reclamaram que sua oposição ao envio de mais tropas foi ignorada. "Esta é a terceira vez que escolhemos este caminho. Nas duas vezes anteriores, não funcionou", alertou a líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi. "Porque estamos fazendo isso agora? A pergunta permanece", disse Pelosi.

Os legisladores democratas estão tentando organizar, tanto na Câmara quanto no Senado, votos para pedir ao presidente que não envie mais tropas ao Iraque. Apesar de não ter força legal, os votos obrigarão os republicanos a optar entre retirar o apoio ao presidente ou apoiar o envio de americanos à guerra. Até o momento, vário republicanos já expressaram simpatia pela medida democrata.

A guerra já custou aos EUA, além do desgastes, mais de US$ 400 bilhões. O bloqueio de mais verba é mais um trunfo que está sendo estudado pelos democratas no Congresso para barrar o aumento das tropas no Iraque.

Com agências internacionais

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